16 de julho de 2012

Eighth Happiness (A derradeira felicidade/1988)

8happinness Chow Yun-Fat jogando todo o seu charme na colega de classe.

O festival lunar, conhecido como o ano novo chinês, é um período de festejos com muita comida e reuniões familiares. Um período também muito auspicioso para encontrar o amor da sua vida. Para aproveitar esse clima auspicioso, é tradição do cinema de Hong Kong sempre lançar filmes de comédia românticas nesse período. Em 1988, Eighth Happiness foi certamente o grande filme de comédia romântica.

Eight Happiness segue a fórmula padrão de comédia romântica. O mocinho principal conhece a mocinha de forma atípica. Os dois saem para se conhecer melhor. Algumas confusões acontecem que os fazem se separar, até que no final o casal acerta as arestas. Mas impossível detestar o filme, pois ele é muito bem filmado. Além disso o filme consegue surpreender em alguns pontos, principalmente o personagem de Chow Yun-Fat. Long tem um jeito pouco ortodoxo de se aproximar das mulheres. Chow Yun-Fat interpreta muito bem os trejeitos afeminados sem descambar totalmente para o ridículo. Além disso o personagem é o maior mulherengo da área, mesmo estando noivo da linda Do-Do (Carol Cheung).

Long possui um irmão mais velho e outro mais novo, com os três morando no mesmo teto. Fong (Raymond Wong) é uma espécie de patriarca e apresentador de um programa de culinária. Ele é um trintão que nunca namorou e um tanto desajeitado socialmente. Ele acaba se apaixonando pela cantora de ópera chinesa Hu Hsiu-Fang (Fung BoBo).  Ela tem um filho que não faz nenhuma cerimônia na hora de mostrar toda a falta de afeição pelo novo pretendente da mãe.

O diretor do filme é Johnnie To. Muito antes de fundar sua produtora Milkaway e se tornar um mestre de filmes de tríades, Johnnie To ainda dava seus primeiros passos como diretor em filmes comerciais. Mas sua habilidade em extrair o melhor dos atores é notório, mesmos em projetos mais limitados como esse. Jacky Cheung é o maior exemplo. Um ator que tende sempre ao exagero, oferece uma equilibrada interpretação de San, o irmão mais novo da trupe. Outra que se beneficia de um competente diretor é Cherie Chung que interpreta a beldade da loja departamental que nas horas vagas é tão louca quanto Long.

Entre indas e vindas, os três irmãos passarão por ilusões e desilusões amorosas, recheada de muitas risadas. Apesar dos vários personagens, as sub-tramas são simples, mas nada memorável. O filme todo não é memorável, de forma alguma chega perto dos filmes de Stephen Chow. No entanto, ainda sim é capaz de entreter e render boas risadas. Quem rouba a cena é certamente Chow Yun-Fat, seu personagem mulherengo e afeminado é simplesmente impagável. Para quem estiver atento, o filme tem algumas referências a A Better Tomorrow, inclusive com uma aparição mais do que especial no fim da última cena.

Hong Kong feelings: 3,5/5 

Título original:八星報喜 (Baat Seng Bou Hei)

Diretor: Johnnie To Kei-Fung

Elenco: Chow Yun-Fat, Raymond Wong Bak-Ming, Jacky Cheung Hok-Yau, Carol Cheng Yu-Ling, Cherie Chung Cho-Hung, Fung Bo-Bo, Michael Chow Man-Kin, Fennie Yuen Kit-Ying, Lawrence Cheng Tan-Shui, Karl Maka, Kwan Yuen Wong.

The 36th Chamber of Shaolin (A 36ª Câmara do Templo Shaolin/1978)

shaolinchamber Old but gold: Gordon Liu é Liu YangDe/San Te.

Shaw Brothers Studio foi a principal produtora de filmes em Hong Kong no século passado. Fundada em 1930, a produtora já produziu centenas de filmes, apesar de que atualmente esta está em franca decadência não chegando nem perto do seu glamour de outrora. Porém, a sua importância para o gênero de artes marciais pode-se dizer que é maior até mesmo que o grande ícone Bruce Lee. The 36th Chamber of Shaolin representa uma de suas principais joias que redefiniu o gênero.

Se passando no período que a China era controlada pela Manchúria, o jovem Liu YingDe (Gordon Liu) é filho de um humilde vendedor de frutos do mar. Durante o dia ele estuda no Colégio Chong Wen sob a tutela do Senhor Ho (Wai Wang). Vendo o seu povo oprimido pelo Império Qin, Liu decide se aliar aos rebeldes, sendo o próprio Senhor Ho um deles. Porém as forças imperiais logo descobrem as atividades clandestinas e massacram os rebeldes. O único sobrevivente é Liu que se refugia em um templo Shaolin.

Ao ser admitido no templo, Liu recebe um novo nome, San Te. Para se tornar um mestre de kung fu shaolin, ele deve passar pelas 35 câmaras do templo. Cada uma das câmaras possui um desafio diferente, sendo um mais inventivo que o outro. Ver Liu completando cada desafio é extremamente empolgante.

O filme gastar bastante tempo com a introdução, mas ela é tão importante quanto a parte do treinamento nas câmaras. As suas motivações para aprender a luta shaolin são bem claras, mas não são exatamente alinhadas com os preceitos budistas desse estilo de kung fu. O diretor soube explorar muito bem esse conflito moral que existe dentro de Liu YingDe/San Te, mas sem tornar o filme pesado demais com uma discussão filosófica que poderia mais distrair do que contribuir para o desenvolvimento do herói. Além disso é um importante elemento para explicar o título do filme.

A riqueza do personagem principal e uma trama bem trabalhada fizeram o filme uma verdadeira referência no gênero de artes marciais. O final do filme é bem polêmico e pode ser frustrante. Mas é preciso saber que essa decisão dos produtores e do diretor foi tomada diante das críticas da época que questionavam a qualidade dos filmes de artes marciais. Eles criticavam que as tramas eram quase sempre recicladas e soavam mais como uma (péssima) desculpa para o embate final entre o herói e o vilão. O final de The 36th Chamber of Shaolin tem como objetivo reforçar o que é mais importante do filme, a jornada de Liu e não o seu destino. O filme é fantástico do começo ao fim, com uma ótima trama e sequências de lutas sensacionais.

Hong Kong feelings: 4,5/5

Título original: 少林三十六房 (Siu lam san sap lok fong)

Diretor: Lau Kar-Leung

Elenco: Gordon Liu Chia-Hui, Lo Lieh, Lau Kar-Wing, Wilson Tong Wai-Shing, Wong Yue, Lee Hoi-Sang, Henry Yu Yang, Austin Wai Tin-Chi, Wai Wang.

9 de julho de 2012

In the Mood for Love (Amor à flor da pele/2000)

inthemoodforlove Quizas, quizas, quizas: Maggie Cheung e Tony Leung.

Um olhar é mais do que capaz de despertar um sentimento. A sedução desperta o desejo. Wong Kar-Wai retoma um velho tema para produzir sua obra mais elegante. Em In the Mood for Love, a sua técnica e sua peculiar linguagem cinematográfica atinge o ápice do refinamento.

Na Hong Kong da década de 60 (mas com uma atmosfera de Shanghai), Chow Mo-Wan e sua esposa se mudam para um apartamento no mesmo dia que a senhora Chan e o seu marido mudam para o apartamento ao lado. O primeiro é um escritor de novelas enquanto a senhora Chan trabalha como secretária do dono de uma agência de viagens. Chow é interpretado por Tony Leung, que por sua atuação perfeita recebeu o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes. Mas quem rouba a cena mesmo é Maggie Cheung com sua magistral Sr.ª Chan. Para a personagem é muito mais difícil aceitar e lidar com o dilema numa sociedade extremamente machista.

Com os respectivos cônjuges cada vez mais ausentes, Chow e Sr.ª Chan começam a suspeitar que ambos estão se envolvendo um relacionamento extra-conjugal. A solidão que aflige a ambos também é o sentimento em comum que os fazem se aproximar. O filme todo parece ser ditado pela balada da trilha sonora que remete ao tango.

Como se fosse uma dança, sempre observamos um dos personagens se aproximando, para que num próximo momento o outro se afaste. Esses momentos de sintonia, de hesitação e até os momentos onde um deles dá um passo errado são exaltados pelo diretor. Nesse jogo de sedução tudo é subjetivo, basta observar o olhar para ver a sintonia entre as almas daqueles dois seres que se desejam. Mas como uma força oposta, nós somos lembrados incessantemente que em seus dedos anelares jaz um objeto que condenam aqueles sentimentos. Assim hesitam em dar mais um passo adiante, pois não pode haver espaço para o sentimento de vingança nessa relação que estão construindo.

Ao mesmo tempo que o filme é um ode à arte da sedução, ele é também uma lamúria aos desejos repreendidos.  Novamente, Wong Kar-Wai nos oferece um retrato ímpar do amor. Um amor incompleto, não realizado, que corrói a alma.

Ele lembra daqueles anos desaparecidos como se estivesse olhando através de um janela empoeirada. O passado é algo que ele podia ver, mas não tocar, e tudo o que ele via era borrado e indistinto.

Hong Kong feelings: 5/5

Título original: 花样年华 (Fa Yeung Nin Wa)

Diretor: Wong Kar-Wai

Elenco: Tony Leung Chiu-Wai, Maggie Cheung Man-Yuk, Rebecca Pan, Kelly Lai Chen, Siu Ping-Lam, Roy Cheung Yiu-Yeung

8 de julho de 2012

A Chinese Ghost Story 3 (Uma história chinesa de fantasma/1991)

image_thumb2 Tony Leung sendo seduzido por uma fantasma.

A série cinematográfica Chinese Ghost Story chega ao seu terceiro e último filme. Depois de um desastroso e incompreensível segundo filme, o produtor Tsui Hark e o diretor Ching Siu-Tung tentam ainda aproveitar esse fascinante mundo criado no primeiro filme. Nesse terceiro filme, a dupla joga de forma ainda mais segura.

Na história deste terceiro filme, temos Fong como personagem principal. Ele é um aprendiz de monge e acompanha seu mestre em uma jornada para levar uma estátua de Buda até um templo. O destino faz com que os dois tenham que passar algumas noites no Templo da Orquídia. Lá, ele acaba conhecendo Lotus, uma fantasma escravizada pelo demônio da árvore. O filme se desenvolve no mesmo lugar do primeiro filme. E o enredo desemboca numa conflitante relação entre Fong e Lotus.

A história é praticamente a mesma do primeiro filme. Inclusive Joey Wong retorna para interpretar uma personagem idêntica do primeiro filme, porém não é a mesma. A grande mudança é no personagem principal. Sai de cena o coletor de impostos e entra um monge budista. No lugar de Leslie Cheung, entra Tony Leung. A troca é bem-vinda pois Tony Leung é anos-luz mais ator que Leslie Cheung, sem desmerecer o excelente trabalho do último. Mesmo Tony Leung sendo um grande ator, a química entre ele e Joey Wong não consegue superar o casal do primeiro filme.

Outro ator que retorna do segundo filme, mas para interpretar um personagem diferente também é Jackie Cheung. Com um personagem menos ridículo e mais fodão, Jackie Cheung dessa vez não fez feio com seu Yin. Apesar de aparecer bem menos, o espadachim mercenário consegue ser surpreendentemente interessante. Lau Shun interpreta o mestre de Fong e chutador de bundas demoníacas ao lado de Yin.

O resultado é zero de originalidade, mas a história do primeiro é tão boa que pouco importa se estamos assistindo a mesma coisa. O filme consegue entreter tanto quanto o primeiro filme seja nas partes de ação, fantasia, drama ou comédia. E assistir a encantadora Joey Wong nunca é demais.

Hong Kong feelings: 3/5

Título original: 倩女幽魂III 道道道 (Sien Nui Yau Wan III Do Do Do)

Diretor: Ching Siu-Tung

Elenco: Tony Leung Chi-Wah, Joey Wong Cho-Yin, Nina Li Chi, Lau Siu-Ming, Lau Shun, Tommy Wong Kwong-Leung.

1 de julho de 2012

A Chinese Ghost Story 2 (Uma história chinesa de fantasma 2/1990)

ghost2 Da esquerda para direita: Leslie Cheung, Joey Wong e Wu Ma.

Diante da boa recepção pelo público, A Chinese Ghost Story ganhou uma sequência. Os atores principais retornaram em seus respectivos papeis, exceto por Joey Wong que nesse filme interpreta uma mulher de carne e osso ao invés de uma fantasma. A fórmula do primeiro filme se manteve intacta. Mas o resultado é deveras decepcionante.

O diretor Ching Siu-Tung retorna para dirigir o filme. Encorajado pelo sucesso do filme anterior, o diretor se arrisca mais nos efeitos especiais. O resultado não podia ser mais desastroso. Era notório o esforço em esconder as limitações dos efeitos especiais, mas neste filme o diretor as escancara sem nenhum pudor. Mas esse é o menor dos males. O filme tem um ritmo letárgico, com um enredo incapaz de estabelecer qualquer lógica sobre as situações que assistimos.

Depois de perder seu grande amor, o coletor de impostos Ning Tai-Shen passa a levar uma vida nem um pouco pacata. Por uma mágica que só a ficção é capaz de fazer, ele se mete numa conspiração contra o tirano governo imperial. Os rebeldes o confundem com o líder revolucionário, dentre eles está a belíssima Windy, cuja aparência é idêntica à Nieh Hsiao-Tsing. Ning Tai-Shen passa quase que todo o filme tentando se convencer que aquela pessoa não é o seu grande amor. A história do filme beira a esquizofrenia, com o sobrenatural sendo tacado no meio da trama quando os roteiristas se lembram que o filme deveria ser uma história de fantasmas e outros seres do além.

Até as lutas parecem insossas, mas nesse ponto a culpa deve ser dividida com o ator que substitui Wu Ma no papel de caçador de fantasmas. Jacky Cheung é um ator esforçado, mas a sua escalação para o papel foi de grande infelicidade. O seu personagem Autumn não somente é o responsável pelas lutas mas é o principal alívio cômico. Jacky Cheung nem de longe consegue rivalizar em carisma com Wu Ma. Por falar neste último, ele faz uma breve aparição na parte final do filme alimentando uma esperança de salvar o filme, além dos mocinhos.

Com um roteiro extremamente fraco, as limitações dos dois atores principais ficam completamente expostas. A grande química que havia entre Leslie Cheung e Joey Wong desaparece nesse filme. Leslie Cheung troca a inocência de seu personagem pela idiotice completa. Enquanto que Joey Wong fica completamente perdida, sem saber o que fazer diante da crise de identidade que sua personagem sofre causada porque um cara no mínimo esquisito a chama por outro nome. Até Michelle Reis que interpreta a irmã de Windy consegue ter mais personalidade, mas que também não é nada demais. A adição no elenco mais interessante fica sendo Waise Lee ao interpreta um oficial do governo que se sente divido entre seguir as ordens e agir conforme o que lhe parece ser correto.

O filme consegue entreter em raros momentos, principalmente quando as cenas fazem referências ao primeiro filme. Mas o momento mais inspirado do filme é quando o personagem de Waise Lee continua a lutar mesmo depois de perder um dos braços, numa clara referência ao clássico One Armed Swordman da década de 1960. Mas nem de longe o filme conseguiu repetir o mesmo sucesso, apesar de repetir a mesma fórmula. A comédia e o romance são forçados goela abaixo do expectador. O resultado final é indigesto.

Hong Kong feelings: 2/5

Título original: 倩女幽魂II 人間道 (Sien Nui Yau Wan II Yan Gaan do)

Diretor: Ching Siu-Tung

Elenco: Leslie Cheung Kowk-Wing, Joey Wong Cho-Yin, Jacky Cheung Hok-Yau, Michelle Reis, Wu Ma, Lau Siu-Ming, Tin Kai-Man, Waise Lee Chi-Hung.

A Chinese Ghost Story (Uma história chinesa de fantasma/1987)

ghost Boo!! Leslie Cheung é um cobrador de impostos.

Filmes como Tigre e Dragão, Fong-Sai Yuk e muitos outros filmes do gênero são internacionalmente reconhecidos graças ao sucesso de um filme do final da década de 80. A Chinese Ghost Story não é uma referência no gênero por suas qualidades, que na verdade são limitadas, mas sim pela sua originalidade ao beber bastante do folclore chinês.

O filme é baseado em uma das histórias do livro Estranhos contos de um atelier chinês (聊斋志异) do escritor Pu Songling. Considerado um dos canônicos da literatura chinesa, a coletânea foi publicada no século XVIII. Os personagens dos contos vão desde seres humanos mesquinhos até espíritos moralistas. Esse aspecto satírico da obra é deixada de lado pelos produtores de A Chinese Ghost Story, que preferiram focar nas figuras folclóricas.

O resultado disso é um filme com bastante apelo comercial, ainda mais com a escolha de Leslie Cheung para interpretar o personagem principal. Apesar de Leslie Cheung ser um ator bastante limitado, sua escolha foi extremamente feliz. Interpretando um dócil coletor de impostos, Ning é extremamente ingênuo e que se torna uma presa fácil para a encantadora fantasma Nie (Joey Wong), mas ambos acabam apaixonando um por outro. A química entre Leslie e Joey é fantástica. Todas as cenas independentemente se é de drama, comédia e/ou romance funcionam com o casal.

As cenas de ação ficam a cargo de outro personagem. Yin é um monge taoísta e é interpretado pelo simpático Wu Ma. É uma pena que o personagem é mal desenvolvido com poucas informações sobre a sua vida de caçador de fantasmas, apesar de ser um dos personagens mais interessantes do filme. Quanto a ação, esta é muito bem feita inclusive com direito à cenas de computação gráfica. Porém os efeitos especiais estão completamente datados, sendo bastante injusto criticá-los dado às limitações orçamentárias e tecnológicas da época. Para esconder as limitações, o diretor preferiu usar cenários com poucas iluminação o que às vezes é incomodo. Mas a ambientação construída, repleta de monstros, espíritos, fantasmas e monges taoístas, é deveras fascinante.

A Chinese Ghost Story definitivamente oferece uma requintada experiência da mistura ímpar de comédia-ação-romance-drama do cinema Hong Kong. O filme não é excepcional em nenhum dos gêneros que fazem parte da salada, mas é bom o suficiente em todos tornando-o bastante palatável.

Hong Kong feelings: 3,5/5

Título original: 倩女幽魂 (Sien Nui Yau Wan)

Diretor: Ching Siu-Tung

Elenco: Leslie Cheung Kowk-Wing, Joey Wong Cho-Yin, Wu Ma, Lau Siu-Ming, Lin Wei, David Wu Dai-Wai.