27 de dezembro de 2013

Tricky Brains (Trapaceiro Profissional/1991)

TBrains Uma das bizarrices (e engraçadas) de Wong Jing: parodiar uma ópera de Pequim.

Koo é um profissional na arte da trapaça. Seu ganha pão é enganar as pessoas. Ele é contratado pelo invejo Macky, que quer se livrar do seu colega de trabalho Kit. Ambos são rivais e disputam pela atenção da filha do dono da empresa. Koo arquiteta um engenhoso plano para dar um fim em Kit através de meios poucos ortodoxos. Para isso ele finge ser Jing, irmão bastardo de Kit.

Ng Man-Tat é Yan, pai de Kit e de seu suposto filho Jing. A parceria entre Ng Man-Tat e Stephen Chow é diversão na certa. Porém, Andy Lau surpreende ao compor um personagem sério e introvertido. Apesar da atuação ser nada especial, o seu Kit e Koo formam uma dupla divertida que se contrastam em personalidades. O segundo é o fanfarrão arrogante que Chow faz com maestria.

O trio tenta viver uma família “normal”. Porém o objetivo de Koo é atazanar a vida do correto Kit, atrapalhando seu namoro com Lucy, a filha do presidente da empresa onde trabalha. Algumas situações são tão absurdas que conseguem ser bem engraçadas, pena que não é regra. O grande ponto fraco do filme acaba sendo a direção. Wong Jing transforma o filme em uma coletânea de gags sem muito nexo. Algumas são engraçadas como a cena inicial onde Koo deixa um cliente completamente maluco. E algumas de mal gosto como uma que envolve AIDS.

O nível das piadas diminuem muito ao longo do filme, o que infelizmente se resulta do esgotamento da criatividade dos roteirista. A parte final é totalmente sustentado pela atuação de Chow. Infelizmente, o que começou como sendo um filme sensacional termina como sendo mediano.

Tricky Brains é um bom filme de Stephen Chow apesar do filme se escorar em demasia no talento dele. Diversas vezes o filme é obrigado a quebrar o ritmo para se focar na história do filme, o que demonstra as claras limitações de Wong Jing como cineasta. Sua presença como ator também não eleva o filme. No entanto, nunca é demais ver a genial parceria entre Stephen Chow e Ng Man-Tat.

Hong Kong feelings: 3,5/5

Título Original: 整蠱專家 (Jing gu jyun ga)

Diretor: Wong Jing

Elenco: Stephen Chow Sing-Chi, Andy Lau Tak-Wah, Ng Man-Tat, Rosamund Kwan Chi-Lam, Chingmy Yau Suk-Ching, Waise Lee Chi-Hung, Wong Jing, Shing Fui-On, John Ching Tung,Charlie Cho Cha-Lei

11 de outubro de 2013

The Big Heat (Esquadrão de Elite/1988)

bigheat Waise Lee (esq.) e Philip Kwok (dir.)

O policial Wong Wai Pong sofre danos no nervo da mão direita, que o impede de atirar em momentos cruciais. O inspetor está prestes a assinar sua carta de demissão e dedicar mais tempo a sua noiva Maggie. Porém quando ele descobre que seu amigo e parceiro foi morto na Malásia, Wong não descansará enquanto não encontrar o responsável.

A produção extremamente conturbada acabou afetando a qualidade do filme. Andrew Kam era o diretor principal de The Big Heat, porém Tsui Hark considerou o trabalho dele insatisfatório. O produtor trouxe Johnnie To para consertar o filme, porém o último também abandonou a barca, ou foi chutado dela. Por fim Tsui Hark terminou o filme por conta própria refilmando diversas cenas. Por conta disso o filme é insípido, inexpressivo e banal.

A primeira metade do filme é chato, com os diretores falhando em desenvolver os personagens em cima do drama do Inspetor Wong. The Big Heat jamais consegue ser emocionalmente engajante, por mais que tente emular A Better Tomorrow. Culpa disso é do ator escalado para o papel principal. Waise Lee como Inspetor Wong é completamente apático. Philip Kwok como ator é medíocre, já como diretor de ação mostra mais talento. Inclusive em seu currículo é creditado como um dos diretores de ação do filme “007: O Amanhã Nunca Morre”.

O filme parece engrenar na segunda metade, porém inexplicavelmente tem um ritmo arrastado mesmo com mais cenas de ação. O destaque fica para a cena de tiroteio no hospital que remete a Hard Boiled. O final deveria ser uma carnificina, mas é esquecível. O que salva a produção são esses momentos de ação ultraviolentas, pendendo para o grotesco de tão exageradas. Pena que são poucas.

Hong Kong feelings: 2,5/5

Título Original: 城市特警 (Seng fat dak ging)

Diretor: Johnnie To Kei-Fung e Andrew Kam Yeung-Wah

Elenco: Waise Lee Chi-Hung, Joey Wong Cho-Yin, Philip Kwok Chun-Fung, Matthew Wong Hin-Mung, Paul Chu Kong,Michael Chow Man-Kin

8 de outubro de 2013

Punished (Hora da Vingança/2011)

punished Chor (esq.) e Chiu (dir.) tentam encontrar Daisy a qualquer custo

Wong Ho-Chiu é um magnata de Hong Kong que tem uma relação conturbada com sua filha, uma usuária de drogas. Eventualmente ela é sequestrada, porém o pai suspeita que a filha armou o próprio sequestro para conseguir dinheiro para financiar o seu vício. Com a ajuda do leal guarda-costa Chor, Wong tentará descobrir os responsáveis pelo sequestro.

Punished chama a atenção por ser produzido pela Milkaway, produtora do lendário diretor Johnnie To, e pela presença do genial Anthony Wong no papel principal. Porém, mesmo com pessoas renomadas envolvidas no filme, Punished falha em todos os aspectos.

A começar pela história. Mais genérico do que isso impossível. Para contornar essa limitação era de se esperar personagens interessantes e uma narrativa no melhor estilo de PTU. Porém temos personagens problemáticos e uma narrativa desinteressante. Wong Ho-Chiu (Anthony Wong) é o pai ausente que se preocupa mais com os negócios que com o vício da filha Daisy (Janice Man). Já ela é tão mimada e irremediável que é difícil simpatizar com a personagem.

O que poderia salvar o filme é a relação de lealdade que o guarda-costa Chor (Richie Ren) tem com o seu patrão Chiu. Porém não há nada de especial nas interpretações de Anthony Wong e Richie Ren. Para finalizar a galeria de péssimos personagens temos o vilão Law (Lam Li) cujas ações são tão desprovidas de humanidade por simples necessidade do roteiro de ter alguém mais detestável que Daisy, tornando-a mais simpática ao público.

Em seu quinto filme como diretor principal, Law Wing se mostra um diretor medíocre. Um dos maiores problemas do filme é a falta do estilo cinematográfico que marca as produções da Milkaway. Law Wing abusa dos flashbacks que pouco ajudam no desenvolvimento da trama e só piora o ritmo já arrastado do filme. Qualquer tentativa de criar suspense acaba falhando, seja pela desconexa narrativa seja pela trama simplória. Com um roteiro tão fraco, o diretor acaba apelando para o melodrama na segunda metade do filme.

Apesar de toda a grife, Punished é genérico parecendo mais uma produção estadunidense direto para o mercado de DVD. Todo o suspense da trama se esvazia com o abuso dos flashbacks. Apesar da tentativa de explorar com maior profundidade a relação conflituosa entre pai e filha, o filme fracassa ao transformar em um banal melodrama. Punished é certamente um dos filmes mais fracos já produzidos pela Milkaway.

Hong Kong feelings: 1,5/5

Título original: 報應 (Bou Ying)

Diretor: Law Wing-Cheong

Elenco: Anthony Wong Chau-Sang, Richie Ren, Maggie Cheung Ho-Yee, Janice Man, Lam Li,Candy Lo Hau-Yam, Jun Kung, Charlie Cho Cha-Lei, Elena Kong Mei-Yi, Samuel Leung Cheuk-Moon

5 de outubro de 2013

Running on Karma (O Ciclo do Carma/2003)

runningonkarma Biggie (Andy Lau) e Yee (Cecilia Cheung) unidos pelo carma.

A primeira vista Running on Karma é mais uma comédia romântica de Johnnie To feita para as massas. Nas próprias palavras do diretor, filmes comerciais como Loving on Diet e Needing You são necessários para financiar projetos pessoais como The Mission e Sparrow. O par principal é estrelado pelos astros Andy Lau e Cecília Cheung. Porém a adição de Wai Ka-Fai como codiretor torna o filme uma grata surpresa que subverte completamente as expectativas.

Andy Lau é Biggie, um go go boy que faz a alegria da mulherada com seu corpo de fisiculturista. Em uma batida policial, ele acaba conhecendo a policial novata Yee interpretada pela Cecilia Cheung. Biggie sabe que uma morte terrível aguarda Yee, pois ele tem o dom de ver o carma de qualquer ser vivo. A história fica ainda mais estranha quando sabemos que antes Biggie era um monge budista, mas que abandona o seu mosteiro depois de um trágico incidente.

Os dois acabam se aproximando, e Biggie passa a questionar se é justo uma pessoa tão bondosa e inocente quanto Yee merecer um destino tão terrível por conta das atrocidades cometidas pela sua vida egressa. Contra os princípios budistas ele tenta ajudá-la a pegar um impiedoso assassino na esperança de que seja possível reverter o carma.

A trama se desenvolve entrelaçada a uma enorme mistura de gêneros. Do suspense sobre o passado de Biggie e o futuro de Yee aos elementos de ação e comédia, Running on Karma é soberbo em todos os gêneros que transita. As cenas de ação remetem aos filmes de kung fu de época fantásticos, onde Biggie escala paredes e dá saltos sobrehumanos em uma cidade moderna ao invés de uma vila medieval. O resultado é extremamente cartunesco, mas que graças a excelente coreografia fica longe de ser ridículo.

Até o final do segundo ato, temos um filme extremamente divertido e inteligente que mescla perfeitamente cenas humoradas e de ação com uma trama sobre redenção. Porém o grande trunfo do filme é que uma vez engajados emocionalmente com os dois personagens principais, no terceiro ato o filme se torna sombrio e se revela, na verdade, como um profundo drama moralista sobre autoconhecimento. Porém a falta de conhecimento prévio sobre a filosofia budista pode acabar gerando confusão nesse ponto. O carma é um dos conceitos budistas mais complicados de compreender com diversas definições e interpretações. Mas o roteiro de Wai Ka-Fai oferece uma excelente explicação que se infunde perfeitamente a narrativa.

Running on Karma é uma peculiar mistura de gêneros que desobedece quase todas as regras relacionadas a como fazer um filme pipoca, e ainda sim sucede de forma espetacular. As atuações de Andy Lau e Cecilia Cheung são excelentes. O primeiro consegue retratar muito bem o cara que tenta fazer a coisa certa mas incapaz de compreender o que é o certo. Já Cecilia Leung transmite uma doçura e inocência que nenhuma outra atriz de Hong Kong é capaz. A narrativa fluída de Johnnie To e o rico roteiro de Wai Ka-Fai, fazem do filme o melhor da parceria desses dois gênios do cinema de Hong Kong.

Hong Kong feelings: 5/5

Título original: 大隻佬 (Daai zek lou)

Diretores: Johnnie To Kei-Fung e Wai Ka-Fai

Elenco: Andy Lau Tak-Wah, Cecilia Cheung Pak-Chi, Eddie Cheung Siu-Fai, Karen Tong Bo-Yu, Chun Wong, Yuen Bun.

4 de outubro de 2013

Men Sunddenly in Black (Maridos Infiéis/2003)

msib Eric Tsang (no sofá) é o líder da tríade ou do grupo dos maridos infiéis.

Quando suas esposas vão para a Tailândia em uma viagem de um dia, um grupo de amigos resolvem aproveitar o momento para pular a cerca. A missão é cuidadosamente preparada para que as cônjuges jamais descubram. Devidamente municiados de camisinhas, o grupo usa um carro camuflado de taxi para não levantar suspeita alguma. Porém o meticuloso plano cai água abaixo quando eles descobrem que suas esposas estão em seu encalço.

Tin (Eric Tsang), Cheung (Jordan Chan), Chao (Chapman To) and Paul (Spirit Blue) são movidos por diferentes motivações. Tin busca honrar um camarada que se sacrificou para que ele pudessem usufruir desse momento, enquanto Paul busca perder a virgindade. O que os une são os fortes laços de camaradagem, algo típico de filme de outro gênero. Substituindo os maridos por membros da tríade e as mulheres por policiais, temos um filme que funciona exatamente como um drama sobre policiais e tríades. Claro que as situações transformam o filme em uma deliciosa comédia.

Do outro lado temos as respectivas esposas Carrie (Teresa Mo), Anna (Candy Lo), Ching (Masha Yuen) and Luk (Tiffany Lee) sedentas por justiça. Munidas de câmeras, elas tentam a qualquer custo, inclusive o casamento, pegar no flagra os maridos infiéis. O jogo de gato e rato atingem proporções simplesmente épicas.

No meio de tudo isso ainda temos uma participação especial hilária de Tony Leung Ka-Fai como Uncle Ninth. Ele interpreta um prisioneiro de guerra nessa sangrenta batalha para pular a cerca. Igualmente hilário é a participação de Sandra Ng como a esposa que busca usar de todos artifícios para que Uncle Ninth entregue o nome dos amigos que participaram de uma noitada regada a álcool e várias acompanhantes.

O filme contém algumas das paródias mais criativas e divertidas já boladas. As referências mais óbvias são Infernal Affairs e os filmes de John Woo. A cena dos paparazzi perseguindo os maridos infiéis é um dos mais criativos tiroteios já bolados, com o som dos flashes sendo substituídos por som de balas em meio a tomadas de câmeras em slow motion. Igualmente hilária são os momentos que Eric Tsang parodia o seu próprio personagem de Infernal Affrais.

Men Suddenly in Black é uma comédia bem criativa e engraçada. A narrativa do filme é bastante inteligente, oferecendo uma generosa dose de humor negro. Talvez o único problema do filme seja o seu final. Este acaba sendo frustrante, pois a sensação é de que o diretor tentou ludibriar o expectador de forma totalmente desnecessária. Ainda sim o filme é genial na comédia e na paródia.

Hong Kong feelings: 4,5/5

Título original: 大丈夫 (Daai Cheung Foo)

Diretor: Pang Ho-Cheung

Elenco: Eric Tsang Chi-Wai, Jordan Chan Siu-Chun, Chapman To Man-Chat, Teresa Mo Sun-Kwan, Candy Lo Hau-Yam, Marsha Yuan Ji-Wai, Tiffany Lee Lung-Yi, Spirit Blue (Jia Zongchao), Maria Cordero, Tony Leung Ka-Fai, Sandra Ng Kwun-Yu, Teresa Mak Ka-Kei, Stephanie Che Yuen-Yuen, Nat Chan Bak-Cheung, Lam Suet, Jim Chim Sui-Man,Annabelle Lau Hiu-Tung, Chin Kar-Lok, Ellen Chan Ar-Lun, Carlo Ng Ka-Lok, Timmy Hung Tin-Ming, Belinda Hamnett, Kitty Chu Kit-Yi, Eric Kot Man-Fai, Cheung Tat-Ming, Ken Wong Hap-Hei, Iris Wong Yat-Tung, Jackie Lui Chung-Yin, Coco Chiang Yi,Sammo Hung Kam-Bo, Alan Tam Wing-Lun, Gia Lin, Osman Hung Chi-Kit, Otto Wong,Eddie Peng Wai-On, Eric Tse

27 de setembro de 2013

The Longest Summer (Tempestade de Verão/1998)

the-longest-summerTony Ho (centro) é um ex-soldado britânico e se prepara para assaltar um banco

Em primeiro de Julho de 1997, o Reino Unido transferia oficialmente a sua soberania sobre Hong Kong para a China. Sob domínio britânico, a cidade portuária se transformou em um importante enclave comercial da Ásia, e posteriormente evoluiu se tornando a capital financeira da região. Os períodos adjacentes à devolução foram marcados por diversas incertezas acerca do futuro da cidade.

Enquanto diversos diretores, incluindo nomes famosos como John Woo, trataram esse marco histórico de forma leviana e superficial, Fruit Chan entrega um drama que traz uma grande crítica social.  Em The Longest Summer, acompanhamos a história de um grupo de 6 soldados da força  britânica de Hong Kong. Faltando alguns meses para a devolução, eles são dispensados do serviço militar. Marginalizados pela sociedade e rejeitados pela sua pátria cada um tenta encontrar um novo de meio de sobrevivência. A partir daí narrativa do filme se foca no seu protagonista.

Ga Yin (Tony Ho) é ex-sargento da Força Britânica Ultramarina de Hong Kong. Uma vida inteira dedicada como um soldado britânico, mas que acaba sendo um desperdício. Dispensado e sem conseguir um emprego, ele é convencido pelo irmão mais novo Ga Suen (Sam Lee) para se juntar a uma tríade. A atuação de Sam Lee em Made in Hong Kong, também do mesmo diretor, e em The Longest Summer ajudou a transformou o ator em queridinho de Hong Kong. Se Sam Lee ganhou reconhecimento, o mesmo não pode ser dito para o ator principal do filme. É lamentável que Tony Ho não tenha tido oportunidades posteriores significantes. Em sua estreia como ator profissional, ele demonstrou ter talento para construir uma carreira de sucesso.

A pouca repercussão de The Longest Summer e fraca recepção do público tão pouco colaboraram para transformar Tony Ho de um ator desconhecido para uma estrela de Hong Kong. A produção foi financiada de forma independente. Com um elenco composto na sua maioria de atores amadores, o filme não teve apelo comercial algum. Porém isso não tira o mérito do filme, Fruit Chan consegue extrair atuações surpreendentes de um elenco teoricamente limitado. Sem contar na imersão que o diretor consegue criar com uma fascinante história sobre pessoas comuns lutando para sobreviver em um mundo dominado pela ganância e egoísmo.

Sem dúvida alguma The Longest Summer é uma gema rara do cinema de Hong Kong. Muito das nuances e da complexa narrativa passam despercebidos num olhar mais desatento, porém a riqueza da trama e dos personagens tornam a experiência emocionalmente única. O filme se estrutura em personagens que lutam por sua própria identidade em um mundo que está em rápida e continua mudança. Porém o Fruit Chan transcende a trama com uma narrativa que as vezes soa de cunho político, outras vezes se trata de uma crítica social ou de um estudo intimista do protagonista, incapaz de compreender o mundo em que vive.

Hong Kong feelings: 5/5

Título original: 去年煙花特別多 (Hui nin yin fa dak bit doh)

Diretor: Fruit Chan Gor

Elenco: Tony Ho Wah-Chiu, Jo Koo, Sam Lee Chan-Sam, Chan Sang, Pang Yik-Wai, Lai Chi-Ho, Leung Yiu-Wah, Lam Shek-Kin, Ng Ka-Chun, Cheung Sing-Chiu, Lee Lai

Rock‘n Roll Cop (Dois Tiras da Pesada/1995)

rnrcop É dever de todo policial ajudar uma dama em um concurso cultural.

Um grupo de meliantes assaltam uma casa de mahjong em Hong Kong. Em uma fuga alucinante, eles matam reféns e inocentes, conseguindo cruzar a fronteira com a cidade vizinha de Shenzen. A polícia de Hong Kong se vê obrigada a enviar Inspetor Hung para auxiliar um grupo de policiais de Shenzen chefiados pelo Capitão Wong Kun para capturar os assaltantes.

No entanto, Inspetor Hung e Capitão Wong Kun deverão resolver suas diferenças primeiro. Um é despojado, o outro é sério. Um sempre tenta malear as regras, enquanto que o outro as segue cegamente. Visualmente é fácil observar quem é quem. O policial de Hong Kong tem um visual que remete a Bono Vox. Com um cavanhaque e sempre vestido com uma jaqueta preta,  Inspetor Hung não perde uma oportunidade de falar quão superior a polícia de Hong Kong é.

Apesar das abordagens completamente diferentes, ambos conseguem contribuir, cada um ao seu modo, para as investigações. As atuações de Anthony Wong, como Inspetor Hung, e Wu Xing Guo, como Capitão Kun, são boas apesar de não serem algo especial. Faltou ao diretor Kirk Wong explorar mais essas duas personalidades conflitantes. Além disso, o filme foi prejudicado pela inclusão de duas subtramas românticas, cada uma relacionada a um dos policias. A sua inclusão quebra o ritmo do filme sendo completamente questionável a escolha do diretor. Mesmo com esse deslize no meio do filme, Kirk Wong consegue se recuperar a tempo para o último ato.

Se em OCTB, o tiroteio final acaba sendo anticlimático, dessa vez Kirk Wong acerta no tom. O ato final surpreende positivamente por ser uma perseguição tensa e enérgica. Porém, o diretor acaba escorregando na última cena, que destoa completamente de todo o filme. Mas o que realmente importa é que as cenas de ação em Rock‘n Roll Cop se equiparam em diversos momentos às melhores cenas de tiroteio de John Woo.

Hong Kong feelings: 3,5/5

Título Original: 省港一號通緝犯 (Saang Gong yat ho tung chap faan)

Diretor: Kirk Wong Chi-Keung

Elenco: Anthony Wong Chau-Sang, Wu Xing-Guo, Yu Rong Guang, Carrie Ng Ka-Lai, Jennifer Chan Ming-Chun

24 de setembro de 2013

Magic Cop (Detetive Espiritual/1989)

magicops  “A verdade está lá fora”

Uncle Feng é um policial especializado em casos sobrenaturais. Ele aparece para solucionar uma série de assassinatos misteriosos em Hong Kong. Feng ao usar suas técnicas taoístas descobre que alguém está transformando os mortos em vampiros e usando-os como mulas para transportar drogas. Ao longo do filme ele terá a ajuda do cético sargento Lam.

A trama do filme poderia ser perfeitamente uma descarada mistura entre Arquivo X e A Chinese Ghost Story. Ao manter o tom da narrativa leve, Magic Cop perde uma oportunidade de explorar melhor o ceticismo do sargento Lam, além de não ser capaz de criar a tensão necessária para que o filme funcione plenamente.

A tentativa de ser mais comédia e menos suspense acaba atrapalhando os atores também. O personagem de Wilsom Lam ao não ter uma abordagem mais séria, acaba quebrando um pouco o fantasioso. Sua interpretação acaba sendo razoável. Já Uncle Feng parece ter sido transportado direto de A Chinese Ghost Story com suas técnicas taoístas expurgar os espíritos malignos, além de um kung fu apurado. Porém a atuação Lam Ching-Ying também não consegue criar o contraste necessário para que as diferentes crenças ente Feng e Lam seja interessante ou pelo menos engraçada.

Magic Cop marca a estreia de Stephen Tung na direção. Como ator, ele tem várias participações medíocres. Porém, Tung tem uma carreira destacada como diretor assistente de ação. Em seu currículo estão filmes como A Better Tomorrow e As Tears Go By. As melhoras partes do filme são exatamente as cenas de ação.

A produção toda parece um filme B, porém não é. A trama sobrenatural, a produção de baixo orçamento, elenco pouco estelar remetem a um filme de B. Ao invés de investir no gore, o diretor preferiu investir em comédia. O resultado é um filme incapaz de se destacar em nenhum gênero que o compõe. No fim, Magic Cop acaba divertindo pela sua temática taoísta e pelas cenas de ação bem executadas.

Hong Kong feelings: 3/5

Título original: 驱魔警察 (Qu Mo Jing Cha)

Diretor: Stephen Tung Wai

Elenco: Lam Ching-Ying, Wilson Lam Chun-Yin,Miu Kiu-Wai, Wong Mei-Wah, Michiko Nishiwaka, Wu Ma, Billy Chow Bei-Lei, Chan Chi-Leung, Wong Yuk-Hang, Sung Yat-Lin

23 de setembro de 2013

Fight Back to School (Um Maluco na Escola/1991)

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Caso de Polícia: Chow tenta solucionar uma prova de matemática.

Stephen Chow é um veterano da SDU, esquadrão tático da polícia de HK, que está à beira de ser demitido pois sua abordagem estilo Rambo coloca seus colegas em perigo. Porém o comissário de polícia lhe dá uma missão para salvar sua carreira. Chow Sing-Sing deverá encontrar uma arma que o seu superior perdeu para alguns delinquentes de uma escola.

Para ter sucesso em sua missão, Chow terá a ajuda do esquizofrênico tio Tat (Ng Man-Tat). Porém alguns obstáculos escolares surgem diante do nosso anti-herói. Antes de cumprir a missão principal, ele terá que primeiro fazer algo que ele odeia profundamente: estudar. Nessa parte ele terá ajuda da bela orientadora Senhorita Ho (Sharla Cheung). Outra missão paralela é lidar com os valentões da escola que fazem bullying com todos, e que possuem conexão com a tríade.

O roteiro tem altos e baixos. De negativo podemos apontar para a falta de personalidade de todos os personagens secundários, exceto por Ng Man-Tat. Este último mesmo com um roteiro limitado consegue estabelecer uma química incrível com Stephen Chow. As melhores cenas do filme são quando os dois dividem a tela. Além disso, a relação de amizade e rivalidade com o colega de classe Turtle (Gabriel Wong) é um dos pontos positivos também. Roy Cheung mais uma vez encarna um chefe de tríade, porém sendo bastante caricato e com uma interpretação pouco inspirada. A trilha sonora é muito fraca que sempre remete a desenho animado. Existe ainda alguns problemas irritantes de sonoplastia, que torna as cenas de ação sem graça.

Dois diretores em especial contribuíram para a carreira prolífica de Stephen Chow. O primeiro foi Jeff Lau ao explorar não somente o talento de comediante, mas também o seu potencial como ator para cenas românticas e dramáticas. Já Gordon Chan deu a base do que seria uma marca registrada de Stephen Chow. O humor mo lei tau (无厘头) em tradução literal significa sem sentido, sendo um fenômeno recente em Hong Kong. Esse tipo é bastante peculiar pois usa-se justaposições de contrastes, paródias sem sentido ou até anacronismos deliberados. Como requer muitas vezes um conhecimento popular, o entendimento das piadas se perdem principalmente quando traduzidas. Nesse filme, o diretor abusa do talento de Chow em falar com rapidez e desenvolturas frases extremamente complexas que acabam surpreendendo e sendo bem engraçadas.

Apesar de zombar do sistema, o filme jamais se leva a sério. Fight Back to School, antes de tudo, é filme que se apoia no talento de Chow, colocando o seu personagem em um ambiente inusitado e que odeia. O sucesso comercial somente ajudou a alavancar Stephen Chow ao estrelato ainda no início de sua carreira como ator.

Hong Kong feelings: 3,5/5

Título Original: 逃學威龍 (To hok wai lung)

Diretor: Gordon Chan Car-Seung

Elenco: Stephen Chow Sing-Chi, Ng Man-Tat,Cheung Man, Roy Cheung Yiu-Yeung,Wong Chi-Yeung, Gabriel “Turtle” Wong Yat-San, Paul Chun Pui, Dennis Chan Kwok-San, Yuen King-Tan, Barry Wong Ping-Yiu, Teddy Chan Tak-Sum, Nip Pang-Fung, Tse Wai-Kit, Leung Sap-Yat

21 de setembro de 2013

God of Gamblers (Deus da Jogatina/1989)

God of Gamblers Ko Chun (dir.) aka God of Gamblers desafia a lógica, a probabilidade e a astrologia.

God of Gamblers é um clássico do cinema de Hong Kong da década de 80. O filme é estralado por Chow Yun-Fat, em mais um papel marcante. Ele interpreta Ko Chun, um lendário apostador profissional que possui a alcunha de God of Gamblers graças à sua capacidade quase que divina de desafiar as probabilidades na arte da jogatina.

O filme é extremamente formulaico. Além de Ko Chun temos Knife, um apostador amador que é um completo zero a esquerda. A vida dos dois acabam se cruzando quando Ko Chun despenca de um barranco, bate a cabeça e perde a memória. A partir daí o filme explora situações onde o personagem de Andy Lau tem que fazer de babá do personagem de Chow Yun-Fat, além de tentar aproveitar os poderes quase que sobrenaturais do último para conseguir um dinheiro fácil.

Wong Jing consegue imprimir um ritmo muito bom, mesmo que algumas piadas sejam estúpidas. O filme se sustenta graças a atuação sensacional de Chow Yun-Fat. O ator esbanja carisma seja como o invencível Deus da Jogatina ou como um menino de 5 anos de idade mimado que adora comer chocolate. A dinâmica com Andy Lau também funciona, apesar do último mostrar limitações não conseguindo chegar nem perto do talento de Chow Yun-Fat. No elenco de suporte temos ainda Joey Wong como a namorada de Knife e Ng Man-Tat como um agiota.

Se Michael Bay está para os filmes de ação, Wong Jing está para os filmes de comédia. O seu talento é comparável ao de Uwe Boll. O diretor tem em seu currículo atrocidades como Future Cops, um filme que parodia Street Fighter, porém sem os direitos de licença. Em sua defesa, ele dirigiu alguns filmes que são clássicos do cinema de Hong Kong. God of Gamblers é certamente o melhor filme de sua carreira. Com uma excelente atuação de Chow Yun-Fat e um elenco de suporte que não compromete, God of Gamblers arranca muitas risadas.

Hong Kong feelings: 4,5/5

Título original: 賭神 (Dou San)

Diretor: Wong Jing

Elenco: Chow Yun-Fat, Andy Lau Tak-Wah, Joey Wong Cho-Yin, Charles Heung Wah-Keung, Cheung Man, Ronald Wong Ban, Shing Fui-On, Lung Fong,Ng Man-Tat, Michiko Nishiwaka,Dennis Chan Kwok-San

24 de agosto de 2013

Overheard 2 (Overheard 2–Nos Bastidores do Poder/2011)

hkp_overheard2_03  Déjà vu: Daniel Wu (dir.) e Louis Koo (esq.) reencenam passagem de Infernal Affairs

Overheard foi um sucesso comercial e recebeu várias críticas positivas. Para essa sequência, a dupla de diretores Alan Mak e Felix Chong retornam na direção. O trio de atores principais Louis Koo, Lau Ching-Wan e Daniel Wu também retornaram para a franquia. Overheard 2 é uma sequência só no nome, pois a história e os personagens são novos.

No primeiro filme, acompanhamos um suspense sobre três policiais que durante o trabalho tinham em mãos informações privilegiadas e que poderiam obter uma fortuna com essas. Cada um tinha suas motivações para usar aquelas informações, porém havia um preço bem caro a pagar. Porém desta vez, o trio de personagens estão em lados diferentes.

A história do filme é centrada em um grupo de empresários que manipulam a bolsa de valores de Hong Kong conhecido como Landlord Club. Lau Ching-Wan é Manson Law, um dos integrantes desse misterioso clube. Ficamos sabendo que originalmente o clube foi fundado com o objetivo de impedir que grupos estrangeiros lucrassem de forma parasitárias os empresários locais. Porém, o policial Jack Ho investiga Manson Law com o objetivo de obter mais informações sobre as operações ilegais do grupo, mesmo que não tenha provas de sua existência. Em meio a esse conflito, aparece Joe espionando Manson. A princípio suas intenções não são claras, mas a medida que o filme evolui seu personagem se torna central na trama.

Lau Ching-Wan, Louis Koo e Daniel Wu novamente oferecem sólidas atuações. A dinâmica antagônica entre o trio é interessante. Sempre estamos nos perguntando quais são as reais motivações de cada um. Já o vilão deste filme é bem mais interessante e bem melhor interpretado que o de Michael Wong. Kenneth Tsang interpreta muito bem o líder do Landlord Club. Tony é um personagem embriagado pelo poder e pela ganância. Esse pano de fundo relacionado ao mercado financeiro acaba sendo interessante, principalmente com a crise de 2008 ainda bem recente na memória. Mesmo intercalando cenas de perseguição automobilísticas, o filme demora a engrenar. O meio do filme acaba sendo arrastado demais, com muitos diálogos expositivos na tentativa de construir o suspense acerca da intrincada história.

Se o primeiro filme já se parecia muito com uma produção hollywoodiana, a sequência dá um passo a frente nessa direção ao incluir cenas de perseguição dignas do cinema yankee. Novamente o tom cinza impera na narrativa do filme, exceto pelo final quando os personagens são divididos em mocinhos e vilões. Sem problemas com a censura chinesa, Overheard 2 consegue concertar alguns problemas do primeiro filme, principalmente oferecendo uma cena final que não fosse ridículo mesmo sendo politicamente correta. Nessa sequência os diálogos não são tão afiados, porém o filme mantem as boas atuações e uma boa história de suspense.

Hong Kong feelings: 4/5

Título Original: 竊聽風雲2

Diretor: Alan Mak Siu-Fai, Felix Chong Man-Keung

Elenco: Louis Koo Tin-Lok, Lau Ching-Wan, Daniel Wu, Huang Yi, Michelle Ye, Kenneth Tsang Kong,Wu Fung, Lisa Chiao Chiao, Matthew Chow Hoi-Kwong, Wilfred Lau Ho-Lung,Joman Chiang Cho-Man, Kong Ngai, Felix Lok Ying-Kwan, Samuel Kwok Fung, Ben Yuen Fu-Wah, Dion Lam Dik-On, Alex Fong Chung-Sun

26 de junho de 2013

Sparrow (Sparrow/2008)

sparrow

Na cena que abre Sparrow acompanhamos o grupo de batedores de carteira liderado pelo charmoso Kei. Toda a ação do bando é executada com uma sincronia perfeita e uma precisão absurdamente linda . Com uma cena tão simples, Johnnie To já dita o tom divertido do filme e estabelece aqueles personagens.

No seu tempo livre, Kei aproveita para curtir seu hobby de tirar fotos com uma antiga câmera. Porém uma misteriosa mulher cruza o seu caminho, chamando sua atenção. Mas não é somente ele quem ela enfeitiça com seu charme. Por um motivo inicialmente desconhecido, ela também aborda os outros membros do grupo com o mesmo modus operandi.

Apesar da trama ter vários furos, o filme não exige esforço para entender e acompanhar o enredo. Mesmo que a atitude de alguns personagens não faça muito sentido, o que o filme te exige é saber desfrutar uma narrativa divertida e inteligente. Temas caros ao diretor, como companheirismo e honra, são apresentados, porém não são discutidos.

Esta é a obra mais pessoal do diretor. As cenas foram sendo filmadas ao longo de três anos, quase que uma obra indie e com os atores filmando e refilmando cenas a medida que Johnnie To montava o filme entre um trabalho e outro.

Mesmo com uma forte influência do cinema europeu, Johnnie To mantém sua marca registrada. A trilha sonora, que mistura blues e jazz com um toque oriental, é uma das mais fantásticas e envolventes da filmografia de To. A cena final meticuloso, complexo, belo e caótico é uma homenagem ao musical francês Umbrellas of Cherbourg.

Ademais, as atuações são fantásticas, como sempre o uso de diálogos são mínimos. Rostos conhecidos como o de Simon Yam, Lam Suet, Gordon Lam, Lo-Hoi Pang oferecem atuações simplesmente deliciosas. Mas quem realmente se destaca e surpreende é Kelly Lin. A atriz taiwanesa consegue ser mais do que um colírio para os olhos, sua atuação é imprescindível para que o filme todo funcione.

O filme é uma verdadeira carta de amor de Johnnie To à Hong Kong. Cada quadro é filmado com uma beleza e esmero ímpar. A escolha de filmar em áreas onde ainda se mantém uma arquitetura tradicional dá uma atmosfera completamente diferente da metrópole frenética conhecida pelo mundo inteiro. Sparrow é um delicioso sorbet para qualquer fã do diretor saborear.

Hong Kong feelings: 4,5/5

Título Original: 文雀 (Mah Jeuk)

Diretor: Johnnie To Kei-Fung

Elenco: Simon Yam Tat-Wah, Kelly Lin, Gordon Lam Ka-Tung, Law Wing-Cheong, Kenneth Cheung, Lo Hoi-Pang, Lam Suet

25 de junho de 2013

Happy Together (Felizes Juntos/1997)

happy-together Ao som de tango, Yiu-Fai e Po-Wing bailam.

Com Happy Together, Wong Kar-Wai conseguiu o reconhecimento internacional ao concorrer a Palma de Ouro e ganhar o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes. O filme é uma mistura de todos os temas já discutidos pelo diretor em filmes anteriores como Chungking Express e Days of Being Wild, porém em um arranjo autêntico, além de ter sido bem controverso para a época.

Como em quase todos os seus filmes, não existe uma história que conduza o enredo. Novamente, Wong Kar-Wai nos oferece uma jornada extasiante  construída pelo acaso. Dessa vez acompanhamos um casal homossexual tentando reconstruir a relação em um outro lugar, longe de Hong Kong. A cidade escolhida foi Buenos Aires, alimentado pelo sonho de conhecer as Cataratas do Iguaçu.

O que observamos é o amor incompleto e destrutivo que Yiu-Fai (Tony Leung Chi-Wai) nutre por Po-Wing (Leslie Cheung). Yiu-Fai, uma pessoa de caráter controlador, se ressente de Po-Wing ser uma pessoa boêmia e egoísta. Apesar do relacionamento ser fadado ao fracasso, ambos acabam, de tempo em tempo, suprimindo a desconfiança em prol da realização do sonho.

Geralmente, Wong Kar-Wai concebe múltiplos personagens principais. Porém Happy Together é uma exceção, pois o enredo do filme é claramente centrado em Yiu-Fai. A atuação de Tony Leung é surpreendente pela naturalidade com que interpreta seu único personagem homossexual de sua carreira. De emprego em emprego, seu Yiu-Fai está sempre recomeçando. O que ele não consegue é recomeçar um relacionamento. Mas quem se destaca mesmo é Leslie Cheung. Se em Days  of Being Wild, ele havia arrebatado o coração de todas as damas com seu personagem incapaz de amar. Dessa vez, ele rouba a cena com seu personagem incapaz de amar somente a um homem.

A parceria entre Wong Kar-Wai e Christopher Doyle, seu fiel diretor de fotografia, atinge uma maturidade e elegância que só seria superada em In the Mood for Love. O jogo de cores, os enquadramentos, efeitos de câmera buscam amplificar os sentimentos dos personagens, suas angústias, paixões, tristezas, etc.  Além disso, as cenas onde a cidade de Buenos Aires serve de pano de fundo são belíssimas. Uma das cenas mais belas do filme é uma tomada aérea do Obelisco de Buenos Aires em stop motion.

A escolha de Buenos Aires é mais do que justificado e extremamente ressonante com a temática do filme. O tango é um estilo recorrente nas trilhas sonoras dos filmes do diretor, e filmar na Argentina certamente foi um sonho realizado. Outro fato é a cultura liberal de tolerância e respeito aos homossexuais do povo argentino, mesmo que o diretor não abra espaço para uma discussão desse tipo. O que Happy Together realmente é uma exilariante jornada sobre amor e recomeço.

Hong Kong feelings: 5/5

Título original:春光乍洩 (Chun gwong cha sit)

Diretor: Wong Kar-Wai

Elenco: Leslie Cheung Kwok-Wing, Tony Leung Chiu-Wai, Chang Chen

23 de junho de 2013

A Better Tomorrow 3: Love & Death in Saigon (Um Dia Melhor 3: Réquiem de Saigon/1989)

abt3 Amor e morte em Saigon.

Uma divergência criativa entre Tsui Hark e John Woo sobre o enredo de A Better Tomorrow 3 levou os dois cineastas a caminhos separados. John Woo ficou com o roteiro e foi filmar Bullet in the Head. Tsui Hark ficou com os direitos de A Better Tomorrow e foi filmar sua visão própria sobre a guerra do Vietnã. Se Bullet in the Head está para Apocalipse Now, A Better Tomorrow 3 está mais para Platoon.

A Better Tomorrow 3 é um prequela do primeiro filme que conta o passado de Mark. O pano de fundo é a guerra do Vietnã e ao longo da projeção acompanhamos as idas e vindas de Mark e suas complexas relações com seu melhor amigo Mun e com a female fatale Ying-Kit. Tsui Hark investe bastante no triângulo amoroso, sendo o elemento primordial que faz mover a história do filme. O contexto da Guerra do Vietnã é muito mal utilizado, mas faz sentido dentro da cronologia da série.

A atuação de Chow Yun-Fat não é tão poderosa quanto nos filmes anteriores, mas ainda sim seu Mark continua sendo um personagem absurdamente carismático. Ver Ying-Kit como uma espécie de tutora de Mark é um deleite para os olhos. Foi uma excelente sacada de Tsui Hark fazer a Chiu-Sing repetir as mesmas acrobacias de Mark. A dinâmica entre Ying-Kit e Mark é o ponto alto do filme. Completando o triângulo temos Tony Leung Ka-Fai interpretando Mun.

Em termos de narrativa e história, o terceiro filme é superior a A Better Tomorrow 2. A narrativa mais fluída nos permite observar com mais profundidade cada uma das faces do triângulo amoroso formado por Mark, Mun e Ying-Kit. Os sentimentos que cada um nutrem pelos outros é muito bem trabalhado pelo diretor e fica ainda mais complicado quando aparece um quarto indivíduo. Mas ao contrário de John Woo, Tsui Hark não transforma essas intricadas relações num turbilhão de emoções, preferindo disseca-las.

Porém, ao fim do primeiro ato, a sensação é de que o filme terminou ali. O segundo ato estranhamente parece mais um epílogo, com os personagens vagando sem um rumo definido. É necessário o terceiro ato para preparar o esperado derramamento de sangue. Porém, Tsui Hark não é John Woo, muito menos tentou imita-lo. O tiroteio final não tem a mesma epicidade e carga dramática, apesar do diretor investir forte no melodrama.

A mudança de direção teve pontos positivos e negativos. De negativo as cenas de tiro medianas. As atuações não são tão viscerais. Porém o filme não recicla o enredo do primeiro filme como foi o segundo, mesmo não aprofundando tanto  a temática da série que sempre buscou discutir qual a essência de um herói. Tsui Hark nos oferece um filme romântico onde exalta o companheirismo entre Mark e Mun. A Better Tomorrow 3 pode não ser um filme que muitos fãs da série esperavam, mas certamente é satisfatório.

Hong Kong feelings: 3/5

Título original:英雄本色III -夕陽之歌(Jing Hung Bun Sik Saam – Zik Joeng Zi Go)

Diretor: Tsui Hark

Elenco: Chow Yun-Fat, Anita Mui Yim-Fong,Tony Leung Ka-Fai, Shih Kien, Tokito Saburo, Maggie Cheung Ho-Yi, Nam Yin

22 de junho de 2013

Return to 36th Chamber (Retorno a 36ª Câmara do Templo Shaolin/1980)

return Chun Jen-Chieh se perfazendo de San Te.

Return to 36th Chamber é uma sequência do excelente The 36th Chamber of Shaolin. Neste filme somos apresentado a um novo personagem principal, porém com uma cara familiar. Chun Jen-Chieh é um artista de rua que tenta enganar os outros como forma de ganha pão. Quando os trabalhadores da tinturaria onde seu irmão trabalha começam a ser oprimidos pelos Machúrios, seus colegas o convencem a se perfazer como lendário monge shaolin San Te para intimidar os opressores.

Claro que tudo dá errado e Chun Jen-Chieh jura aprender kung fu shaolin com o verdadeiro San Te e livrar seus amigos da opressão. Gordon Liu volta a interpretar o papel principal. A princípio é meio confuso essa questão de Gordon Liu de ao mesmo tempo interpretar e não interpretar o seu personagem do filme anterior. Mas sua atuação neste filme mesmo com outro personagem continua igualmente prazeroso e divertido. O monge San Te continua fazendo parte do universo do filme porém interpretado por outro ator e com o status de um respeitado mestre de kung fu shaolin.

O filme tem um ritmo mais cadenciado e adiciona um humor que não havia no original, porém mantendo o elemento forte da série: o nosso herói deverá dominar os desafios da câmara do templo shaolin. No entanto, somente a 36ª Câmara comandada pelo Monge San Te é apresentada ao nosso herói Chu Jen-Chieh. Apesar do tempo de filme menor dedicado ao treinamento e do risco de cair na mesmice, Return to 36th Shaolin Chamber consegue entreter muito com os criativos treinos improvisado.

Return to 36th Chamber,ao invés de seguir a história do monge San Te, busca reaproveitar o mesmo enredo do seu antecessor mas com personagens principais novos. O grande barato do filme era ver justamente o personagem principal superando os desafios de cada câmara do templo shaolin. Dessa vez somos apresentados somente a 36º câmara criada por San Te no filme anterior, mas essa parte do treinamento continua sendo muito divertido. Além disso, o principal “defeito” do primeiro filme é corrigido para a alegria dos puristas que criticavam a falta do embate final entre o herói e o vilão. Vemos Chu Jen-Chieh usar todo o seu kung-fu shaolin improvisado para chutar a bunda do chefe manchúrio, sendo a luta ao mesmo tempo cômico e muito bem coreografado.

Hong Kong feelings: 4/5

Título original: 少林搭棚大師 (Siu Lam Ta Pung Tai Si)

Diretor: Lau-Kar-Leung

Elenco: Gordon Liu Chia-Hui, Johnny Wang Lung-Wei, Chen Szu-Chia, Kara Hui Ying-Hung, Hsiao Hou, Wong Gam-Fung, Cheng Wai-Ho, Wong Ching-Ho, Wa Lun, Lee King Chue, Yau Chiu-Ling, Cheng Miu, Kong Do

2 de junho de 2013

Jorney to the West–Conquering the Demons (Jornada ao Oeste-Expurgando os Demônios/2013)

journey to west História de pescador.

Jorney to the West é o primeiro filme de Stephen Chow em cinco anos. As expectativas sobre o filme não poderiam ser maiores. Apesar de Chow não estar no elenco, a sua presença na direção mais que garante o sucesso comercial. Com adiamentos da data de lançamento e um orçamento inflado, sendo o maior de todos os tempos para uma produção de Hong Kong, Journey to the West busca um lugar ao sol entre as inúmeras adaptações do livro homônimo.

Na cena de abertura somos apresentado a Xuanzhang (Wen Zhang), um caçador de demônios que segue os preceitos budistas. O nosso jovem herói tenta salvar o vilarejo do ataque. A cena é muito bem elaborada, porém peca em gastar tempo demais sem estabelecer a história do filme e os personagens principais, chegando a ser alienante. Se esperávamos uma história centrada no Macaco-Rei, o filme traz um frescor ao contar a origem do monge Tripitaka e como ele recruta seus discípulos para a jornada em busca dos sutras buditas. Porém este é somente um sub-enredo. A história central do filme foca no romance entre Xuanzhang e Miss Duan (Shu Qi), que remete a mesma temática explorada na adaptação dirigida por Jeff Lau com Stephen Chow como Joker/Macaco-Rei.

Por falar em A Chinese Odyssey, a sua trilha sonora é tão marcante que algumas composições de Jorney to the West são inspirados no filme de Jeff Lau. O momento mais inspirador certamente é da Shu Qi cantando a música Love of a Lifetime. Impossível não lembrar da cena final de A Chinese Odyssey Part II: Cinderella que encerra magistralmente a história de Joker e Zixia após uma longa jornada de amor dedicado e arrependimento irreconciliável. Ao mesmo tempo a cena é um ponto negativo para Journey to the West, apesar do casal Xuanzhang e Senhorita Duan seguirem os mesmos passos de Joker e Zixia não existe o mesmo peso emocional.

O elenco pouco estelar evidencia a crise que se passa no cinema de Hong Kong. O nome de maior apelo comercial acaba sendo o Shu Qi, uma atriz/modelo famosa mais por sua beleza do que por boas atuações. Sua atuação é totalmente inconsistente, incapaz de interpretar uma personagem durona de forte personalidade. O que é um grave problema, pois a Senhorita Duan forma o casal de personagens principais do filme. Todo o peso acaba caindo nas costas de Wen Zhang. Seu Xuanzhang funciona, no final, como um típico herói muito atrapalhado que descobre ser dono de um grande poder. Um papel que Stephen Chow teria interpretado a perfeição. Porém, o elenco não está a altura do talento de Chow. Inclusive o roteiro não colabora. Chen Bingqian e Shing Cheung-Lee interpretam respectivamente KL Hog e o demônio da água, mesmo na forma humana, o máximo que os atores tem que fazer é grunhir.

Por ser um filme de Stephen Chow é mais do que esperado cenas de comédia, porém além delas Journey to the West tem uma direção surpreendentemente sombria. Muitas mortes são chocantes criando um forte contraste com a sensação de um clima familiar na maior parte do filme. Temos uma mistura de gêneros, porém não funciona tão bem quanto em Shaolin Soccer ou King of Comedy.

O filme é uma fantasia com seres místicos e sobrenaturais, porém as escolhas de estética e figurino dos personagens são estranhas. Os demônios são retratados como seres bestiais numa modelagem mais realista, porém não ajudam a criar um ambiente fantástico. A falta de uma identidade visual própria é agravada pelo uso excessivo de computação gráfica para gerar paisagens simplesmente genéricas. Mesmo assim, tais cenas são as melhores que o cinema chinês já ofereceu, porém, anos-luz atrás de Hollywood.

Infelizmente, Jorney to the West é um dos filmes mais fracos de Stephen Chow. Há algumas cenas bem engraçadas, o que mostra que o rei da comédia não perdeu seu instinto cômico. Porém, Chow parece mostrar sinais de estar enferrujado depois de tanto tempo sem dirigir um filme. O filme tem um ritmo estranhamente cadenciado, como se não soubessem qual direção tomar. O drama e o romance não funcionam, no entanto parte da culpa reside na falta de química entre Wen Zhang e Shu Qi. As referências à Dragon Ball Z no final do filme, infelizmente, fazem um desserviço aos fãs. A imensa expectativa criada somente aumenta a decepção. É um filme que pode ser considerado bom para os padrões atuais de Hong Kong, porém mediano para os padrões do diretor.

Hong Kong feelings: 2,5/5

Título original:西遊.降魔篇 (Xi You Xiang Mo Pian)

Diretor: Stephen Chow Sing-Chi, Derek Kwok Chi-Kin

Elenco: Shu Qi, Wen Zhang, Huang Bo, Show Luo, Chrissie Chau Sau-Na, Lee Sheung-Ching, Chen Bing-Qiang, Xing Yu, Zhang Chao-Li, Cheng Sihan, Chiu Chi-Ling, Lu Zhengyu, Yang Di, Ge Xing-Yu, Fung Min-Hun, Xie Jingjing, He Wen-Hui, Tang Yi-Xin.

29 de abril de 2013

Organized Crime And Triad Bureau (OCTB/1994)

octb Cindy (Cecília Yip) e Tung (Anthony Wong)

O chefe da divisão contra crime organizado e tríades da polícia de Hong Kong (em inglês Organized Crime and Triad Bureau) fará de tudo para prender o líder de uma tríade especializado em assaltos a joalherias. Para capturá-lo, Inspetor Lee desafiará os limites da lei. Então começa uma caçada que se torna cada vez mais pessoal.

Em filmes do gênero policial/tríade, usualmente temos um inescrupuloso chefe da tríade que adora matar inimigos de várias formas criativas e que vive cercado de belas mulheres. Do outro lado, temos o policial mocinho que trabalhará dia e noite para capturar o vilão. O roteiro de OCTB contém todos esses elementos, porém com algumas modificações. O mocinho não é tão mocinho, nem o vilão é tão vilão.

O senso de justiça do Inspetor Lee é totalmente questionável, porém sua paixão pela profissão consegue de alguma forma cativar compensando suas ações. A interpretação de Danny Lee é muito boa, mesmo sendo impossível odiar ou adorar seu personagem policial. Do outro lado, Anthony Wong mostra ser um dos atores mais talentosos do cinema de Hong Kong. Não há ninguém melhor para interpretar personagens ambíguos como ele. A sua atuação neste filme não é de longe a melhor de sua carreira, mas é impossível não simpatizarmos com Tung e não torcer para que ele consiga fugir do obcecado inspetor.

Da dupla de atores principais não se poderia esperar menos que uma boa atuação. Apesar dos antagonistas serem o centro das atenções quem surpreende mesmo é Cecília Yip. A atriz interpreta Cindy, amante de Tung e cúmplice nas atividades criminosas do amado. A medida que a história avança compreendemos a lealdade e o amor que Cindy nutre pelo chefe de tríade. A química entre os dois é excelente e é um dos pontos mais interessantes do filme.

Organized Crime and Triad Bureau tem uma boa história, sólidas atuações, porém falha em sua execução. O filme demora para atingir seu clímax. O tiroteio que encerra o filme é pífio, mesmo descontando o fato que Kirk Wong não tem a mesma capacidade técnica em filmar cenas de tiroteio como seu contemporâneo John Woo. Apesar disso a cena final encerra satisfatoriamente a história.

Kirk Wong foi mais um que entrou para a lista de diretores hong kongneses formada por nomes como John Woo, Tsui Hark e Ringo Lam que migraram para Hollywood. Inclusive o seu estilo de direção se assemelha ao do último. No entanto o diretor está vários degraus abaixo da santa trindade de diretores da década de 80. Mas isso não impediu de Hollywood contratá-lo para dirigir Tiro e Queda (1998), estrelado por Mark Wahlberg.

Hong Kong feelings: 3,5/5

Título original:重案實錄O記 (Chung Ngon Sat Luk O Gei)

Diretor: Kirk Wong Chi-Keung

Elenco: Danny Lee Sau-Yin, Anthony Wong Chau-Sang, Cecilia Yip Tung, Roy Cheung Yiu-Yeung, Parkman Wong Pak-Man, Elizabeth Lee Mei-Fung, Fan Siu-Wong, Michael Lam Wai-Leung.

10 de março de 2013

Zu: Warriors from Mountain Magic (Zu: Guerreiros da Montanha Mágica/1983)

zu O monge sendo exorcizado pela Condessa.

Baseado na obra de  Lee Sau-Man, Zu: Warriors from Mountain Magic foi produzido por Raymond Chow e dirigido por Tsui Hark. Situado no século V, o oeste da China é assolado por recorrentes guerras civis. Neste mundo fantasioso, guerreiros são capazes de façanhas inacreditáveis. Raymond e Tsui tiveram a proeza de adaptar 50 volumes em frenéticos 110 minutos.

Sem perder tempo, somos apresentados ao personagem principal. Ti Ming Chi (Yuen Biao) é um batedor do exército azul. Porém em meio ao caos da batalha, fugindo de seus perseguidores Ti chega até a Montanha Mágica Zu. Lá ele conhece Ting-Yin (Adam Cheng), um exímio espadachim capaz de controlar sua espada com a força de sua mente. Ti tenta convencer Ting a ser seu mestre e se junta a busca por duas lendárias espadas gêmeas capazes de destruir um demônio sanguinário. Mas antes eles conhecem o monge budista Hsiao Yu (Damian Lau) e seu discípulo Yi Chen (Mang Hoi).

Tudo isso acontece na primeira hora de filme. O desenvolvimento da trama é rápido demais, porém Tsui Hark contrabalanceia com uma história rasa de forma que o desenrolar das cenas em momento algum é confuso. Diversos personagens parecem ter sido jogados a esmo, sem muita lógica dentro da trama. Apesar dos problemas, Tsui Hark consegue contorná-los razoavelmente bem. Mesmo diante da falta de uma boa contextualização do passado dos personagens, Hark consegue fazer com que nos importemos pelo destino de cada um. Porém isso gera mais problemas.

Falta mais carisma ao personagem principal. Ti consegue ser o menos interessante. Para um zero a esquerda, seu personagem pouco evoluí, a não ser no final. Por ser um estranho nesse mundo repleto de guerreiros com superpoderes, sua relação com os outros personagens é de total inferioridade. Os diversos personagens que aparecem pouco interagem com o personagem principal. Se por um lado isso é ruim, por outro lado algumas dessas interações são bem divertidas. O monge Hsiao nutre um sentimento de rivalidade em relação Ting, mesmo que o mais racional fosse juntar forças contra o inimigo em comum. Outra relação interessante é o romance entre Ting e a Condessa (Brigitte Lin). Porém fica faltando o  passado deles para entender melhor as atitudes de cada um.

Zu: Warriors from the Magic Mountain foi um filme que marcou época. Apesar da dificuldade em adaptar uma história tão complexa, Tsui Hark consegue entregar um filme que diverte. Os efeitos especiais são datados, mas muito bem utilizados. A falta de uma boa história é parcialmente compensada pela bela ambientação. Ainda por cima o filme tem no elenco Sammo Hung interpretando mestre ancião Cheng Mei. Uma pena que Sammo ficou de fora de quase todas as cenas de luta do filme.

Hong Kong feelings: 3/5

Título original:蜀山 - 新蜀山劍俠 (Shu Shan - Xin Shu Shan Jian Ke)

Diretor: Tsui Hark

Elenco:Yuen Biao, Adam Cheng Siu-Chow,Brigitte Lin Ching-Hsia, Damian Lau Chung-Yun, Sammo Hung Kam-Bo, Randy Man, Judy Ong, Moon Lee Choi-Fung, Tsui Siu-Keung, Mang Hoi, Dick Wei, Chung Fat, Fung Hak-On.

1 de março de 2013

Election 2 (Eleição 2–A tríade/2006)

election2 Deja vù? Gordon Lam (esq.) e Simon Yam (dir.) em uma tarde de pescaria.

Dois anos se passaram desde os eventos do primeiro filme, é época de nova eleição na tríade Sociedade Wo Sing. A tríade continua em seu processo de renovação, além de expandir seus negócios na China comunista. Novamente as tradições serão questionadas, mas dessa vez sem encenações dos cultos.

Simon Yam volta a interpretar Lok. Dessa vez a ganância lhe sobe a cabeça, e ele teima em largar o osso. Lok fará de tudo para quebrar a tradição e conseguir um segundo mandato. No primeiro filme, o embate entre Lok e Big D era formidável, pois ambos tinham personalidades contrastantes. Dessa vez Jimmy é o grande favorito de Uncle Teng (Wong Ting Lam). O personagem de Louis Koo ganha em importância nessa sequência sendo o principal personagem da história. Porém com dois personagens com características similares, a rivalidade entre Lok e Jimmy não chegue nem perto do antagonismo entre Lok e Big D.

Apesar dessa ser a trama principal, a subtrama envolvendo Jimmy e as autoridades da China continental acaba sendo a mais interessante. Apesar de um primeiro momento não se mostrar interessado no cargo de presidente da tríade, Jimmy muda de ideia depois que o Chefe da Unidade de Segurança Chinesa (You Yong) veta suas operações de venda de filmes pornôs dentro do território comunista. Porém, caso Jimmy se torne presidente da Sociedade Wo Sing, ele poderia negociar um acordo para voltar a operar lá.

Diversos personagens secundários retomam, como Big Head (Lam Suet) e Brother Kun (Gordon Lam). Porém nesta sequência são meros figurantes, sem relevância alguma na história do filme. Jet (Nick Cheung) é outro personagem que nada acrescenta nesse filme. Dentre alguns personagens novos, o mais interessante é ambíguo Chefe da Unidade de Segurança Chinesa. Apesar das breves cenas, sua atuação convence a todos de sua autoridade sendo alguém que detêm um poder maior do que a Sociedade Wo Sing.

Johnny To tenta retratar o papel das tríades na sociedade atual. Em Election 2, fica evidente que seu poder e influência são somente uma sombra pálida se comparado com outrora. A história tinha bastante potencial, porém o desenrolar da trama é num ritmo irritantemente lento com algumas situações que parecem ser forçadas. Para quem curtiu o primeiro filme, ainda é possível apreciar a trama desta sequência. Porém, em vários aspectos o filme decepciona.

Hong Kong feelings: 3/5

Título original: 黑社會2 以和為貴 (Hak Se Wui 2 Yi Wo Wai Kwai)

Diretor: Johnnie To Kei-Fung

Elenco: Louis Koo Tin-Lok, Simon Yam Tat-Wah, Wong Tin-Lam, You Yong, Lam Suet, Eddie Cheung Siu-Fai, Nick Cheung Ka-Fai, Gordon Lam Ka-Tung, Mark Cheng Ho-Nam,Andy On Chi-Kit, Tam Ping-Man.

28 de fevereiro de 2013

Election (Eleição–Submundo do Poder/2005)

election Habemus Papa: Ritual de iniciação da Sociedade Wo Sing.

As tríades são organizações criminosas instaladas em Hong Kong e Macau com ramificações em outros países onde há grandes colônias de imigrantes chineses. Tal qual a Máfia italiana, a história das tríades são cercadas por uma aura de mistério e fascínio. Existem diversas versões sobre a origem das tríades, sendo a mais antiga datada do século XVII onde cinco monges shaolin juraram restaurar a Dinastia Ming e formaram a Tríade dos Cinco Anciãos. Election documenta os rituais da tríade mais tradicional: a “Sociedade Wo Sing”.

Election é um dos filmes de Johnny To mais celebrados  pelos críticos ocidentais. O diretor recria os rituais de eleição do presidente da tríade “Sociedade Wo Sing” com um realismo documental.Os ritos de iniciação também são recriados o que releva a mística que envolve a organização, cujas tradições receberam influências taoístas e budistas.Tanto que o filme recebeu classificação Cat-III que proíbe menores de 18 anos a assistir por se enquadrar em apologia a organização criminosa.

Além de explorar o fascínio que as tríades exercem sobre a sociedade, sendo um dos gêneros mais populares da indústria cinematográfica local, Johnny To conta uma formidável história sobre luta pelo poder. É tempo de eleição e a Sociedade Wo Sing tem dois candidatos disputando pela presidência da tríade: Lam Lok (Simon Yam) e Big D (Leung Ka-Fai). Lok é o candidato preferido de Uncle Teng, membro mais sênior, para a fúria de Big D que gastou uma fortuna com subornos gerando um impasse na eleição.

Simon Yam retrata bem o sereno Lok. Mas quem rouba a cena mesmo é Leung Ka-Fai com seu impulsivo Big D. Sua sede por poder o faz tomar todo tipo de atitude, onde os meios justificam os fins. O embate entre os dois vai ganhando contornos dramáticos, se transformando numa corrida pelo artefato que simboliza o poder do chefe da tríade, um bastão de madeira em forma de um dragão. A polícia sob o comando do Superintendente-Chefe Hui (David Chiang) entra em ação prendendo os líderes da Sociedade Wo Sing com o objetivo de que a disputa seja resolvida sem sangue.

Porém entra em ação os peixes miúdos da facção. Sem usar nenhuma arma, as sequências de lutas são de um realismo brutal. Como exemplo, temos a cena em que Kun (Gordon Lam) espanca Big Head (Lam Suet) com uma tora de madeira para no final descobrir que estão do mesmo lado. Dentre os personagens secundários, o destaque fica para Louis Koo como Jimmy. Famoso por suas péssimas atuações, mas que não arranham em nada sua popularidade, seu leal personagem é um ponto de inflexão em sua carreira. Novamente, Johhny To mostra seu talento em extrair o melhor de atores medianos.

Se existe algum filme digno de comparação com O Poderso Chefão de Coppola, certamente é Election. Johnny To conduz a trama de forma soberba, mesmo com o resultado da eleição sendo definida na primeira meia hora de filme sem falar que em um terço do filme, os personagens principais passam na prisão. Ademais a cena final é arrebatadora. Se existe alguma falha é o arco final que desenvolve os eventos em um ritmo muito rápido, mesmo não comprometendo a experiência do filme como um todo.

Hong Kong feelings: 4,5/5

Título original: 黑社會 (Hak Se Wui)

Diretor: Johnnie To Kei-Fung

Elenco: Simon Yam Tat-Wah, Tony Leung Ka-Fai, Louis Koo Tin-Lok, Wong Tin-Lam, Lam Suet, Eddie Cheung Siu-Fai, Nick Cheung Ka-Fai, Gordon Lam Ka-Tung, Maggie Siu Mei-Kei, David Chiang, Berg Ng Ting-Yip, You Yong, Tam Ping-Man, Wong Chung, Chan Siu-Pang, Yuen Bun, Raymond Wong Ho-Yin.

21 de fevereiro de 2013

Days of Being Wild (Dias Selvagens/1990)

daysofbeingwild York (Leslie Cheung) seduzindo Su Li-Zhen (Maggie Cheung)

Em seu segundo filme, Wong Kar-Wai apresenta o tema que viria a ser universal em sua filmografia. Apesar de não ser tão elegante quanto In the Mood for Love ou tão envolvente quanto Chungking Express, Days of Being Wild é um filme para ser visto por qualquer fã do diretor. Porém a obra é também uma das mais inacessíveis.

A primeira parte do filme acompanhamos o triângulo amoroso. Leslie Cheung interpreta York, aparentemente um bon vivant que vive em uma Hong Kong da década de 60. Com sua beleza, ele arrebata os corações de Su Li-Zhen (Maggie Cheung) e de Leung Fung-Ying (Carina Lau). Relógios são filmados insistentemente para nos lembrar do quanto aqueles personagens sofrem com a solidão enquanto esperam pelo amor. Porém York é alguém incapaz de amar. Seu sofrimento também é causado pelo amor, no caso pela falta, mas que somente é revelado muito depois.

Certamente, o personagem York definiu a carreira de Leslie Cheung. Seu fascinante retrato da alma tortuosa e perdida de York provavelmente é sua melhor interpretação da carreira.Temos fortes atuações das personagens femininas. Maggie Cheung interpreta a tímida Su Li-Zhen enquanto Carina Lau interpreta a burlesca Leung Fung-Ying. Rebecca Pan interpreta a mãe de York, que depois descobrimos se tratar da madrasta. Andy Lau está soberbo como o policial Tide. Sem seus habituais e irritantes maneirismos, seu policial consegue ser tão fascinante quanto o personagem principal. Fazendo parte dessa salada de personagens ainda temos Jacky Cheung interpretando Zeb, melhor amigo de York.

Uma característica que falta a obra, mas presente em filmes seguintes, é a completa dissecação que Wong Kar-Wai realiza nos personagens. O diretor abusa das sequências contemplativas, mas é econômico no uso de narrações em off cujo o objetivo é de revelar não somente o que se passa na mente de cada personagem mas o estado de espírito deles. Tal distanciamento dos personagens é agravado pela total ausência de uma trama que conduza as cenas, o que é uma marca registrada do diretor, e provoca uma certa alienação exigindo um esforço maior para poder compreender as ações de cada um e suas consequências.

Days of Being Wild carece de vários elementos que fazem Wong Kar-Wai se distinguir de outros diretores artísticos. Porém há diversas sementes do que se transformaria em um estilo de direção sem igual. O filme também representa o início da parceria que duraria décadas com o diretor de fotografia Christopher Doyle. A atmosfera da obra é predominantemente depressiva. A tonalidade sombria das cenas se encaixam perfeitamente com a solidão dos personagens. Essa composição de emoções é banhada por uma trilha sonora impecável.

A cena final contendo uma aparição relâmpago de Tony Leung servia de gancho para uma sequência. Porém esta nunca aconteceu devido ao fracasso de bilheteria.

Hong Kong feelings: 3,5/5

Título original: 阿飛正傳 (Ah Fei Jing Yuhn)

Diretor: Wong Kar-Wai

Elenco: Leslie Cheung Kwok-Wing, Andy Lau Tak-Wah,Maggie Cheung Man-Yuk, Carina Lau Ka-Ling,Jacky Cheung Hok-Yau, Rebecca Pan, Tony Leung Chiu-Wai.

17 de fevereiro de 2013

School on Fire (Escola em Chamas/1988)

SchoolonFire

School on Fire é o terceiro filme da série “on Fire”. Ringo Lam dirige este melodrama ambientado numa escola de ensino médio do subúrbio de Hong Kong. Uma colegial testemunhou um acerto de contas da tríade. Incentivado pelo seu professor e pressionado pela polícia, ela depõe sobre o incidente para a fúria do chefe da tríade.

O diretor constrói uma história intensa e absurdamente depressiva. Depois de testemunhar, Chu Yuen-Fong (Fennie Yuen) passa a ser ameaçada por Brother Smart. Ele a obriga pagar HK$30.000,00 como compensação pelos custos legais para livrar os comparsas presos por conta de seu testemunho. A partir daí ocorre uma série de eventos que desemboca em um final cheio de violência e sangue. As situações são um tanto quanto exageradas porém são contrabalanceadas por uma ambientação  realista.

Além da trama principal, existem outras subtramas, que se entrelaçam com a principal, ajudando a enriquecer o filme. Inspetor Hoi (Ching-Ying Lam) tem consciência da impotência da polícia em combater a tríade, pois esta se instala onde exatamente existe um vácuo das instituições. No entanto, ao invés de se corromper, Hoi tenta executar a lei até onde o seu poder lhe permite. Já Professor Wan (Damian Lau) também sofre com a influência negativa da tríade na escola. Apesar de ser a bússola moral, Wan se sente impotente diante de um sistema quebrado. O pior é seu sentimento de fracasso ao ser incapaz de inspirar seus alunos, incluíndo Chu Yuen-Fong, a serem cidadãos de bem.

Apesar de Ringo Lam escalar um elenco pouco estelar, as atuações são muito boas. Fennie Yuen demostra talento ao encarnar a protagonista do filme, porém em diversos momentos faltou-lhe intensidade para que pudesse transformar Chu Yuen-Fong em uma personagem marcante. Roy Cheung parece ter sido elegido pelo diretor para interpretar antagonistas. Dessa vez ele é um jovem chefe de tríade que é um verdadeiro filho da puta. Mas fica claro que se ele não fosse assim, perderia o respeito de seus subordinados.

O filme tem uma trama muito boa, mas peca pela falta de personagens marcantes. Os vários personagens são interessantes, mas a falta de foco prejudica o desenvolvimento deles. O maior prejudicado é a protagonista Chu Yune-Fong, pela dificuldade de se engajar emocionalmente com a personagem. Ainda sim, Ringo Lam consegue ser envolvente prendendo a atenção do expectador até o violento final.

Hong Kong feelings: 3,5/5

Título Original: 學校風雲 (Hok haau fung wan)

Diretor: Ringo Lam Ling-Tung

Elenco: Fennie Yuen Kit-Ying, Roy Cheung Yiu-Yeung, Damian Lau Chung-Yun, Lam Ching-Ying, Sara Lee Lai-Yui, Tommy Wong Kwong-Leung, Ho Ka-Kui, Ng Chi-Hung, Amanda Lee Wai-Man.

12 de fevereiro de 2013

Chinese Odyssey (Odisséia Chinesa/2002)

chineseodyssey Sob as pétalas de uma pessegueira Tony Leung e Faye Wong são uma só alma.

No Festival Lunar se comemora a passagem do ano novo. É tradição do cinema de Hong Kong lançar filmes de comédia romântica nesse período. Chinese Odyssey é um raro filme comercial produzido pela produtora de Wong Kar-Wai, famoso por filmes mais artísticos, em parceria com seu amigo Jeff Lau. O resultado é hilário e surpreendente.

O filme se passa em algum período da China Medieval. O princípe (Cheng Che) e a princesa (Faye Wong), cansados da vida palaciana, decidem fugir do rígido controle da Rainha (Rebecca Pan). O principe acaba sendo capturado, mas a princesa consegue fugir. Vestida como um andarilho, a princesa chega até um vilarejo onde conhece Ah Long (Tony Leung), temido pelos moradores locais, e sua irmã Phoenix (Vicki Zhao), dona de uma estalagem. A partir daí começa uma série de cenas hilárias, com diversos elementos caracaterísticos do humor chinês como, por exemplo, situações envolvendo a troca de genêros. No primeiro encontro entre a princesa e Ah Long, ela é confundida com um homem e o rapaz fará de tudo para que ela se apaixone e se case com sua irmã Phoenix.

Para os que se apaixanoram com a dupla em Chungking Express, poder rever os dois atuando juntos é mais do que especial. A química dos dois se manteve intacta durante todo esse tempo. Tantos nas cenas de comédia quanto nas cenas mais românticas, os dois mostram formidável sintonia. Temos ainda a breve participação de Roy Cheung, cujo guerreiro Liangshim é responsável por oferecer algumas entretidas lutas de artes marciais. Outra aparição especial é de Athena Chiu como a enigmática Amour Amour.

Para aproveitar 100% o filme é necessário ter assistido pelo menos um filme de Wong Kar-Wai. Tanto o produtor quanto o diretor fazem piadas de si mesmos, como as diversas cenas contendo comentários em off, recorrentes nos personagens de Wong, sobre trivialidades ao invés da instropecção. Existem também referências à A Chinese Odyssey, filme homônimo que conta a jornada do Macaco-Rei e que foi dirigido por Jeff Lau, além de muitas outras piadas relacionadas a diversas obras dos dois.

Chinese Odyssey é um típico filme de comédia romântica feita para o Festival Lunar, com seus protagonistas buscando seu amor verdadeiro em meio a situações hilárias. Porém a parte final toma um caminho completamente surpreendente, ao explorar o tema com uma profundidade incomum. O humor tolo se evapora e temos um filme único. E essa transição funciona perfeitamente, graças à comovente atuação de Tony Leung e Faye Wong.  Mesmo Wong Kar-Wai não sendo o diretor ainda temos uma dose de sua visão ímpar sobre o amor.

Muitas vezes, se uma pessoa ama exageradamente, isto se torna inebriante, Se um odeia por muito tempo, o coração se parte facilmente. Porém, a experiência mais dolorosa na vida é o de ficar esperando.

Hong Kong feelings: 4/5

Título original: 天下无双 (Tianxia Wushuang)

Diretor: Jeff Lau Chun-Wai

Elenco: Tony Leung Chiu-Wai, Faye Wong, Vicki Zhao Wei, Chang Chen, Rebecca Pan, Athena Chu Yun, Eric Kot Man-Fai, Ning Jing, Roy Cheung Yiu-Yeung.

11 de fevereiro de 2013

Bullet in the Head (Bala na Cabeça/1990)

bulletinthehead Amigos ou Inimigos? Waise Lee (esq.), Jacky Cheung (centro) e Tony Leung (dir.)

John Woo foi responsável pela criação e popularização do gênero Heroic Bloodshed (em tradução livre derramamento de sangue heróico). Seus filmes, como A Better Tomorrow e The Killer, o transformaram em um dos diretores de ação mais cultuados do mundo. Porém, em Bullet in the Head o diretor subverte completamente o genêro.

Ainda temos uma aula de como filmar cenas de ação com direito a muitas explosões e muito sangue derramado. A princípio, o trio de personagens são movidos pela amizade. Mas os laços de amizade serão testados assim que os personagens chegam à um Vietnã imerso na violenta guerra civil. A visão de John Woo sobre a Guerra do Vietnã é nada menos que brutal. O diretor não poupa ninguém. Inclusive, Woo ainda acha espaço para criticar o governo chinês em uma cena onde um jovem para diante de um tanque em clara alusão a cena de um jovem solitário parando uma fileira de tanques na Praça da Paz Celestial.

A história começa em Hong Kong, onde conhecemos Ben (Tony Leung), Frank (Jacky Cheung) e Paul (Waise Lee). Três amigos inseparáveis que moram no subúrbio da cidade. Porém depois de um assassinato, Ben passa a ser procurado pela lei. O trio decidem ir para o Vietnã lucrar com a guerra através do contrabando e de outras atividades ilegais com o sonho de um dia voltar a Hong Kong. A primeira parte do filme é fraca, por problemas narrativos ela é mais longa do que deveria ser. O diretor não consegue ser tão efetivo em estabelecer os personagens como em The Killer, por exemplo.

John Woo sempre teve problema em manter as emoções em tom comedido. Porém neste filme, as atuações exageradas se encaixam perfeitamente com o desespero e loucura de uma guerra. Até mesmo a atuação do mediano Jacky Cheung é estupenda. O personagem passional e até certo ponto ingênuo se encaixa como uma luva. Já Waise Lee é um ator completamente oposto, pois possuí muito menos expressividade, encarna perfeitamente Paul, que é alguém que coloca sua ambição acima de tudo. Outro que tem uma atuação fenomenal é Tony Leung. Assim como seu personagem, sua atuação é um ponto de equilíbrio do filme.

Inicialmente o roteiro que deu base ao Bullet in the Head seria usado em A Better Tomorrow III. No entanto, uma briga entre o diretor e o produtor, por conta de divergências criativas, fez com que John Woo abandonasse a franquia e aproveitasse o seu roteiro para filmar Bullet in the Head. O personagem de Simon Yam seria interpretado por Chow Yun-Fat, mas foi uma perda mínima. Como Luke, Simon Yam consegue ser tão carismático quanto Chow Yun-Fat.

O filme é longe de ser perfeito, pois demora para engrenar. Porém uma vez embalado, o filme oprime o expectador com os personagens em meio a guerra lutando para sobreviver.  Sem misericórdia, somos esmagados por um sentimento de angústia e com o desenrolar do filme o sentimento somente se intensifica. Além disso em momento algum Woo nos oferece um esperança, como forma de alívio. Até mesmo, os pombos, um símbolo recorrente em quase todos os filmes de Woo, está ausente em Bullet in the Head. Para os que procuram heroísmo, John Woo nos mostra que em uma guerra o buraco é mais embaixo.

Hong Kong feelings: 4,5/5

Título original: 喋血街頭 (Die xue jie tou)

Diretor: John Woo

Elenco: Tony Leung Chiu-Wai, Jacky Cheung Hok-Yau, Waise Lee Chi-Hung, Simon Yam Tat-Wah, Fennie Yuen Kit-Ying, Yolinda Yan Chor-Sin, Lam Chung, Chang Gan-Wing, Leung Biu-Ching, Bau Hei-Jing, John Woo