31 de março de 2012

A Chinese Odyssey Part 1: Pandora Box (Odisséia Chinesa Parte 1: A Caixa de Pandora/1995)

copbOs súditos saúdam a volta do Rei!

‘Jornada ao Oeste’ é um dos grandes clássicos da literatura chinesa. No livro o monge budista Xuanzang junto com seus discípulos (o Macaco-Rei, o Porco, o Monge Shaolin e o Príncipe Dragão) partem para o oeste em busca dos sutras, escrituras sagradas budistas. Durante a jornada monstros, fantasmas e demônios tentam devorar Xuanzang, pois sua carne pode garantir a imortalidade para quem a consumir. A obra influenciou profundamente o folclore chinês. Dentre as inúmeras adaptações nas mais variadas mídias, a mais famosa adaptação é a animação japonesa Dragon Ball. Este filme, dirigido por Jeff Lau, tal qual a animação japonesa é levemente baseada na obra original.

Na história do filme o Macaco-Rei é sucumbido pelo mal e tenta devorar o seu próprio mestre com o objetivo de se tornar imortal. A Deusa da Misericórdia tenta matar o Macaco-Rei, porém o compassivo monge intervém e troca a sua vida pelo do seu discípulo. O Macaco-Rei é então banido do reino celestial para reencarnar na forma humana. O prólogo tem um clima épico, tanto que a história foi dividida em duas partes. Nesta primeira parte, duas irmãs demoníacas procuram pelo Monge da Longevidade no local onde o Macaco-Rei reencarnou 500 anos depois do prólogo. Lá encontram  Joker, líder de um bando de bandidos e um zero a esquerda nas horas vagas.

Stephen Chow interpreta Joker mostrando ser, desde o início de sua carreira, um ator com bastante potencial para papéis mais “sérios”. O diretor Jeff Lau consegue extrair o melhor de Chow como ator e também como comediante. É até redundante, mas a química entre Ng Man Tat e Stephen Chow é estupenda. Até em momentos cuja atuação é mais sóbria, quando os dois estão dividindo a mesma cena eles são capazes de arrancar gargalhadas genuínas.

No entanto, quem oferece a melhor atuação é a Karen Mok. Com uma incrível naturalidade, ela dá conta do turbilhão de emoções que assola a sua personagem Jing Jing, conhecida pela alcunha demônio do Osso Branco. Do sadismo inerente a natureza da sua personagem até a desilusão amorosa que comove o espectador, ela ainda consegue ajudar a elevar o nível de interpretação dos seus companheiros de cena. Uma das mais beneficiadas do talento da Karen Mok, é a Yammie Nam Kit-Ying, que interpreta a irmã, também demoníaca, da Osso Branco.

Apesar das cenas de comédia, ação e drama funcionarem bem, o filme tem um ritmo inconsistente. Por mais que as cenas de comédia sejam muito engraçadas, dignas da filmografia de Chow, o filme acaba sendo repetitivo e até cansativo. Problema causado pelo enredo, que só toma uma direção ao final do filme quando prepara a história para a segunda parte.

Essa primeira parte funciona como uma longa introdução antes do início da jornada de redenção do Macaco-Rei. A sequência final é uma das mais inventivas viagens ao tempo. O filme é divertido, apesar de se seus altos e baixos. A sua grande falha é a incapacidade de criar expectativa para a segunda parte.

Hong Kong Feelings: 3,5/5

Título original: 西遊記 I 月光寶盒

Diretor: Jeff Lau

Elenco: Stephen Chow Sing-Chi, Ng Man-Tat,Yammie Nam Kit-Ying, Karen Mok Man-Wai, Kong Yeuk, Luk Su-Ming, Ng Yuk-Kan, Jeff Lau Chun-Wai, Law Kar-Ying.

11 de março de 2012

Infernal Affairs III (Conflitos Internos 3/2003)

infernalaffairs3É complicado a vida de espião: Ming (Andy Lau) à direita e Yan (Tony Leun) à esquerda.

Infernal Afffairs III encerra a trilogia iniciada pelo arrasa-quarteirão Infernal Affairs, seguido da sensacional prequela Infernal Affairs II. Com o destino de Yan, Inspetor Wong e o chefe da tríade selados, neste terceiro ato conheceremos o destino de Ming, o tríade infiltrado na polícia. Os diretores Andrew Lau e Alan Mak retornam para dirigir um intrincada trama que traz todo o elenco do filme original.

A citação budista que dá nome ao título original ganha mais relevância na história do terceiro filme. Aliás, o filme todo se desenvolve em torno do conceito do inferno contínuo, o mais baixo nível do inferno budista. Os flashbacks teoricamente reforçam este movimento cíclico e inexorável, mas na prática são confusos e excessivos, soando mais como desculpa para trazer os atores que morreram no primeiro filme.

Andy Lau volta a interpretar o policial Ming. Apesar de ter se safado dos eventos do primeiro filme, o personagem passa ser atormentado pelo seu passado. O descenso ao inferno é óbvio, tendo que lidar com o fim de um casamento assim como a carreira em declínio. Os personagens femininos do primeiro filme ganham mais destaque na história. E elas estão presentes nas melhores cenas do filme. Tony Leung, Anthony Wong e Eric Tsang retornam com sólidas atuações, mas nada que supere os filmes anteriores. O roteiro também prejudica inclusive a atuação do ator principal. Andy Lau consegue interpretar razoavelmente a paranoia que cerceia Ming, principalmente após a aparição de um novo personagem.

Ming suspeita que o inspetor Yeung está por trás da queima de arquivo contra os infiltrados de Sam para se proteger. O jogo de gato e rato se torna desinteressante, principalmente por conta do ator escalado para interpretar Yeung. A variedade de expressões faciais de Leon Lai é tão impressionante quanto ao de Keanu Reeves. E isso prejudica muito a dinâmica entre Ming e Yeung. Outro problema do filme é a subtrama envolvendo Yan e outro personagem novo. Shen é um chefe do crime da China continental que fez negócios com Sam (Eric Tsang). Poucas informações sobre o personagem interpretado por Chen Dao-Ming são disponibilizadas, o que torna a sua relação com Yan bem confusa. No final das contas, é quase incompreensível como que as subtramas se cruzam para determinar o destino de Ming.

O filme possui ideias boas, mas que foram mal executadas. Para os fãs ardorosos, certamente assistirão para saber o fim que Ming terá. Claramente, os diretores não quiseram escolher o caminho mais fácil para contar essa história, tal esforço foi capaz de gerar boas cenas como a que junta Ming e Yan no consultório da psiquiatra Dra. Lee. Os elementos de drama e suspenses estão presentes nesse filme, mas não foi possível repetir a mesma qualidade do filme original. Infelizmente, Infernal Affairs sofreu do mesmo mal que as trilogias de Hollywood com uma última parte fraquíssima.

Hong Kong feelings: 2,5/5

Título original: 無間道 III (Mou Gaan dou III)

Diretor: Andrew Lau Wai-Keung, Alan Mak Siu-Fai

Elenco: Tony Leung Chiu-Wai, Andy Lau Tak-Wah, Leon Lai Ming, Chen Dao-Ming, Anthony Wong Chau-Sang, Eric Tsang Chi-Wai, Sammi Cheng Sau-Man, Kelly Chen, Elva Hsiao, Chapman To Man-Chat,Gordon Lam Ka-Tung, Edison Chen, Shawn Yue, Ng Ting-Yip, Carina Lau Ka-Ling, Waise Lee Chi-Hung

4 de março de 2012

Lifeline (Urgência Máxima/1997)

lifeline Se correr o bicho pega se ficar o bicho come.

Bombeiros protagonizando filmes são raros. Tal temática é pouco utilizado pelos cineastas por diversos motivos. É complicado não conceber personagens unidimensionais, uma vez que a sociedade tratam esses profissionais como heróis. Assim como pouco tem a oferecer em cenas de ações sem cair na repetição. A grande sacada de Johnnie To é retratá-los como humanos, explorando os conflitos pessoais e profissionais.

Lifeline pode ser divido em duas partes. A primeira parte é centrada no desenvolvimento dos personagens. Johnnie To explora bem a personalidade de cada um, assim como suas vidas particulares. Porém nesse ponto, o mérito mesmo cabe aos atores. As atuações são sólidas, mesmo em momentos menos inspirados do roteiro. O grande destaque fica pelo seus dois protagonistas. Lau Ching-Wai e Alex Fong. Cada um tem suas questões pessoais a serem resolvidas, mas há também a rivalidade profissional entre ambos.

O conflito não se limita somente aos dois, devido a divergências no estilo de liderança, mas também ao restante do esquadrão. Por azar, eles são conhecidos como um esquadrão amaldiçoado. Isso traz incerteza e falta de autoconfiança para qualquer um.

A parte final é grandiosa, com uma boa dose de ação e tensão. Com os personagens devidamente estabelecidos, é fácil se importar pela vida de cada um. É aí que Johnnie To se destaca. A sequência do incêndio é uma das mais espetaculares já filmado. Apesar do baixo orçamento, esta é bastante realista nos detalhes.

O filme diverte com suas várias sub-tramas sem apelar para a melodrama. E ainda tem espaço para alguns temas comuns na filmografia de Johnnie To como companheirismo. É cativante assistir como que aquele grupo de bombeiros, através da perseverança e trabalho em equipe, conseguem superar o estigma e aprendem valorizar o companheirismo.

Hong Kong feelings: 4/5

Título original: 十萬火急 (Sap Maan Fok Gap)

Diretor: Johnnie To

Elenco: Lau Ching-Wan, Alex Fong Chung-Sun, Carman Lee Yeuk-Tung, Ruby Wong Cheuk-Ling, Damian Lau Chung-Yun, Raymond Wong Ho-Yin