15 de abril de 2012

Protègè (O Protegido/2007)

protege Da direita para esquerda: Louis Koo, Anita Yeun, Andy Lau, Daniel Wu e Zhang Jingchu

O policial Nick está há mais de 7 anos infiltrado nas operações de um mega-traficante de heroína. Nesse meio tempo ele se torna o braço direito de Quin. Acompanhamos o seu dia a dia, quando Nick, ironicamente, conhece Jane, uma usuária de heroína. Ao mesmo tempo que tenta lidar com a problemática vizinha, ele tem que gerenciar os choques de interesse entre seus dois “patrões”.

Além da temática sobre drogas, outras questões são exploradas pelo filme. A principal delas é a relação ambígua de Nick com a polícia e o crime organizado. Ao longo do filme essas intricadas relações que cerceiam ele vão ficando cada vez mais complexa. Ao mesmo tempo que este é o elemento que torna o filme interessantíssimo é também o mais frágil.

O diretor Derek Yee conduz bem a trama, com o filme ganhando ritmo e tensão no seu desenrolar. O diretor lança questões interessantes como a falta de interesse de Quin em entender os seus “consumidores” ao mesmo tempo que se sente frustrado diante de sua filha adolescente fumante e problemática. Outra cena provocante é quando traficante e produtor de ópio fazem uma avaliação econômica do mercado com dados da ONU. Porém o potencial total do enredo não é atingido seja pela falta de profundidade dos temas abordados, seja pelo desenvolvimento incompleto dos personagens.

Assim como o roteiro, as atuações são boas porém nada que seja brilhante. Daniel Wu como Nick lhe falta intensidade para um personagem que deveria estar a beira do abismo. Já Andy Lau consegue interpretar muito bem a fragilidade de Quin, causado por problemas renais, ao mesmo tempo que seu personagem amoral se sente incerto sobre seu futuro por conta da doença. Ora o simpatizamos, ora repudiamos. Zhang Jingchu mostra competência ao interpretar Jane. O destaque negativo é Louis Koo. Apesar do pouco tempo de tela e um personagem secundário destoante, o ator consegue entregar uma péssima atuação. A relação conturbada entre Jane, seu marido, a filha e as drogas acaba sendo mal discutida.

Derek Yee não entrega o que prometeu na cena de prólogo, mas ainda sim é um filme sólido com poucas falhas. Nick se defronta com vários dilemas, mas o personagem parece conseguir lidar com certa tranquilidade a maioria delas. Este detalhe é o que faz o filme ser bom, quando poderia ser excelente. A grande cena fica sendo sua mensagem anti-drogas que desfecha o filme.

Hong Kong feelings: 3,5/5

Título original: 門徒 (Moon to)

Diretor: Derek Yee Tung-Sing

Elenco: Daniel Wu, Andy Lau Tak-Wah, Louis Koo Tin-Lok, Anita Yuen Wing-Wee, Zhang Jingchu, Derek Yee Tung-Sing, Liu Kai-Chi

8 de abril de 2012

A Chinese Odyssey Part 2: Cinderella (Odisseia Chinesa Parte 2: Cinderela/1995)

acoc Hail to the king, baby!

A segunda da parte da odisseia chinesa traz o fim da jornada do Macaco-Rei em busca de redenção. Pode-se dizer que nessa parte é onde a jornada realmente começa. O filme se esforça em consertar os erros do anterior e reforçar os pontos positivos. A comédia não mais dita o ritmo do filme, abrindo espaço para uma história centrada nos elementos budistas da obra.

O filme começa do ponto onde o anterior terminou. Continuando a aventura, Joker usa a Caixa de Pandora e volta 500 atrás onde tudo começou. Ele encontra com o seu destino. O começo é um tanto arrastado, mas bem menos enrolado que o antecessor, com o roteiro sendo desenvolvido de forma lenta. O filme ganha momento quando Joker encontra o seu mestre, o Monge da Longevidade. Law Kar-Ying consegue ser irritantemente hilário, transmitindo bem a capacidade do seu personagem de levar os outros à loucura. A partir desse ponto até a parte final do filme, a escalada é épica.

O roteiro tem alguns problemas, pois algumas informações sobre os personagens ficam faltando. As motivações de Zixia em abandonar o seu posto de Imortal, dentro do universo do filme um ser que atingiu o Nirvana, para buscar um amor carnal não são explicadas em momento nenhum. Zixia deveria servir de contraponto ao Macaco-Rei, pois enquanto um tenta voltar ao Reino Celestial o outro decide abandonar. Outros personagens também sofrem com uma vaga introdução de quem são, sendo necessário conhecê-los previamente de outras adaptações ou do livro original.

No primeiro filme, a rusga entre o Macaco-Rei e Ping Ping foi construída de maneira implícita uma vez que os acontecimentos eram de 500 anos atrás. No segundo filme, fica claro que o personagem de Chow era um mulherengo. Tal elemento é mal explorado, pois o foco é no triângulo amoroso envolvendo Ping Ping, Zixia e Joker. Mas a recusa do diretor em prover motivações, quando revela é de forma indireta, aliena o expectador sobre o porque das escolhas e preferências de Joker. Inclusive, Karen Mok que foi o grande destaque do primeiro filme, só faz uma breve aparição neste apesar de ser o grande motivo por detrás das ações de Joker.

Ainda sim o talento de Anthena Chu e Stephen Chow sustentam o filme, com o romance de Zixia e Joker rivalizando com o de Ping Ping e Joker no primeiro filme. Apesar de sua delicada fisionomia causar indiferença em um primeiro momento, a atriz consegue cativar o expectador com uma excelente atuação. Mas ela não chega a eclipsar o personagem principal, como aconteceu no filme anterior. Pelo contrário, Stephen Chow é o centro das atenções sem sombra de dúvidas. Seu Joker é um personagem mais completo com seus inúmeros dilemas. Mas o ápice da atuação é quando ele se transforma no Macaco-Rei. Chow encarna a figura folclórica com grande paixão. O ator literalmente desaparece na pesada maquiagem dando vida ao personagem mais fascinante do filme. O trejeito, tom de voz, maneirismo, ele construiu uma versão definitiva do Macaco-Rei.

O personagem extrai ainda mais do talento de Chow quando este tem que lidar de forma definitiva os dilemas que o atormentam. Méritos também para o diretor Jeff Lau. Nessa segunda parte fica claro que a decisão dos produtores em dividir em dois filmes por questões mercadológicas prejudicou o trabalho de edição do diretor. Os pontos baixos do filme certamente não são ruins. Os aspectos técnicos são ótimos dentro das limitações orçamentárias e tecnológicas.

Apesar de ter cenas engraçadíssimas, o filme se destaca pelos momentos de romance e drama. As cenas de luta também agradarão os fãs de artes marciais. Stephen Chow oferece uma das melhores atuações de sua carreira, se não a melhor. É triste que Macaco-Rei tenha aparecido em sua forma plena somente nos momentos finais do filme, poucos minutos para um personagem tão memorável. A imersão de Chow dentro do personagem é comparável ao trabalho de Heath Legder com o seu psicótico Coringa em Cavaleiro das Trevas. A Odisseia Chinesa é um clássico do cinema de Hong Kong.

Hong Kong feelings: 4,5/5

Título original: 西遊記 II 仙履奇緣

Diretor: Jeff Lau

Elenco: Stephen Chow Sing-Chi, Ng Man-Tat, Athena Chu Yun, Ada Choi Siu-Fun, Yammie Nam Kit-Ying, Karen Mok Man-Wai, Kong Yeuk, Luk Su-Ming, Ng Yuk-Kan, Jeff Lau Chun-Wai, Law Kar-Ying.