26 de fevereiro de 2012

Accident (Acidente/2009)

accident Brain (Louis Koo) tenta desvendar a conspiração contra ele.

É possível assassinar uma pessoa de forma que a cena do crime pareça com um acidente? Pode parecer uma teoria conspiratória, mas Brain e seus comparsas tiram seu sustento com este tipo de serviço.

O filme mostra minunciosamente como que Brain constrói e seus comparsas executam os “acidentes”. Sempre buscando não deixar pontas soltas, o personagem principal é meticuloso e as vezes até paranoico. O diretor Soi Cheung consegue fazer essas cenas muito bem, sempre mantendo o expectador na expectativa de como o acidente ocorrerá.

Aparentemente Brain detém o monopólio desse negócio. Porém um incidente o leva a conclusão que existe um possível ríval e concorrente na sua área de atuação. O filme fica cada vez mais interessante a medida que Brain fica mais paranoico. A atuação de Louis Koo é surpreendentemente excelente sendo bastante convincente no papel principal. O elenco de suporte possui nomes como Lam Suet e Michelle Ye.

Estreando na cadeira de diretor de uma produção da Milkyway, Soi Cheang faz o básico e muito bem. Não se arrisca em experimentar efeitos com a câmera que mais distraem do que conferem um estilo. As relações entre os personagens são construídas de forma sutil o que reforça o tom misterioso. A tensão e o suspense não são tão densos, mas o diretor consegue produzir o suficiente para que o filme funcione.

Infelizmente a cena final é desnecessária, criada somente para atender interesses comerciais (leia-se evitar a censura chinesa). Mas ainda sim o filme diverte bastante com a temática conspiratória, boas atuações e bom roteiro. Alistado pela produtora do renomado Johnnie To, Soi Cheang cumpre as expectativas em sua estreia como diretor da Milkyway dirigindo um ótimo suspense.

Hong Kong feelings: 3,5/5

Título original: 意外 (Yi Ngoi)

Diretor: Soi Cheang Pou-Soi

Elenco: Louis Koo Tin-Lok, Richie Ren, Michelle Ye, Stanley Fung Shui-Fan, Lam Suet, Monica Mok

19 de fevereiro de 2012

Fallen Angels (Anjos Caídos/1995)

fallenangels “Eu sabia que aquela estrada não era muito longa, […] mas naquele momento me sentia aconchegada.”

Fallen Angels é uma sequência espiritual de Chungking Express. O cenário que abriga os personagens é o mesmo. Uma Hong Kong noturna e fervilhante. Duas histórias distintas vão se desenvolvendo mas que se intercalam com um ponto em comum.

O filme começa apresentando Michelle Reis que é a agenciadora do assassino de aluguel interpretado por Leon Lai. Apesar de serem colegas de trabalho e nutrirem um mútuo interesse afetivo, não se conhecem pessoalmente. Nesse hesitante relacionamento, a personagem de Karen Mok aparece para reviver o seu relacionamento com o assassino.

A outra história gira em torno de Takeshi Kaneshiro cujo personagem se apresenta como um ex-presidiário. Além disso ele é mudo pois na infância engasgou com um pedaço de abacaxi enlatado e vencido (uma referência direta/piada interna à Chungking Express). No desenrolar do filme, ele conhece a sua primeira paixão interpretada por Charlie Young, porém ela é incapaz de lidar com o fim do relacionamento anterior.

A medida que nos interessamos em conhecer o cotidiano desses personagens também nos tornamos mais íntimos deles. Tal sensação é decorrente do uso extensivo da narração em off pelo diretor. É como se a cada momento os personagens estivessem nos confidenciando seus pensamentos e sentimentos. E o grande ponto em comum é a solidão que aflige a todos. Acompanhamos as ilusões e desilusões de cada um.

Wong Kar-Wai novamente faz usos de efeitos de câmera e trilha sonora marcantes, o que torna a experiência única transmitindo a sensação que estamos assistindo à memórias no inconsciente. Porém não existe uma história, os personagens são ligados pelo acaso. São essas características que fazem o diretor diferente até mesmo daqueles considerados artísticos. Sua habilidade se estende a sua capacidade de extrair boas atuações de atores limitados como Leon Lai.

Os personagens deste filme são um tanto quanto impenetráveis. Porém não é de interesse de Wong Kar-Wai construir personagem fáceis de entender, muito menos filósofos incompreendidos. Apesar de alguns serem bizarros, nos simpatizamos por serem imperfeitos, por serem humanos. Aos que dispuserem à mergulhar na vida dos personagens de Fallen Angels serão recompensado com uma inebriante jornada.

Hong Kong feelings: 4,5/5

Título original: 墮落天使 (Doh Lok Tin Si)

Diretor: Wong Kar-Wai

Elenco: Michelle Reis, Takeshi Kaneshiro, Leon Lai Ming, Charlie Young Choi-Nei, Karen Mok Man-Wai, Chan Fai-Hung

14 de fevereiro de 2012

Kung Fu Hustle (Kung-Fusão/2004)

kunfuhustle Stephen Chow homenageia Bruce Lee mais uma vez.

O prolífico ator-diretor Stephen Chow entrega o seu filme mais ambicioso. O resultado é mais uma obra com o seu selo de qualidade. Dessa vez a história se passa numa Xangai da década de 30 dominada por gangsteres. Stephen Chow é Sing, um zero a esquerda que tenta se passar como um membro da temida Gangue do Machado.

Mas por incrível que pareça ele não é o centro das atenções. O que assistimos é um desfile de personagens caricatos. Destaque para o casal Yuen Qiu e Yuen Wah que fazem uma hilária aparição como os senhorios do ‘Beco do Chiqueiro’. Lam Ching-Chu, figura carimbada na filmografia de Chow, interpreta o inútil braço direito de Sing. A grande decepção mesmo é a ausência de Ng Man-Tat.

O humor “mo lei tau” (sem sentido em tradução literal) de Chow transborda para o roteiro. A história inexiste, mas ainda sim o filme consegue prender a atenção do expectador desde a cena inicial. Graças ao talento de Chow, como ator e diretor, as cenas, desde romance até as de ação, são bem construídas.

Se em Shaolin Soccer Stephen Chow obteve sucesso ao usar cenas em computação gráfica pela primeira vez, agora ele dá mais um passo adiante. Mostrando total domínio da tecnologia, ele consegue transportar gags que antes eram exclusivas em desenhos animados para cenas com atores de carne e osso. O resultado é simplesmente hilário e surpreendente. Os efeitos especiais são nem um pouco realistas, mas são bem empregadas de forma que não traz aquela sensação negativa de falsidade.

As lutas de kung fu são bem coreografadas e criativas, capaz de agradar até mesmo os fãs do gênero. Algumas são bem engraçadas como a luta final contra o chefão. Mas apesar disso, as cenas de luta são geralmente intercaladas com cenas de humor. Por falar em humor, como este se baseia mais nos efeitos especiais mirabolantes, parte da graça se perde quando se assiste uma segunda vez.

No final das contas, Kung Fu Hustle é um bom filme de comédia com um estilo que remete aos desenhos animados americanos, mas que preserva alguns elementos do humor cantonês. A fórmula mágica do sucesso se mantém intacta, porém com doses homeopáticas de drama e romance.

Hong Kong feelings: 3,5/5

Título original: 功夫 (Kung Fu)

Diretor: Stephen Chow

Elenco: Stephen Chow Sing-Chi, Lam Chin-Sin, Lam Chi-Chung, Chan Kowk-Kwan, Yuen Qiu, Yuen Wah, Eva Huang Sheng-Yi, Tin Kai-Man, Feng Xiao-Gang, Bruce Leung Siu-Lung, Xing Yu, Lam Suet

5 de fevereiro de 2012

A Better Tomorrow 2 (Um dia melhor 2/1987)

better_tomorow_2Homens de preto (esquerda para direita): Chow Yun-Fat, Ti Lung, Dean Shek e Kenneth Tsang

John Woo retorna a cadeira de diretor para a sequência do clássico A Better Tomorrow. Chow Yun-Fat, Ti Lung e Leslie Cheung também retornam. O resultado é controverso, em algumas áreas o filme supera o antecessor e em outras regride.

A história do filme começa de onde o antecessor acabou, Ho, interpretado novamente por Ti Lung, cumprindo pena na prisão. Para os que estranharam a presença de Chow Yun-Fat, os roteiristas acharam uma solução para que o ator retornasse. Ele interpreta Ken, o irmão gêmeo de Mark.

Outro personagem novo é Lung, interpretado por Dean Shek Tin. Ele é o mentor de Ho, e trilhou o mesmo caminho do seu pupilo a quinze anos atrás. Atualmente, ele possui um negócio honesto, porém ninguém acredita. O seu passado é uma pesada cruz. Ao longo de todo o filme temos Lung e Ho caminhando em suas respectivas jornadas em busca de redenção.

A trama e os temas são iguais ao do primeiro. No entanto, os diálogos e as situações são pouco inspiradas. As atuações são boas, mas severamente limitadas pelo fraco roteiro.

Por incrível que pareça o final consegue salvar o filme inteiro. Nesse ponto, John Woo conseguiu se superar. O tiroteio final é emocionante e de uma escalada épica. No apagar das luzes, Woo consegue imprimir todo o estilo que fez do original um estrondoso sucesso; mas infelizmente tarde demais.

Hong Kong feelings: 3/5

Título original: 英雄本色II (Ying Hung Boon Sik II)

Diretor: John Woo

Elenco: Chow Yun-Fat, Ti Lung, Leslie Cheung Kwok-Wing, Dean Shek Tin, Shing Fui-On, Emily Chu Bo-Yee, Kenneth Tsang Kong, Ng Man-Tat