29 de janeiro de 2012

Beyond our Ken (A Vingança da Princesa/2004)

boken  Shirley (Tao Hong) e Ching (Gillian Chung), rivais e amigas.

Edmond Pang Ho-Chang, diretor e roteirista de Beyond our Ken, conta a história de Ching que recentemente terminou o namoro com Ken. Para a jovem, infelizmente, a dor do fim do relacionamento é somente um dos problemas que ela tem que lidar. O outro problema é que o ex-namorado resolveu postar algumas de suas fotos nuas na internet, que, inclusive, lhe custou o seu emprego de professora.

O diretor posiciona a câmera em ângulos que sempre rementem a sensação de que o expectador está espiando a vida dos personagens. E descobre-se que Ching procura a ajuda de Shirley, sendo que a última é a atual namorada de Ken. A intenção de Ching é recuperar as outras fotos íntimas que Ken tirou. Apesar do tema ser altamente relevante nessa era digital, o filme não é tão ambicioso pois não discuti os relacionamentos sob este prisma. O que se observa é uma improvável amizade sendo construída entre duas rivais por definição.

Gillian Chung, uma atriz limitada, entrega a melhor atuação de sua carreira como a tímida Ching. Não que seja uma atuação digna de premiação, mas consegue transmitir a inocência necessária para fiquemos convencidos de que ela é vítima de uma grande injustiça. Já Tao Hong é uma atriz muito mais talentosa, mas ao invés de ofuscar sua companheira de tela permite que ambas brilhem com uma atuação que complementa a de Gillian. Sua personagem também favorece nesse ponto, pois Shirley tem uma personalidade oposta a de Ching, sendo bem extrovertida.

A medida que conhecemos mais aqueles três personagens, o filme não se desenvolve numa pura destilação de ódio aos homens ou a figura de Ken. Daniel Wu, que interpreta o infame Ken, consegue transmitir o quão patético é o seu personagem, tanto que acaba desmerecendo parte da antipatia gerada.

O filme é divertido e interessante do começo ao fim. A trilha sonora combina perfeitamente com a narrativa; Amandoti de Gianna Nannini é uma das músicas mais marcantes. Pouca coisa acontece e as emoções são comedidas, nunca exagerando no tom sombrio que paira nos personagens por conta de suas possíveis motivações. Exceto pelo final, cujo cinismo talvez seja exacerbado demais. Ainda sim fica o recado: Não brinque com as mulheres!

Hong Kong feelings: 4/5

Título original: 公主復仇記 (Gung ju fuk sau gei)

Diretor: Edmond Pang Ho-Chang

Elenco: Gillian Chung yun-Tung, Tao Hong, Daniel Wu, Candy Hau Woon-Ling, James Wong Ka-Lok

25 de janeiro de 2012

The Mission (Os Profissionais/1999)

mission Depois de um longo dia de trabalho, nada melhor do que sair para um Happy Hour.

Um chefe da tríade sofre uma tentativa de assassinato. Cinco pistoleiros são, então, contratados para serem seus guarda-costas, ao mesmo tempo que buscam descobrir o mandante. É com essa história que Johnnie To dirige um de seus mais brilhantes filmes. E se estabelece como um dos melhores diretores de Hong Kong.

Num gênero tão explorado pelo cinema local, o diretor consegue criar uma experiência única. O primeiro tiroteio já impressiona, estabelecendo o estilo do filme. A ação é cadenciada, onde cada bala atirada é milimetricamente calculada. Como num jogo de xadrez, o posicionamento e a movimentação de cada peça são importantíssimos. O trabalho em equipe ganha total destaque nas elaboradas sequências de tiro.

E é esse trabalho em equipe que será construído  brilhantemente pelo diretor. Como numa pelada de futebol, quando se reúne cinco talentosos jogadores, mesmo que não conhecendo uns aos outros, eles formarão um time forte. No entanto, só se tornam imbatíveis quando superam a falta de entrosamento.

Com um dos melhores elencos que o cinema de Hong Kong pode oferecer, durante todo o filme Johnnie To tem os atores sob seu controle. Os personagens se encaixam como uma luva nos atores. Jackie Lui que é o ator mais jovem do elenco encarna muito bem o seu inexperiente personagem. Já os experientes Francis Ng e Anthony Wong roubam a cena. O primeiro com suas atuações habitualmente intensas se faz presente em todas as cenas. O segundo interpreta com maestria Curtis, The Ice. Os óculos escuros são um recurso recorrente para restringir as emoções e assim permitir que atores consigam transmitir frieza. Porém para Anthony Wong, as lentes servem como um amplificador.

Esse entrosamento entre diretor e elenco resulta em interessantíssimas sequências. Um exemplo é a simples cena onde o quinteto recebem e verificam suas armas. Johnnie To consegue estabelecer cada personagem sem que haja uma linha de diálogo. Assim é todo filme, onde literalmente uma imagem vale mais do que mil palavras.

O filme é curto, o que pode ser um pouco frustrante para os mais desatentos. Não que sua duração seja o problema, mas é difícil captar todas as sutilezas dos personagens e as situações que os envolvem. Para quem espera por um derramamento de sangue heroico, a cena final é decepcionante. Porém são esses detalhes que diferenciam Johnnie To de outros consagrados diretores como John Woo e Tsui Hark. Se os dois últimos influenciaram profundamente o cinema de ação com cenas frenéticas, The Mission  se apresenta como uma antítese. A calmaria domina até mesmo as cenas de tiro, porém estas são tão bem montadas que conseguem criar um clima de extrema tensão e adrenalina.

Aos que procuram um filme de ação, encontrarão um filme altamente estilizado mas sem substância. Porém os mais atentos certamente apreciarão um filme que discute amizade, profissionalismo e camaradagem. O mais fascinante do filme não são os personagens em si mas como que os laços que unem o quinteto são construídos.

Hong Kong feelings: 5/5

Título original: 鎗火 (Cheung Fo)

Diretor: Johnnie To

Elenco: Anthony Wong Chau-Sing, Francis Ng Chun-Yu, Jackie Lui Chung-Yin, Lam Suet, Roy Cheung Yiu-Yeung, Simon Yam Tat-Wah, Wong Tin-Lam, Eddy Ko Hung

16 de janeiro de 2012

Shaolin Soccer (Kung-Fu Futebol Clube/2001)

shaolin_soccer2 De acordo com Stephen Chow, Super Campões foi uma inspiração para o filme. Bola dentro!

Shaolin Soccer detém o recorde de maior bilheteria de um filme produzido em Hong Kong. E também é o filme de maior sucesso internacional, inclusive foi exibido nas salas de cinema brasileiras. Tamanho sucesso é precedido de um dos melhores filmes de Stephen Chow.

Para os fãs de Chow, Shaolin Soccer navega em águas conhecidas, ou seja, é certo risadas do começo até o fim. O personagem principal já foi tantas vezes interpretado por Chow que ele encarna com naturalidade o herói ingênuo mas determinado em alcançar seus objetivos. Outro elemento tradicional em sua filmografia é Ng Man-Tat que dessa vez interpreta um técnico em busca de redenção.

Mas o filme também tem novidades e a maior delas é a utilização de cenas em computação gráfica. Não são realistas, mas na maior parte das vezes são bem feitas ocasionando mínima distração. Stephen Chow, que também é o diretor do longa metragem, consegue fazer bom uso da tecnologia criando cenas hilárias que remetem às animações japonesas. No entanto o que sempre torna os filmes de Stephen Chow únicos é a temática que nunca se repete.

Pelo título é obvio que o tema do filme é uma mistura de futebol e kung-fu. Stephen Chow interpreta Sing cuja meta é tornar o kung-fu relevante novamente na sociedade moderna. No começo do filme ele encontra Fung, um ex-jogador de futebol que teve sua carreira finalizada ao perder um pênalti, pois torcedores enraivecidos quebraram sua perna. Porém a primeira meia-hora é um tanto quanto arrastado pois o filme gasta esse tempo para apresentar os personagens sem nenhum desenvolvimento da trama. O filme é mais cadenciado se comparado com os filmes anteriores de Chow, mas ainda sim suas uma hora e cinquenta de duração passa rápido.

Stephen Chow é o centro das atenções neste filme, mas permite que o elenco de suporte possa também se destacar. É legal assistir o desenvolvimento de Sing e seus companheiros de shaolin como um time de futebol. Também há de se destacar as homenagens ao Bruce Lee. Como diretor, Chow consegue mesclar perfeitamente elementos do humor norte-americano e do humor cantonês. Shaolin Soccer é um golaço com uma diversão descompromissada.

Hong Kong feelings: 4,5/5

Título original: 少林足球 (Siu Lam Juk Kau)

Diretor: Stephen Chow Sing-Chi

Elenco: Stephen Chow Sing-Chi, Vicki Zhao Wei, Ng Man-Tat, Patrick Tse Yin, Wong Yat-Fei, Tin Kai-Man, Lam Chin-Sin, Lam Chi-Chung, Chan Kowk-Kwan

9 de janeiro de 2012

A Better Tomorrow (Um dia melhor/1986)

better_tomorow_1 Icônica cena de Chow Yun-Fat acendendo um cigarro com uma nota falsa de cem dólares

Existe um seleto grupo de filmes que marca uma geração inteira. Selam uma longínqua parceria entre diretor e ator. Capaz de revitalizar a carreira do diretor e elevar o ator para o estrelato. O filme é A Better Tomorrow, dirigido por John Woo e estrelado por Chow Yun-Fat. Além disso, pode-se afirma que foi o percussor de um gênero, o heroic bloodshed. Em tradução literal para o português: derramamento de sangue heróico.

O filme conta a história de dois gangsteres de Hong Kong. Ho (Ti Lung) e Mark (Chow Yun-Fat) possuem um próspero negócio de falsificação de dinheiro. Ho possui um irmão mais novo chamado Kit (Leslie Cheung) e que está prestes a graduar na academia de polícia. Apesar de estarem em lados opostos da lei, Kit desconhece das atividades ilícitas do irmão, inclusive o adora. O pai preocupado que um dia ambos os filhos sejam obrigados a defenderem seus respectivos interesses pede a Ho que abandone a vida criminosa. Ho decide então por um último golpe.

O que se sucede é Ho, Mark e Kit caindo em desgraça em diferentes níveis, abalando a relação do trio. Temos Chow Yun-Fat interpretando brilhantemente Mark no topo do poder assim como no fundo do poço. Seu personagem segue um inabalável código de honra mesmo tendo o pior dos destinos. Ho se vê atormentado pelos vários fantasmas do passado enquanto tenta lidar com os problemas presentes. Não há como não simpatizar pelo personagem interpretado por Li Tung. Leslie Cheung é um ator com limitações e que são expostas nos momentos mais melodramáticos, mas isso não compromete o filme pelo contrário. Sua atuação é boa, mas incapaz de se equiparar ao nível de outros dois protagonistas.

Infelizmente, o filme tem seus problemas. O tiroteio final acaba decepcionando. Apesar de ser tão bem executado quanto a magistral sequência no restaurante, a cena é pálida quando comparado com suas obras posteriores. Outra questão diz respeito ao vilão do filme. Suas ações são suficientemente efetivas para colocá-lo como uma antítese de Mark e Ho, mas em nenhum momento o filme discute suas motivações por detrás de seus atos. São problemas perceptíveis que impedem que o filme seja perfeito.

Mas ainda sim é indiscutível a genialidade de John Woo ao transportar a temática muito explorada em filmes de artes marciais para a sociedade moderna. No lugar das espadas, pistolas são empunhadas. O título em chinês significa essência de um herói. E o heroico aqui não é se reerguer depois um tombo. O filme busca um caminho mais tortuoso. A essência é não deixar que seus valores e princípios serem destruídos qualquer que seja a circunstância imposta. É colocar a amizade e família acima de tudo. Mesmo que seja necessário o uso de violência.

A Better Tomorrow possui temas ressonantes e uma boa narrativa. O produto final não é tão polido, assim como, as emoções são cruas demais. Mas o seu grande trunfo é as cenas de ações não sobrepujarem os outros elementos do filme. Esta possui um importante papel no desenrolar da trama. O filme emerge vitorioso com bons personagens e uma boa história.

Hong Kong Feelings: 4/5

Título original: 英雄本色 (Ying Hung Boon Sik)

Diretor: John Woo

Elenco: Chow Yun-Fat, Ti Lung, Leslie Cheung Kwok-Wing, Waise Lee Chi-Hung, Shing Fui-On, Emily Chu Bo-Yee

1 de janeiro de 2012

Running Out of Time (Jogo da Vingança/1999)

running_out_of_time_1 (1)  Andy Lau e Lau Ching-Wan duelam no filme dirigido por Johnny To.

Um misterioso ladrão rouba diamantes de uma companhia financeira. Porém a ação é executada de forma extravagante, chamando atenção de um inteligente policial. Este último então é atraído para um jogo de gato e rato pelo próprio ladrão. Nas próximas 72 horas o policial tentará descobrir suas motivações e seus objetivos.

O enredo intriga o expectador, mas o núcleo do filme está nos dois atores principais. Lau Ching-Wan interpreta inspetor Ho. O carismático ator personifica um inteligente policial que prefere usar o cérebro a portar uma arma. O seu personagem é viciado em trabalho, mas é visível o tédio com as tarefas cotidianas. Porém a monotonia é quebrada com a aparição do ladrão Cheung.

Apesar de ser um oponente de Ho, Cheung não é o vilão do filme. Este papel cabe ao personagem de Waise Lee, Baldy. Na verdade Cheung pode ser retratado como um rival do policial, alguém que é capaz de rivalizar com a inteligência deste último. Interpretado convincentemente por Andy Lau, este personagem também foi um ponto de inflexão em sua carreira. A partir deste filme Andy Lau ganhou o respeito dos críticos e construiu sólidas atuações em filmes posteriores. Com uma excelente atuação, o pop star conseguiu o prêmio de melhor ator. Se antes era criticado pelo exagero, neste filme ele consegue equilibrar charme e perspicácia.

A química entre Andy Lau e Lau Ching-Wan é fantástica, construindo de forma perfeita o respeito mútuo e a rivalidade. Ambos conseguem cativar o expectador a ponto de criar dúvida para quem torcer a cada embate. Já os personagens secundários muita das vezes servem somente como figurantes. Hiu Sing-Hung interpreta o inspetor-chefe Wong. Devido a lerdeza, para não dizer estupidez, o superior é incapaz de obter o respeito de seu inteligente subordinado. Do outro lado, temos YoYo Mung fazendo par romântico com Andy Lau. As cenas são singelas e poucas, mas o romance é tocante. Como mencionado anteriormente, o filme tem um vilão, mas, que ganha importância somente no ato final. É só uma necessidade criada pelo roteiro, tanto que o capanga interpretado por Lam Suet tem mais personalidade que ele.

Se a utilização dos personagens secundários é econômica, o mesmo pode ser dito para a direção de Johnny To. Apesar disso o filme é visualmente impecável. A trilha sonora é efetiva para cada situação, mas não é memorável.

Running Out of Time, com uma trama inteligente, é um divertido exercício do gênero. Apesar da história e personagens serem enxutos, tudo isso permite que dois atores principais possam brilhar soberanos em seus respectivos papéis. Além disso, o romance entre os personagens de Andy Lau e YoYo Mung consegue ser muito mais efetivo que muitos filmes românticos. O filme tem seus defeitos, principalmente furos no roteiro. Mas não há como terminar de assistir a cena final sem um sorriso de satisfação.

Hong Kong feelings: 4/5

Título original: 暗戰 (Am Zin)

Diretor: Johnny To

Elenco: Lau Ching-Wan, Andy Lau Tak-Wah, YoYo Mung, Hui Siu-Hung, Waise Lee Chi-Hung, Lam Suet, Ruby Wong Cheuk-Ling.