22 de setembro de 2011

Chungking Express (Amores Expressos/1994)

chungking Faye Wong observa Tony Leung tomando café.

Wong Kar Wai é um diretor diferente. Com um estilo de filmagem único ele conta histórias de forma única. Dentre a sua pequena mas notória filmografia, Chungking Express talvez seja sua obra-prima. Em questão de técnica de filmagem há experimentalismos que serão refinados até o seu ápice em obras posteriores. Em outras o tema será explorado de forma mais profunda. Mas esta é sua obra mais vibrante.

O filme conta duas histórias que se assemelham na temática e se contrastam no desenvolvimento. Ambos tem como personagens masculinos policiais, que são identificados pelos seus números. Na primeira história, Takeshi Kaneshiro é o policial 223 enquanto que Tony Leung é o policial 663. Em ambas as histórias, os policiais tentam lidar com a perda amorosa, cada de um jeito, que apesar de estranho pode parecer familiar. Também em ambas, uma mulher de personalidade peculiar cruza o caminho de cada policial.

Brigitte Lin interpreta uma mulher que usa uma peruca loira e sempre anda com óculos escuros na primeira história. Sua personagem é uma traficante de drogas que foi trapaceada numa negociação. Misteriosa e sexy, a sua personagem é durona por conta do ambiente de trabalho, mas que com tanta insistência do personagem de Takeshi Kaneshiro por um breve momento mostra que é capaz de amar também. Já Faye Wong simplesmente rouba a cena com sua espontânea e deliciosa interpretação na segunda história. Em sua estreia como atriz, Faye Wong interpreta uma garçonete que se apaixona pelo personagem de Tony Leung e que fará o imaginável e inimaginável para chamar a atenção do policial.

As cenas vão se desenrolando através das próprias situações contidas nelas, não há um fio de enredo que as conecte. Mas o resultado é longe de ser um filme sem sentido. Os personagens vão se levando pela emoção, mas que num primeiro recusam aceitar essas emoções. O ambiente urbano insípido parece ter uma forte influência nos personagens, mas ao mesmo tempo Wong Kar-Wai consegue captar uma Hong Kong noturna frenética e caótica.

O filme transcende a linguagem cinemática comum através de efeitos da câmera e outras técnicas de filmagem; as músicas e cores também tem participação ativa na narração criando cenas com um clima único. Mas o que realmente torna Chungking Express tão genuíno é a conexão que este estabelece com o espectador. Quem nunca teve que lidar com a perda de um amor? No final das contas, a experiência é bem intimista e dependerá de cada um amar ou odiar o filme.

Chungking Express foi filmado durante o intervalo das gravações de seu épico de artes marciais Ashes of Time, foram em torno de 20 dias de filmagem para relaxar.

“O importante não é o destino, mas o percurso.”

Hong Kong feelings: 5/5

Título original: 重慶森林 (Chung Hing Sam Lam)

Diretor: Wong Kar-Wai

Elenco: Brigitte Lin Ching-Hsia, Tony Leung Chiu-Wai, Faye Wong, Takeshi Kaneshiro, Valerie Chow Kar-Ling

19 de setembro de 2011

Infernal Affairs (Conflitos Internos/2002)

Infernalaffairs   Ming (Andy Lau) e Yang (Tony Leung) conversam no topo de um arranha-céu.

Sem dúvida alguma Infernal Affairs foi o filme de maior sucesso de público e crítica em Hong Kong na década passada. Inclusive Hollywood fez um remake, ‘Os Infiltrados’, dirigido por um tal de Martin Scorsese. O filme gerou duas sequências lançadas em 2003.

A história é sobre dois espiões, um infiltrado na polícia de Hong Kong e outro na tríade, equivalente à máfia italiana. A partir de uma frustrada operação, tanto a tríade quanto a polícia descobrem que existem espiões em suas fileiras. Porém, num gênero tão extensivamente explorado, Infernal Affairs consegue se destacar pois o seu enredo investe no drama de seus dois personagens principais.

Já no primeiro ato, sabemos quem são os infiltrados de cada lado. Mas isso não diminui nem um pouco a tensão, muito menos o enredo fica óbvio. O enredo coloca os dois personagens diametralmente opostos, explorando perfeitamente o inferno da vida de dupla de cada um.

Yang é um cadete que foi expulso da academia pois sua família têm conexões com a tríade. Apesar disso, ele é candidato perfeito para ser o espião da polícia. Tony Leung interpreta Yang com grande intensidade. O ator é um dos mais talentosos do cinema de Hong Kong, ele possui um dom incrível de expressar diferentes emoções somente com o olhar. É visível a angústia cada vez maior no personagem, com a linha que separa entre o bandido e policial cada vez mais tênue. Tony Leung consegue transmitir toda a instabilidade emocional que Yang carrega.

Já Ming aparentemente tem uma vida muito mais tranquila em relação a Yang. Desde a academia, mostra-se ser um policial talentoso. Ainda sim, o personagem tem muito a perder. A rápida ascensão profissional, o noivado com uma escritora, tudo isso levanta questionamentos onde reside sua lealdade. Andy Lau oferece uma carismática e interessante interpretação de Ming, constantemente nos fazendo questionar quais interesses ele está buscando atender, seja da polícia, da tríade ou de seus próprios.

No elenco de suporte, Eric Tsang, como o paranoico chefe da tríade, e Anthony Wong, o inspetor da polícia que é o único a saber da verdadeira identidade de Yan, igualam no nível de interpretação dos atores principais. A rivalidade que existem entre os dois somente alimenta ainda mais a pressão sobre os espiões.

Infernal Affairs é basicamente um filme no estilo gato e rato, mas que consegue construir muito bem a tensão, enquanto trabalha os personagens, até o seu clímax. Um excelente filme, mesmo com algumas inconsistências no roteiro. A cena final é simplesmente foda.

O título original ‘Mou gaan dou’ é uma referencia ao nível mais baixo dos infernos budistas, o inferno contínuo.

Hong Kong feelings: 4,5/5

Título original: 無間道 (Mou Gaan dou)

Diretor: Andrew Lau Wai-Keung, Alan Mak Siu-Fai

Elenco: Tony Leung Chiu-Wai, Andy Lau Tak-Wah, Anthony Wong Chau-Sang, Eric Tsang Chi-Wai, Sammi Cheng Sau-Man, Kelly Chen, Elva Hsiao, Chapman To Man-Chat,Gordon Lam Ka-Tung, Edison Chen, Shawn Yue