7 de dezembro de 2012

As Tears Go By (Carmen de Mongkok/1988)

atgb Andy Lau e Maggie Cheung ao som de Take my breath away.

Muito antes de “ganhar” o status de auteur, Wong Kar-Wai era somente um obscuro roteirista de filmes genéricos. As Tears Go By marca a estreia de Wong Kar-Wai como diretor de um filme. E não poderia ser em outro gênero que não fosse o mais representativo do cinema de Hong Kong.

As Tears Go By é um melodrama cujo personagem central é um membro inferior da tríade interpretado por Andy Lau. Wah é uma pessoa pouco ambiciosa o que reflete em sua baixa posição hierárquica dentro da organização, apesar de ter o respeito dos chefes da tríade. Seu único subordinado é Fly (Jacky Cheung), que se mete em confusão por conta de seu pavio curto. Para piorar Fly tenta sempre provar a si mesmo que é um importante membro da tríade arrumando encrenca com o perigoso Tony (Alex Man), o que leva a Wah sempre salvá-lo das enrascadas.

Paralelamente, Wah conhece sua prima Ngor que veio da Ilha de Lantau para Mongkok consultar um médico. Ao contrário da subtrama formulaica envolvendo Wah e Fly, Wong Kar-Wai demostra seu talento para falar sobre o romance entre Ngor e Wah se utilizando de uma narrativa pouco convencional. Este filme também seja o único da filmografia de Wong onde um roteiro completo foi escrito, o que resulta em várias passagens que são um tanto quanto previsíveis. O modo de trabalho em seus próximos filmes sofreria uma mudança radical com a abolição do roteiro, somente existindo rascunhos de ideias.

Por conta do roteiro, o filme possui uma narrativa bastante linear. As Tears Go By é no fundo um filme convencional, mas nota-se algumas sementes do que se tornaria o estilo de direção de Wong Kar-Wai único. Em algumas cenas é possível observar alguns experimentos com a câmera, criando efeitos interessantíssimos. Mas não tem um impacto tão profundo na narrativa nem na experiência do filme. Também há de se considerar que o início da vindoura parceria com o diretor de fotografia Christopher Doyle ocorre somente no filme seguinte. Para quem já viu outros filmes de Wong Kar-Wai, em As Tears Go By falta um jogo de cores entre as cenas. Mas uma coisa ele já demonstrava ter um grande talento.

O talento de um diretor pode ser medido, não somente pela capacidade de extrair atuações fantásticas de grandes atores, mas principalmente pela capacidade de extrair excelentes atuações de atores limitados. E em neste filme de estreia, Wong Kar-Wai conseguiu um feito incrível. No elenco está nada menos que o astro pop Andy Lau. Posteriormente, o cantor provou ser um grande ator, mas naquela época era nada além de um ator medíocre, apesar de esforçado. A sua atuação neste filme é simplesmente fantástica, sem seus habituais maneirismos irritantes, ainda mais se comparando com os outros filmes da década de 80 estrelados por ele. Outra escolha muito feliz foi da Maggie Cheung para Ngor. Para a atriz, o filme foi um marco pessoal pois foi a partir de As Tears Go By que ela viu que levava jeito para atuar. Maggie Cheung ainda voltaria a trabalhar com Wong Kar-Wai em mais quatro filmes, se tornando a musa predileta do diretor.

Outra escolha (estranha, mas para atender a interesses comerciais dos produtores) que se mostra igualmente acertada foi a inclusão do astro pop Jacky Cheung. Assim como Andy Lau, Jacky Cheung é conhecido pelas suas atuações exageradas e muitas vezes irritante. Mas nas mãos de Wong Kar-Wai, Jacky tem uma das melhores atuações de sua carreira. O seu personagem Fly é incrivelmente carismático apesar de ser extremamente importuno. Alex Man também é outro que entrega a melhor atuação de sua carreira como o antagonista de Jacky Cheung e Andy Lau.

Em sua estreia, Wong Kar-Wai dirige seu filme mais acessível. Porém o filme sofre de um grande problema, as duas tramas do filme, apesar de serem muito boas, faltam uma coesão entre elas. Ao final parece que são duas histórias distintas mesmo Wah sendo o personagem em comum. Mesmo assim, o filme foi sucesso de crítica e público, o que foi importante para que Wong pudesse prosseguir com a carreira e para que em seus filmes seguintes se estabelecesse como um dos grandes diretores de Hong Kong.

Hong Kong feelings: 3,5/5

Título original: 旺角卡門 (Wong Kok Ka Moon)

Diretor: Wong Kar-Wai

Elenco: Andy Lau Tak-Wah, Maggie Cheung man-Yuk, Jacky Cheung Hok-Yau, Alex Man Chi-Leung, Ronald Wong Ban, Kong To-Hoi, Ang Wong, Huang Pa-Ching.

3 de dezembro de 2012

Overheard (Overheard–Informações Sigilosas/2009)

overheard Daniel Wu  (esquerda), Lau Ching-Wan (centro) e Louis Koo (direita)

Dos aclamados diretores da trilogia Infernal Affairs, Alan Mak e Felix Chong retomam a parceria para mais um filme de suspense envolvendo policiais, mas que neste filme enfrentam criminosos de colarinho branco. Com uma dupla renomada de diretores e um elenco respeitável, a enorme expectativa criada sobre Overheard é mais do que justificado.

O resultado é filme comercial sólido, com boas atuações e uma narrativa com poucos tropeços. O filme colheu críticas boas em geral e foi um sucesso de público. Alan Mak e Felix Chong entregam um filme que consegue entreter com bastante tensão e algumas surpresas. Porém não espere por um novo Infernal Affairs, apesar de guardar alguns resquícios do filme mais sucedido da dupla.

A história de Overheard gira em torno de três policiais do Departamento de Crimes Comerciais (CCB) da Polícia de Hong Kong. O trabalho de Johnny (Lau Ching-Wan), Gene (Louis Koo) e Max (Daniel Wu) é de espionar a empresa E&T suspeita de manipular suas próprias ações na bolsa de valores e de outros esquemas ilegais. As câmeras e os microfones escondidos no escritório transformam o trabalho dos policiais numa espécie de Big Brother. A princípio nada de suspeito acontece, no máximo flagram um dos executivos, Sr. Low (Waise Lee), dando uns amassos na deliciosa atriz Queenie Chu. Porém quando o trio de policiais escutam sobre o esquema de manipulação das ações se sentem tentados a aproveitar para ganhar uma grana preta.

Claro que tal atitude é completamente antiético, porém cada um têm suas motivações para se inclinarem a cometer tal delito. Gene sofre de câncer terminal e, sem dinheiro, ele observa aquilo como uma oportunidade de deixar para sua família um bom patrimônio. Max se deslumbra com a possibilidade de ficar rico e logo apoio a ideia de apagar as gravações incriminadoras para tirar vantagem das informações privilegiadas. Já Johnny é um policial correto e se sente incomodado com aquela situação. Não somente pela conduta dos seus colegas, mas pelo seu próprio dilema moral: Johnny tem um caso com Mandy (Zhang Jingchu), a mulher de seu amigo e também policial Kelvin (Alex Fong).

Porém seguindo um ditado de Wall Street, não existe almoço grátis. O uso dessas informações logo trará problema para os policias. E é nesse ponto do filme que surge o vilão Sr. Ma, responsável por todas essas falcatruas e manipulações, interpretado epicamente pelo péssimo Michael Wong. É incrível como ele consegue permanecer na indústria apesar de ser muito fraco tecnicamente. Descendente de chinês, ele nasceu nos EUA. Depois de formar no ensino médio, Wong decidiu cruzar o Pacífico e tentar a sorte em Hong Kong como ator. Fluente em inglês mas não em cantonês, tal peculiaridade é sua marca registrada. Michael Wong mescla frases em chinês e inglês numa combinação bizarra, mas nunca sabemos se isso é improvisado ou faz parte embebedar os roteiristas e incluir linhas de diálogo apropriadas para o calibre do ator.

Ao menos, a atuação de Michael Wong é balanceada pela boa atuação do trio de atores principais. Louis Koo demonstra uma evolução constante e interpreta bem a fragilidade e desespero de Gene. Daniel Wu encarna perfeitamente o ingênuo policial Max. Já Lau Ching-Wan, o melhor ator disparado do elenco do filme, interpreta com bastante efetividade a ambiguidade de Johnny.

O principal defeito do filme é quando o roteiro se vê obrigado a apagar o tom cinza da narrativa para atender aos interesses comerciais. Infelizmente, a China continental se tornou o principal mercado do decadente cinema de Hong Kong e os filmes devem passar antes pela censura chinesa para que possam ser comercializados por lá. Overheard sofreu muitos problemas, inclusive obrigando os codiretores a refilmar cenas e editar outras, para atender as exigências do órgão de censura chinesa. A cena final, onde o bem triunfa sobre o mal, é ridícula, talvez até sendo, ouso dizer, uma crítica velada ao problema de censura que o filme sofreu durante a sua produção.

Hong Kong feelings: 3,5/5

Título original: 竊聽風雲 (Sit yan fung wan)

Diretor: Alan Mak Siu-Fai, Felix Chong Man-Keung

Elenco: Lau Ching-Wan, Louis Koo Tin-Lok, Daniel Wu, Alex Fong Chung-Sun, Zhang Jingchu, Lam Ka-Wah, Michael Wong Mun-Tak, Waise Lee Chi-Hung, William Chn Wai-Tung, Sharon Luk Tze-Wan, Stephen Au Kam-Tong, Queenie Chu Wai-Man, Felix Lok Ying-Kwan, Henry Fong Ping.

18 de novembro de 2012

Love on Delivery (Amor Expresso/1994)

lodHo Kam-An aka Ultraman (Stephen Chow) encara seu desafeto (Lam Kwok-Bun)

Stephen Chow estreia na direção como codiretor. O resultado não poderia ser menos que formidável. Love on Delivery é um filme de comédia puro sendo facilmente um dos mais hilários de toda sua filmografia. É um daqueles raros filmes capazes de arrancar lágrimas de tanto gargalhar.

Ho Kam-An é um inocente entregador de dim-sum que se apaixona pela musa do clube do judô. Ho se mete em confusão atrás de confusão, sempre levando a pior. Até que um dia ele conhece Tat, Devil Killer, que se apresenta como um fodástico mestre de kung fu, porém na realidade é só um charlatão que passa a perna facilmente no herói do filme. Porém, por incrível que pareça ele se torna um invencível mestre de artes marciais, a ponto de vestir uma mascara de Garfield e proteger sua amada Lily.

A química entre Ng Man-Tat e Stephen Chow é absurdamente estupenda. Ng Man-Tat em seu papel de mentor de Ho esbanja perspicácia e malícia. Personalidade completamente oposta do seu ingênuo e dócil pupilo. Sempre que ambos dividem uma cena em qualquer filme é de se esperar algo extremamente engraçado independentemente do tipo de personagen estejam interpretando, e neste filme não é diferente. Completando a dupla, Christy Chung mostra carisma suficiente para encantar o nosso ingênuo herói e o expectador. Lily possui uma forte personalidade para se proteger das investidas do seu instrutor de judô.

Love on Delivery é uma metralhadora de gags, incluindo piadas envolvendo fantasias de Ultramen a Garfield. As cenas são uma mais engraçada que a outra. Stephen Chow adiciona mais um personagem memorável em seu vasto repertório. O seu personagem ingênuo e a sequência de gags lembra bastante os primeiros filmes de Jim Carrey, com a diferença que Chow é um ator muito mais completo.

A luta final consegue a façanha de ser a cena mais engraçada do filme, ao mesmo tempo sendo muito empolgante. O trabalho de Stephen Chow tanto como ator quanto como diretor é magnífica. O filme não se torna cansativo em nenhum momento apesar de sua quantidade infinita de gags além de ter um ritmo fluído, mesmo com sua longa duração. Para os fãs do “Deus da Comédia”, Love on Delivery é imperdível.

Hong Kong feelings: 5/5

Título original: 破壞之王 (Poh Waai Ji Wong)

Diretor: Stephen Chow Sing-Chi, Lee Lik-Chee

Elenco: Stephen Chow Sing-Chi, Ng Man-Tat, Christy Chung Lai-Tai, Lam Kwok-Bun, Wong Yat-Fei, Vincent Kok Tak-Chiu, Leo Koo Ka-Kui, Joe Cheng Bo, Lee Lik-Chee, Paul Chun Pui, Gabriel “Turtle” Wong Yat-San, Leung Wing-Chung.

12 de novembro de 2012

Prison on Fire (Prisoneiro do Inferno/1987)

prisononfireChung (Chow Yun-Fat) a esquerda e Hung (Roy Cheung) a direita.

No mesmo ano que o aclamado City on Fire estreou, a colaboração entre Ringo Lam e Chow Yun-Fat rendeu outro fruto. Prison on Fire conta a história de Lo Ka Yiu (Tony Leung Ka Fai), um moço de família prestes a noivar e que ajuda o pai no negócio de mercearia. Porém, um dia Lo acidentalmente mata um delinquente ao tentar proteger o seu pai. Injustamente ele é sentenciado a cumprir pena na cadeia.

A ingenuidade de Lo logo lhe trará problemas com os perigosos chefes de gangues Micky (Ho Ka-Kui) e Bill (Tommy Wong). Para sorte de Lo, ele acaba conhecendo Chung (Chow Yun-Fat) que o ajudará a sobreviver nesse ambiente tão hostil.

Só com a atuação carismática de Chow Yun-Fat (o que é chover no molhado) já transforma Prison on Fire num grande filme. Mas a presença de Tony Leung Ka Fai, apesar de não se destacar nas principais cenas por falta de oportunidade dadas pelo roteiro, é uma das peças fundamentais do filme. A interação entre o ingênuo e tímido Lo e Chung, brincalhão mas hábil político, é o que torna a história do filme tão envolvente. A construção dos laços de amizade entre Chung e Lo é um dos pilares que move o filme.

Outro pilar do filme, mesmo sendo secundário, é Hung. Roy Cheung é um ator bastante subestimado pelo público e pelos críticos, mas neste filme sua atuação, em diversos momentos, é capaz de rivalizar com a atuação de Chow Yun-Fat e de Tony Leung Ka Fai. O seu diretor do presídio não é retratado como alguém que faz da vida dos detentos um inferno por ser um cara perverso, mas ele faz da vida deles um inferno pois sabe que a qualquer momento pode ser esfaqueado pelas costas. Apesar de apelar para o uso da violência quando julga necessário, Hung prefere um canal mais diplomático ao instigar as rivalidades entre as diversas facções dentro da cadeia. O antagonismo entre Roy Cheung com os detentos, principalmente com Chung, é formidável.

Ringo Lam retrata muito bem a politicagem que existe dentro da prisão. Mesmo os criminosos e agentes do Estado serem duas entidades opostas é necessário certos arranjos para que ambos possam coexistir em um mesmo espaço. Enquanto Lo é incapaz de compreender aquele universo por ser uma pessoa do bem, Chung compreende como poucos as regras não escritas e aproveita-se desse conhecimento para manter uma boa relação com os outros detentos e com os carcereiros.

No entanto, o filme jamais se propõe a fazer um estudo minucioso sobre as relações de poder que se manifestam ali dentro da prisão. O diretor prefere, a partir desta contextualização, focar nos personagens e suas interações diante de determinadas situações.  Prison on Fire pode não ter uma trama brilhante, mas Ringo Lam transforma o argumento em um ótimo drama com personagens memoráveis e intensas emoções.

Hong Kong feelings: 4,5/5

Título Original: 監獄風雲 (Gam Yuk Fung Wang)

Diretor: Ringo Lam Ling-Tung

Elenco: Chow Yun-Fat, Tony Leung Ka-Fai, Tommy Wong Kwong-Leung, Roy Cheung, Yiu-Yueng, Victor Hon Kwan, Ho Ka-Kui, Shing Fui-On, Ng Chi-Hung.

30 de outubro de 2012

Motorway (Motorway - Dirigindo sem limites/2012)

motorway‘Need for Speed’ feelings

Motorway é o mais novo filme da Milkyway, produtora do lendário diretor Johnny To. O filme se passa em Hong Kong cuja polícia possui um grupo chamado de “Esquadrão Invisível”, policiais que andam em carros comuns para pegar em flagrante os motoristas que se acham pilotos de corrida.

A trama é a mais genérica possível. Cheung (Shawn Yue) é um dos membros desse esquadrão, e que nas horas vagas é um piloto de racha que tenta fazer justiça com as próprias mãos quando não consegue prender como um agente da lei. Tal vida dupla não traz problemas para ele, inclusive é aceita pelo seu parceiro. O parceiro e mentor do impulsivo Cheung é o veterano policial Lo (Anthony Wong).

Porém tudo muda quando Jiang (Guo Xiaodong) aparece em parceria com o criminoso Wong (Li Hai-To). Jiang é um lendário piloto que nunca foi preso pela polícia. Cheung casualmente tentará prendê-lo, mas no primeiro encontro descobre que sua técnica de pilotagem é muito inferior. Além de preparar com cuidado suas rotas de fuga, Jiang usa técnicas pouco ortodoxas para se livrar de seus perseguidores, como por exemplo criar uma cortina de fumaça queimando os pneus. Apesar de Jiang ser o personagem mais interessante, o papel somente exige de Guo Xiadong uma cara calma de quem tem sempre controle da situação.

No elenco temos nomes familiares em produções da Milkyway. Gordon Lam interpreta o chefe de Cheung e Lo, respectivamente Shawn Yue e Anthony Wong. Assistir o veterano ator é sempre divertido, mesmo sendo clichê dos clichês o seu policial estar contando os dias da aposentadoria. Shawn Yue oferece uma atuação sem falhas, mas nada brilhante por conta de um personagem com desenvolvimento incompleto. O roteiro poderia muito bem explorar a relação ambígua de Cheung com a lei e sua paixão pela velocidade. A relação entre pupilo e mestre funciona graças a boa química que existe entre ambos os atores.

Essa relação entre pupilo e mestre também pode ser estendida a direção. A cada filme que dirige, Soi Cheang mostra nítida evolução nos aspectos técnicos. O diretor parece ter herdado do produtor Johnnie To o talento para filmar cenas visualmente apuradas e impecáveis. Ainda está longe de chegar perto do nível do mestre, precisando evoluir outros aspectos. Mas isso só acontecerá quando aparecer as oportunidades de dirigir projetos mais pessoais.

Do ponto de vista técnico, Motorway é impecável com cenas de perseguição muito bem filmadas, sendo algumas bastante criativas. Porém sendo um filme produzido pela Milkyway, talvez o aspecto decepcionante seja a falta de personagens memoráveis. O personagem mais interessante acaba sendo Jiang, pois sempre ficamos na expectativa do que ele fará para se livrar dos policiais em seu encalço. Ainda que filme recicle várias ideias de filmes, inclusive, da própria produtora, este diverte bastante ao que se propõem.

Hong Kong feelings: 3,5/5

Título original: 車手 (Che Sau)

Diretor: Soi Cheang Pou-Soi

Elenco: Shawn Yue, Anthony Wong Chau-Sang, Guo Xiao-Dong, Barbie Hsu, Michelle Ye, Gordon Lam Ka-Tung, Josie Ho Chiu-Yi, Li Hai-Tao, Li Guagjie, Wilfred Lau Ho-Lung, Anson Leung Chun-Yat.

28 de outubro de 2012

The Untold Story (A história macabra de um restaurante/1993)

untold story Wong afiando o cutelo no esmeril.

Em uma praia de Macau, crianças descobrem uma sacola de feira com diversos membros humanos. Um grupo de policiais liderados pelo Detetive Lee são encarregados por investigar o caso. Uma das mãos pertencia  mãe do ex-dono do restaurante ‘Os Oito Imortais’; ele e a família toda estava desaparecida, assim como vários funcionários do restaurante. The Untold Story é baseado em fatos reais.

As suspeitas caem em cima de Wong, atual dono e um ex-funcionário do próprio restaurante. Apesar dos indícios, os policiais tem um grande problema, pois, não existe provas que incriminem Wong, além dele afirmar veementemente desconhecer o paradeiro do ex-patrão. O que parecia ser um caso simples, se torna complicado pois agora os policiais precisariam ir atrás das provas. Provas que haviam sido transformadas em deliciosos pães recheados e que foram devorados pelos clientes do restaurante. E pelos próprios policiais!

Se alguns filmes de terror acabam sem querer se transformando em filmes de comédia, com The Untold Story não existe tal problema pois o filme abraça com louvor criando uma estranha combinação que por incrível que pareça funciona. O grupo de policiais são retratados como um bando de zero à esquerda. Danny Lee interpreta o detetive playboy que fará de tudo para arrancar uma confissão do Wong.

O serial-killer é interpretado por Anthony Wong. Wong começou sua carreira de ator na televisão, posteriormente entrou para a academia de artes cênicas de Hong Kong. O ator estreou no cinema em 1985, mas o papel em Untold Story foi que catapultou sua carreira. Sua atuação é simplesmente visceral, poucos atores conseguem interpretar o seu nível de psicopatia. Tanto que recebeu o prêmio de melhor ator no Hong Kong Film Awards daquele ano. Um feito e tanto para um filme de baixo orçamento em um gênero pouco conhecido por atuações premiadas.

O filme é perturbador não somente pela atuação de Wong, mas pelo incrível trabalho do diretor Herman Yau. Ao contrário de filmes, como por exemplo ‘O Albergue’, que apelam para uma violência pornográfica, o diretor em nenhum momento mostra de forma explicita as cenas de desmembramento. A câmera, posicionada sempre no limite da ação, é mais do que suficiente para sentirmos repugnância com a situação. Por conta do seu conteúdo extremamente violento, o filme foi classificado na Cat III (Categoria III), indicação que proíbe a exibição para pessoas menores de 18 anos. Essa categoria enquadra a maioria dos filmes B e C produzidos em Hong Kong, além de alguns filmes que o governo julgue conter apologia às tríades.

The Untold Story é filme terror que consegue engajar o expectador com um personagem sensacional interpretado por um doentio Anthony Wong. Ao mesmo tempo que diverte, é necessário ter estômago para conseguir assistir certas cenas.  Uma pena que apesar de algumas tentativas em repetir a fórmula, o cinema de Hong Kong nunca tenha conseguido produzir um filme B com uma qualidade tão boa quanto esta.

Hong Kong feelings: 4/5

Título original: 八仙飯店之人肉叉燒包 (Bat sin fan dim ji yan yuk cha siu bau)

Diretor: Herman Yau Lai-To

Elenco: Anthony Wong Chau-Sang, Danny Lee Sau-Yin, Emily Kwan Bo-Wai, Lau Siu-Ming, Shing Fui-On, Parkman Wong Pak-Man, Yee Fa-Kat, Lam King-Kong, Lee Wah-Yuet, Wong Tin-Fai, Tony Leung Hung-Wah, Cheng Choh-Fai, Lee Yi-Chong, Long Chi, Si Man.

22 de outubro de 2012

PTU (PTU:Unidade de Força Tática/2003)

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Depois de quatro anos fazendo filmes comerciais, principalmente comédia romântica, Johnnie To retorna ao gênero que o consagrou. Para elevar ainda mais a ansiedade dos fãs, entre várias pausas das filmagens o filme levou quase um ano para ser produzido.

O filme começa quando Sargento Lo Sa (Lam Suet) perde sua arma depois de apanhar para um grupo de delinquentes. Um grupo de policiais da PTU se prontificam em ajudar o companheiro à encontrar sua arma. O veterano policial Mike (Simon Yam) lidera o grupo pelas vielas e prédios abandonados de Hong Kong. Já a Inspetora Cheng lidera um grupo de políciais da CID que investiga a morte de Ponytail, chefe do grupo de delinquentes que atacaram Sargento Lo. O método de investigação pouco ortodoxo de ambos os grupos é até certo ponto eficiente, mas questionável. O tom cinza impera entre os personagens, principalmente entre os agentes da lei.

Johnnie To sutilmente discute a disputa de egos que existe entre as facções dentro da polícia de Hong Kong e dentro das tríades. Essas cenas possuem diálogos mínimos como é marca registrada do diretor. Para PTU, Johnny To chamou Lam Suet para interpretar o Sargento Lo, tendo uma das melhores atuações de sua carreira. Simon Yam, outra figura carimbada na filmografia do diretor, imbuí Mike de uma ambiguidade que é fascinante. Ruby Wong e Maggie Siu são adições bem vindas, ao quebrar um pouco o paradigma de um universo tipicamente masculino, apesar de seus personagens não serem tão interessantes assim.

No entanto, o personagem principal do filme sem sombra de dúvidas é uma Hong Kong soturna. Ambientação noturna confere a cidade uma aura completamente diferente da metrópole frenética mundialmente conhecida. E dentro dela acompanhamos as idas e vindas de dois grupos de patrulha da Unidade de Força Tática (PTU), outro grupo da Divisão de Investigação Criminal (CID), duas facções da tríade e o Sargento Lo nadando entre esses tubarões. Nessa longínqua noite, uma espiral de eventos acaba culminando em uma verdadeira guerra.

No entanto, o final é totalmente anticlimático. A cena final de profunda ironia não é o problema, pelo contrário. Mas a reviravolta envolvendo Mike é bem decepcionante, principalmente por apelar para o clichê do novato relembrando o veterano do seu dever como policial. Outro problema do filme é o seu ritmo excessivamente cadenciado. Mas o esmero visual com que Johnnie To filma as cenas compensam em parte os problemas.

PTU não é um filme brilhante, não chega nem perto da obra-prima The Mission.  Porém, o diretor oferece uma visão ímpar de Hong Kong, serena mas igualmente perigosa.

Hong Kong feelings: 3,5/5

Título original: PTU

Diretor: Johnnie To Kei-Fung

Elenco: Simon Yan Tat-Wah, Lam Suet, Maggie Siu Mei-Kei, Ruby Wong Cheuk-Ling, Raymond Wong Ho-Yin, Eddie Ko Hung, Wong Tin-lam, Lo Hoi-Pong, Kenneth Cheung.

11 de outubro de 2012

City on Fire (Perigo Extremo/1987)

image Danny Lee (esquerda) e Chow Yun-Fat (direita): amigos ou inimigos?

A parceria entre Chow Yun-Fat e John Woo foi uma das mais vitoriosas do cinema de Hong Kong. Mas outro diretor que teve um papel importante na carreira do ator foi certamente Ringo Lam. Em City on Fire, o diretor preferiu investir no drama, com poucas cenas de tiro e nenhuma chegando perto do nível técnico estabelecido por John Woo.

Neste filme, Chow Yun-Fat é o policial Ko Chow que age infiltrado no submundo do crime. O filme explora o conflito moral de Ko, pois este sabe que a qualquer momento terá que prender aqueles com quem construiu laços de lealdade. Apesar de Ko Chow estar cansado dessa vida dupla, Inspetor Lau (Sun Yueh) sempre insiste em um último trabalho. Além disso sua namorada Hung (Carrie Ng) lhe dá um ultimato. Para a angústia de Ko, ele acaba sempre aceitado colocar o chamado do dever acima de sua felicidade.

Eventualmente Ko Chow se torna amigo de Fu, um ladrão de joalherias, interpretado por Danny Lee. Ambos tem bastante características em comum, aliado à atuação carismática de seus respectivos atores, o que torna o destino dessa amizade bastante trágica.  Ao mesmo tempo, o policial infiltrado tem sob seu encalço um detetive novato e extremamente ambicioso interpretado por Roy Cheung que quer ocupar a posição do Inspetor Lau. A tensão é muito bem construída até o seu clímax, onde Ko deverá fazer sua derradeira escolha entre lealdade e justiça.

Ringo Lam consegue explorar toda a versatilidade de Chow Yun-Fat. Ao lidar com cada vez mais dilemas, o seu personagem vai se tornando mais angustiado. Nos simpatizamos com Ko ainda mais quando Chow transmite um fio de esperança nos momentos que o personagem se permite descontrair por um breve momento antes que a sua vida de policial infiltrado caia como um martelo em sua cabeça.

Para quem já viu Cães de Aluguel, dentre as milhares de referências que o filme de Tarantino faz algumas são em relação à City on Fire. Por exemplo, os eventos após um desastrado assalto à uma joalheria. O próprio diretor estadunidense é um fã assumido deste filme.

City on Fire investe em uma trama rica com diversos choques de interesses entre os vários personagens. Esses diversos personagens, inclusive os secundários, são bens desenvolvidos. Chow Yun-Fat e Danny Lee oferecem sólidas atuações, mesmo não sendo suas melhores. Outro que está acima da média é o subestimado e versátil Roy Cheung que transforma o seu detetive em um personagem extremamente detestável. Com poucos defeitos, City on Fire é um dos melhores filmes de Ringo Lam. Uma pena que o diretor tenha cruzado o Pacífico para ser diretor de Jean Claude Van Damme em filmes, na sua maioria, lançados diretos para o mercado de DVD.

Hong Kong feelings: 4/5

Título orignal: 龍虎風雲 (Lung Fu Fong Wan)

Diretor: Ringo Lam Ling-Tung

Elenco: Chow Yun-Fat, Danny Lee Sau Yin, Roy Cheung Yiu-Yeung, Sun Yueh, Carrie Ng Kai-Lai, Ho Ka-Hui, Tsui Kam-Kong, Lau Kong, Parkman Wong Pak-Man, Tommy Wong Kwong-Leung, Maria Cordero.

16 de setembro de 2012

Drunken Master (O Mestre Bêbado/1978)

drunkenmaster Jackie Chan (direita) e Hwang Jan-Lee (esquerda) brigam por bebida.

Drunken Master conta a história do herói Wong Fei-Hong quando jovem. Interpretado por Jackie Chan, Wong Fei-Hung é retratado como um artista marcial com grande potencial, mas que possui uma arrogância da mesma proporção que seu talento. Isso o leva a arrumar todos os tipos de confusão para o desespero do pai, Wong Kei-Ying. Este último decide mandar seu filho para ser treinado por Beggar So, um velho bebum que nas horas vagas é um grande mestre de kung-fu.

O elenco tem renomados nomes. A destacar Yuen Hsia-Ten, veterano ator da Ópera de Pequim e pai do diretor. Apesar da idade avançada Yuen pai mostra desenvoltura nas cenas que exigem mais de seu físico. A atuação é divertida retratando muito bem um velhinho inofensivo, mas que na verdade é um grande mestre kung-fu do estilo “Os Oito Imortais Bêbados”. Outro destaque do elenco é Hwang Jan-Lee, famoso por ser um especialista em chutes extremamente potentes e violentos tendo a alcunha de Senhor dos super-chutes. No filme Hwang Jan-Lee é o formidável assassino Yan. Claro que Jackie Chan e ele duelam no filme, inclusive duas vezes, e certamente são os pontos altos do filme.

Mesmo com um elenco secundário de peso, Jackie Chan não faz feio. Inclusive a cena impagável do filme é dele ao imitar a Imortal Ho. Desde jovem, Chan já mostrava ser um ator extremamente carismático. Além disso, as cenas de luta que utilizam os objetos do cenário como armas estão no filme. São simples, nada que seja tão complexo como em seus filmes posteriores, mas ainda sim divertem. Com uma boa atuação e sólido desempenho nas cenas de luta, a carreira de Jackie Chan decolou a partir de Drunken Master. Do começo como dublê do Bruce Lee, ele galgou até a posição de astro de Hollywood.

Dirigido pelo lendário coreógrafo Yuen Woo-Ping, infelizmente o filme está anos-luz de ser lendário. Produzido e filmado em menos de três meses, o filme apresenta problemas visíveis de edição em diversas cenas e uma trilha sonora quase inexistente. No entanto, no quesito em que é quase uma divindade no panteão do cinema de Hong Kong, Yuen Woo-Ping mostra todo o seu talento. A coreografia das cenas de luta são boas, sendo as cenas que envolvem o estilo de kung-fu bêbado as melhores.

O filme Drunken Master tem as cenas de luta como ponto positivo e negativo. São bem coreografadas mas sofrem de uma fraca edição. As atuações são boas, mas nada excepcional. No geral Drunken Master é um filme abaixo da média dentro da filmografia de Jackie Chan. Mas ainda sim, o filme foi um marco que direcionou a carreira de Jackie Chan para filmes que misturassem comédia e artes marciais. Vale a pena conferir os malabarismos de um jovem Chan e observar o quanto ele evoluiu na parte técnica e na atuação.

Hong Kong feelings: 2,5/5

Título original: 醉拳 (Jui Keun)

Diretor: Yuen Woo-Ping

Atores: Jackie Chan, Simon Yuen Hsia-Ten, Hwang Jang-Lee, Hsu Hsia, Dean Shek Tin.

27 de agosto de 2012

Initial D (Initial D–Velocidade sem limite/2005)

initial_d

Initial D é a adaptação live-action do mangá/anime homônimo. A adaptação foi filmada toda no Japão, o que revela um esforço dos produtores em se manter o mais fiel possível à obra original. O filme marca a estreia da estrela pop taiwanesa Jay Chou como ator. Além disso é dirigido pela dupla Andrew Lau e Alan Mak, diretores de Infernal Affairs.

O filme conta a história de Takumi (Jay Chou), um estudante colegial japonês que gasta seu tempo livre trabalhando no posto de gasolina. Seu melhor amigo Itsuki (Chapman To) é filho do dono do posto, além de ser o alívio cômico. Takumi tem uma queda pela colega de classe Natsuki (Anne Suzuki), mas sua grande paixão é mesmo descer pelas sinuosas estradas do monte Akina. Porém o seu talento não foi talhado pela vontade de superar seus limites competindo com outros, mas sim pela cruel rotina imposta por seu pai Bunta (Anthony Wong) de entregar tofu sempre às quatro da matina. Tal fato justifica a ignorância dos corredores locais sobre o seu grande talento para o drift.

Em um certo momento, seu talento acima do normal é descoberto e diversos corredores de outras vizinhanças começam a aparecer para desafiá-lo. E assim Takumi é introduzido nos rachas. O filme gasta bastante tempo desenvolvendo os pontos que fazem Takumi ser um exímio piloto de drift. Se a história sobre Takumi consegue ser interessante, o mesmo não se pode dizer do personagem em si. Um dos grandes problemas do filme é a impossibilidade de simpatizarmos com o personagem pela sua personalidade totalmente apática. Também não colabora a escolha do ator para interpretá-lo, pois Jay Chou se encaixa bem até demais. A falta de expressividade escancara as limitações do astro pop. E para piorar, Chou não é fluente em cantonês o que compromete ainda mais sua atuação, inclusive muitas de suas falas foram dubladas posteriormente,. Para não ser injusto, sua atuação evolui ao longo do filme, passa de insuportável para indiferente no final.

Outro personagem que tem sua quota de problemas é Ryosuke Takahashi. Ele é peça fundamental para o desenvolvimento de Takumi como piloto, mas poucas informações sobre ele são informadas. Além disso seu tempo em cena é um dos menores dentre os personagens secundários, apesar de ser um dos mais importantes. Quanto ao ator, Edison Chen faz um trabalho satisfatório.

Apesar dos pontos negativos, o filme tem carisma suficiente para que possamos nos engajar com as situações desenroladas. Méritos dos diretores que não transformaram o filme em um desfile de carros alegóricos dirigidos por personagens caricatos. O desenvolvimento da trama vai ficando interessante cada vez que descobrimos o que faz de Takumi um exímio piloto mesmo sendo somente um simples entregador de tofus. Além de tornar completamente plausível o fato dele reinar soberano mesmo com um carro muito mais limitado e nunca ter competido antes com outros pilotos. Também divertido é a atuação de Anthony Wong que interpreta interpreta Bunta, o pai de Takumi e dono de uma loja que vende tofu. A atuação de Wong com um sotaque japonês bizarro está impagável. Kenny Bee também se destaca como dono do posto de gasolina onde Takumi trabalha, além de ser rival e camarada de Bunta. Parte da graça do filme está exatamente nessa dupla de veteranos. Mas ainda sim suas atuações não são capazes de elevar o nível do filme.

O grande atrativo mesmo do filme são as cenas de drift. São muito bem montadas ainda mais considerando-se a limitação orçamentária, mas não chegam a ser espetaculares. As cenas tem algumas sacadas interessantes ao explicar a dinâmica das estratégias em vários momentos chaves das disputas. Enfim, o filme consegue ser divertido com sua trama simples e linear, porém completamente esquecível.

Hong Kong feelings: 3/5

Título original: 頭文字 D (Tau Man Ji D)

Diretores: Andrew Lau Wai-Keung, Alan Mak Siu-Fai

Elenco: Jay Chou, Edison Chen, Anne Suzuki, Anthony Wong Chau-Song, Chapman To Man-Chat, Shawn Yue, Jordan Chan Siu-Chun, Kenny Bee, Liu Genghong, Chie Tanaka, Tsuyoshi Abe.

16 de julho de 2012

Eighth Happiness (A derradeira felicidade/1988)

8happinness Chow Yun-Fat jogando todo o seu charme na colega de classe.

O festival lunar, conhecido como o ano novo chinês, é um período de festejos com muita comida e reuniões familiares. Um período também muito auspicioso para encontrar o amor da sua vida. Para aproveitar esse clima auspicioso, é tradição do cinema de Hong Kong sempre lançar filmes de comédia românticas nesse período. Em 1988, Eighth Happiness foi certamente o grande filme de comédia romântica.

Eight Happiness segue a fórmula padrão de comédia romântica. O mocinho principal conhece a mocinha de forma atípica. Os dois saem para se conhecer melhor. Algumas confusões acontecem que os fazem se separar, até que no final o casal acerta as arestas. Mas impossível detestar o filme, pois ele é muito bem filmado. Além disso o filme consegue surpreender em alguns pontos, principalmente o personagem de Chow Yun-Fat. Long tem um jeito pouco ortodoxo de se aproximar das mulheres. Chow Yun-Fat interpreta muito bem os trejeitos afeminados sem descambar totalmente para o ridículo. Além disso o personagem é o maior mulherengo da área, mesmo estando noivo da linda Do-Do (Carol Cheung).

Long possui um irmão mais velho e outro mais novo, com os três morando no mesmo teto. Fong (Raymond Wong) é uma espécie de patriarca e apresentador de um programa de culinária. Ele é um trintão que nunca namorou e um tanto desajeitado socialmente. Ele acaba se apaixonando pela cantora de ópera chinesa Hu Hsiu-Fang (Fung BoBo).  Ela tem um filho que não faz nenhuma cerimônia na hora de mostrar toda a falta de afeição pelo novo pretendente da mãe.

O diretor do filme é Johnnie To. Muito antes de fundar sua produtora Milkaway e se tornar um mestre de filmes de tríades, Johnnie To ainda dava seus primeiros passos como diretor em filmes comerciais. Mas sua habilidade em extrair o melhor dos atores é notório, mesmos em projetos mais limitados como esse. Jacky Cheung é o maior exemplo. Um ator que tende sempre ao exagero, oferece uma equilibrada interpretação de San, o irmão mais novo da trupe. Outra que se beneficia de um competente diretor é Cherie Chung que interpreta a beldade da loja departamental que nas horas vagas é tão louca quanto Long.

Entre indas e vindas, os três irmãos passarão por ilusões e desilusões amorosas, recheada de muitas risadas. Apesar dos vários personagens, as sub-tramas são simples, mas nada memorável. O filme todo não é memorável, de forma alguma chega perto dos filmes de Stephen Chow. No entanto, ainda sim é capaz de entreter e render boas risadas. Quem rouba a cena é certamente Chow Yun-Fat, seu personagem mulherengo e afeminado é simplesmente impagável. Para quem estiver atento, o filme tem algumas referências a A Better Tomorrow, inclusive com uma aparição mais do que especial no fim da última cena.

Hong Kong feelings: 3,5/5 

Título original:八星報喜 (Baat Seng Bou Hei)

Diretor: Johnnie To Kei-Fung

Elenco: Chow Yun-Fat, Raymond Wong Bak-Ming, Jacky Cheung Hok-Yau, Carol Cheng Yu-Ling, Cherie Chung Cho-Hung, Fung Bo-Bo, Michael Chow Man-Kin, Fennie Yuen Kit-Ying, Lawrence Cheng Tan-Shui, Karl Maka, Kwan Yuen Wong.

The 36th Chamber of Shaolin (A 36ª Câmara do Templo Shaolin/1978)

shaolinchamber Old but gold: Gordon Liu é Liu YangDe/San Te.

Shaw Brothers Studio foi a principal produtora de filmes em Hong Kong no século passado. Fundada em 1930, a produtora já produziu centenas de filmes, apesar de que atualmente esta está em franca decadência não chegando nem perto do seu glamour de outrora. Porém, a sua importância para o gênero de artes marciais pode-se dizer que é maior até mesmo que o grande ícone Bruce Lee. The 36th Chamber of Shaolin representa uma de suas principais joias que redefiniu o gênero.

Se passando no período que a China era controlada pela Manchúria, o jovem Liu YingDe (Gordon Liu) é filho de um humilde vendedor de frutos do mar. Durante o dia ele estuda no Colégio Chong Wen sob a tutela do Senhor Ho (Wai Wang). Vendo o seu povo oprimido pelo Império Qin, Liu decide se aliar aos rebeldes, sendo o próprio Senhor Ho um deles. Porém as forças imperiais logo descobrem as atividades clandestinas e massacram os rebeldes. O único sobrevivente é Liu que se refugia em um templo Shaolin.

Ao ser admitido no templo, Liu recebe um novo nome, San Te. Para se tornar um mestre de kung fu shaolin, ele deve passar pelas 35 câmaras do templo. Cada uma das câmaras possui um desafio diferente, sendo um mais inventivo que o outro. Ver Liu completando cada desafio é extremamente empolgante.

O filme gastar bastante tempo com a introdução, mas ela é tão importante quanto a parte do treinamento nas câmaras. As suas motivações para aprender a luta shaolin são bem claras, mas não são exatamente alinhadas com os preceitos budistas desse estilo de kung fu. O diretor soube explorar muito bem esse conflito moral que existe dentro de Liu YingDe/San Te, mas sem tornar o filme pesado demais com uma discussão filosófica que poderia mais distrair do que contribuir para o desenvolvimento do herói. Além disso é um importante elemento para explicar o título do filme.

A riqueza do personagem principal e uma trama bem trabalhada fizeram o filme uma verdadeira referência no gênero de artes marciais. O final do filme é bem polêmico e pode ser frustrante. Mas é preciso saber que essa decisão dos produtores e do diretor foi tomada diante das críticas da época que questionavam a qualidade dos filmes de artes marciais. Eles criticavam que as tramas eram quase sempre recicladas e soavam mais como uma (péssima) desculpa para o embate final entre o herói e o vilão. O final de The 36th Chamber of Shaolin tem como objetivo reforçar o que é mais importante do filme, a jornada de Liu e não o seu destino. O filme é fantástico do começo ao fim, com uma ótima trama e sequências de lutas sensacionais.

Hong Kong feelings: 4,5/5

Título original: 少林三十六房 (Siu lam san sap lok fong)

Diretor: Lau Kar-Leung

Elenco: Gordon Liu Chia-Hui, Lo Lieh, Lau Kar-Wing, Wilson Tong Wai-Shing, Wong Yue, Lee Hoi-Sang, Henry Yu Yang, Austin Wai Tin-Chi, Wai Wang.

9 de julho de 2012

In the Mood for Love (Amor à flor da pele/2000)

inthemoodforlove Quizas, quizas, quizas: Maggie Cheung e Tony Leung.

Um olhar é mais do que capaz de despertar um sentimento. A sedução desperta o desejo. Wong Kar-Wai retoma um velho tema para produzir sua obra mais elegante. Em In the Mood for Love, a sua técnica e sua peculiar linguagem cinematográfica atinge o ápice do refinamento.

Na Hong Kong da década de 60 (mas com uma atmosfera de Shanghai), Chow Mo-Wan e sua esposa se mudam para um apartamento no mesmo dia que a senhora Chan e o seu marido mudam para o apartamento ao lado. O primeiro é um escritor de novelas enquanto a senhora Chan trabalha como secretária do dono de uma agência de viagens. Chow é interpretado por Tony Leung, que por sua atuação perfeita recebeu o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes. Mas quem rouba a cena mesmo é Maggie Cheung com sua magistral Sr.ª Chan. Para a personagem é muito mais difícil aceitar e lidar com o dilema numa sociedade extremamente machista.

Com os respectivos cônjuges cada vez mais ausentes, Chow e Sr.ª Chan começam a suspeitar que ambos estão se envolvendo um relacionamento extra-conjugal. A solidão que aflige a ambos também é o sentimento em comum que os fazem se aproximar. O filme todo parece ser ditado pela balada da trilha sonora que remete ao tango.

Como se fosse uma dança, sempre observamos um dos personagens se aproximando, para que num próximo momento o outro se afaste. Esses momentos de sintonia, de hesitação e até os momentos onde um deles dá um passo errado são exaltados pelo diretor. Nesse jogo de sedução tudo é subjetivo, basta observar o olhar para ver a sintonia entre as almas daqueles dois seres que se desejam. Mas como uma força oposta, nós somos lembrados incessantemente que em seus dedos anelares jaz um objeto que condenam aqueles sentimentos. Assim hesitam em dar mais um passo adiante, pois não pode haver espaço para o sentimento de vingança nessa relação que estão construindo.

Ao mesmo tempo que o filme é um ode à arte da sedução, ele é também uma lamúria aos desejos repreendidos.  Novamente, Wong Kar-Wai nos oferece um retrato ímpar do amor. Um amor incompleto, não realizado, que corrói a alma.

Ele lembra daqueles anos desaparecidos como se estivesse olhando através de um janela empoeirada. O passado é algo que ele podia ver, mas não tocar, e tudo o que ele via era borrado e indistinto.

Hong Kong feelings: 5/5

Título original: 花样年华 (Fa Yeung Nin Wa)

Diretor: Wong Kar-Wai

Elenco: Tony Leung Chiu-Wai, Maggie Cheung Man-Yuk, Rebecca Pan, Kelly Lai Chen, Siu Ping-Lam, Roy Cheung Yiu-Yeung

8 de julho de 2012

A Chinese Ghost Story 3 (Uma história chinesa de fantasma/1991)

image_thumb2 Tony Leung sendo seduzido por uma fantasma.

A série cinematográfica Chinese Ghost Story chega ao seu terceiro e último filme. Depois de um desastroso e incompreensível segundo filme, o produtor Tsui Hark e o diretor Ching Siu-Tung tentam ainda aproveitar esse fascinante mundo criado no primeiro filme. Nesse terceiro filme, a dupla joga de forma ainda mais segura.

Na história deste terceiro filme, temos Fong como personagem principal. Ele é um aprendiz de monge e acompanha seu mestre em uma jornada para levar uma estátua de Buda até um templo. O destino faz com que os dois tenham que passar algumas noites no Templo da Orquídia. Lá, ele acaba conhecendo Lotus, uma fantasma escravizada pelo demônio da árvore. O filme se desenvolve no mesmo lugar do primeiro filme. E o enredo desemboca numa conflitante relação entre Fong e Lotus.

A história é praticamente a mesma do primeiro filme. Inclusive Joey Wong retorna para interpretar uma personagem idêntica do primeiro filme, porém não é a mesma. A grande mudança é no personagem principal. Sai de cena o coletor de impostos e entra um monge budista. No lugar de Leslie Cheung, entra Tony Leung. A troca é bem-vinda pois Tony Leung é anos-luz mais ator que Leslie Cheung, sem desmerecer o excelente trabalho do último. Mesmo Tony Leung sendo um grande ator, a química entre ele e Joey Wong não consegue superar o casal do primeiro filme.

Outro ator que retorna do segundo filme, mas para interpretar um personagem diferente também é Jackie Cheung. Com um personagem menos ridículo e mais fodão, Jackie Cheung dessa vez não fez feio com seu Yin. Apesar de aparecer bem menos, o espadachim mercenário consegue ser surpreendentemente interessante. Lau Shun interpreta o mestre de Fong e chutador de bundas demoníacas ao lado de Yin.

O resultado é zero de originalidade, mas a história do primeiro é tão boa que pouco importa se estamos assistindo a mesma coisa. O filme consegue entreter tanto quanto o primeiro filme seja nas partes de ação, fantasia, drama ou comédia. E assistir a encantadora Joey Wong nunca é demais.

Hong Kong feelings: 3/5

Título original: 倩女幽魂III 道道道 (Sien Nui Yau Wan III Do Do Do)

Diretor: Ching Siu-Tung

Elenco: Tony Leung Chi-Wah, Joey Wong Cho-Yin, Nina Li Chi, Lau Siu-Ming, Lau Shun, Tommy Wong Kwong-Leung.

1 de julho de 2012

A Chinese Ghost Story 2 (Uma história chinesa de fantasma 2/1990)

ghost2 Da esquerda para direita: Leslie Cheung, Joey Wong e Wu Ma.

Diante da boa recepção pelo público, A Chinese Ghost Story ganhou uma sequência. Os atores principais retornaram em seus respectivos papeis, exceto por Joey Wong que nesse filme interpreta uma mulher de carne e osso ao invés de uma fantasma. A fórmula do primeiro filme se manteve intacta. Mas o resultado é deveras decepcionante.

O diretor Ching Siu-Tung retorna para dirigir o filme. Encorajado pelo sucesso do filme anterior, o diretor se arrisca mais nos efeitos especiais. O resultado não podia ser mais desastroso. Era notório o esforço em esconder as limitações dos efeitos especiais, mas neste filme o diretor as escancara sem nenhum pudor. Mas esse é o menor dos males. O filme tem um ritmo letárgico, com um enredo incapaz de estabelecer qualquer lógica sobre as situações que assistimos.

Depois de perder seu grande amor, o coletor de impostos Ning Tai-Shen passa a levar uma vida nem um pouco pacata. Por uma mágica que só a ficção é capaz de fazer, ele se mete numa conspiração contra o tirano governo imperial. Os rebeldes o confundem com o líder revolucionário, dentre eles está a belíssima Windy, cuja aparência é idêntica à Nieh Hsiao-Tsing. Ning Tai-Shen passa quase que todo o filme tentando se convencer que aquela pessoa não é o seu grande amor. A história do filme beira a esquizofrenia, com o sobrenatural sendo tacado no meio da trama quando os roteiristas se lembram que o filme deveria ser uma história de fantasmas e outros seres do além.

Até as lutas parecem insossas, mas nesse ponto a culpa deve ser dividida com o ator que substitui Wu Ma no papel de caçador de fantasmas. Jacky Cheung é um ator esforçado, mas a sua escalação para o papel foi de grande infelicidade. O seu personagem Autumn não somente é o responsável pelas lutas mas é o principal alívio cômico. Jacky Cheung nem de longe consegue rivalizar em carisma com Wu Ma. Por falar neste último, ele faz uma breve aparição na parte final do filme alimentando uma esperança de salvar o filme, além dos mocinhos.

Com um roteiro extremamente fraco, as limitações dos dois atores principais ficam completamente expostas. A grande química que havia entre Leslie Cheung e Joey Wong desaparece nesse filme. Leslie Cheung troca a inocência de seu personagem pela idiotice completa. Enquanto que Joey Wong fica completamente perdida, sem saber o que fazer diante da crise de identidade que sua personagem sofre causada porque um cara no mínimo esquisito a chama por outro nome. Até Michelle Reis que interpreta a irmã de Windy consegue ter mais personalidade, mas que também não é nada demais. A adição no elenco mais interessante fica sendo Waise Lee ao interpreta um oficial do governo que se sente divido entre seguir as ordens e agir conforme o que lhe parece ser correto.

O filme consegue entreter em raros momentos, principalmente quando as cenas fazem referências ao primeiro filme. Mas o momento mais inspirado do filme é quando o personagem de Waise Lee continua a lutar mesmo depois de perder um dos braços, numa clara referência ao clássico One Armed Swordman da década de 1960. Mas nem de longe o filme conseguiu repetir o mesmo sucesso, apesar de repetir a mesma fórmula. A comédia e o romance são forçados goela abaixo do expectador. O resultado final é indigesto.

Hong Kong feelings: 2/5

Título original: 倩女幽魂II 人間道 (Sien Nui Yau Wan II Yan Gaan do)

Diretor: Ching Siu-Tung

Elenco: Leslie Cheung Kowk-Wing, Joey Wong Cho-Yin, Jacky Cheung Hok-Yau, Michelle Reis, Wu Ma, Lau Siu-Ming, Tin Kai-Man, Waise Lee Chi-Hung.

A Chinese Ghost Story (Uma história chinesa de fantasma/1987)

ghost Boo!! Leslie Cheung é um cobrador de impostos.

Filmes como Tigre e Dragão, Fong-Sai Yuk e muitos outros filmes do gênero são internacionalmente reconhecidos graças ao sucesso de um filme do final da década de 80. A Chinese Ghost Story não é uma referência no gênero por suas qualidades, que na verdade são limitadas, mas sim pela sua originalidade ao beber bastante do folclore chinês.

O filme é baseado em uma das histórias do livro Estranhos contos de um atelier chinês (聊斋志异) do escritor Pu Songling. Considerado um dos canônicos da literatura chinesa, a coletânea foi publicada no século XVIII. Os personagens dos contos vão desde seres humanos mesquinhos até espíritos moralistas. Esse aspecto satírico da obra é deixada de lado pelos produtores de A Chinese Ghost Story, que preferiram focar nas figuras folclóricas.

O resultado disso é um filme com bastante apelo comercial, ainda mais com a escolha de Leslie Cheung para interpretar o personagem principal. Apesar de Leslie Cheung ser um ator bastante limitado, sua escolha foi extremamente feliz. Interpretando um dócil coletor de impostos, Ning é extremamente ingênuo e que se torna uma presa fácil para a encantadora fantasma Nie (Joey Wong), mas ambos acabam apaixonando um por outro. A química entre Leslie e Joey é fantástica. Todas as cenas independentemente se é de drama, comédia e/ou romance funcionam com o casal.

As cenas de ação ficam a cargo de outro personagem. Yin é um monge taoísta e é interpretado pelo simpático Wu Ma. É uma pena que o personagem é mal desenvolvido com poucas informações sobre a sua vida de caçador de fantasmas, apesar de ser um dos personagens mais interessantes do filme. Quanto a ação, esta é muito bem feita inclusive com direito à cenas de computação gráfica. Porém os efeitos especiais estão completamente datados, sendo bastante injusto criticá-los dado às limitações orçamentárias e tecnológicas da época. Para esconder as limitações, o diretor preferiu usar cenários com poucas iluminação o que às vezes é incomodo. Mas a ambientação construída, repleta de monstros, espíritos, fantasmas e monges taoístas, é deveras fascinante.

A Chinese Ghost Story definitivamente oferece uma requintada experiência da mistura ímpar de comédia-ação-romance-drama do cinema Hong Kong. O filme não é excepcional em nenhum dos gêneros que fazem parte da salada, mas é bom o suficiente em todos tornando-o bastante palatável.

Hong Kong feelings: 3,5/5

Título original: 倩女幽魂 (Sien Nui Yau Wan)

Diretor: Ching Siu-Tung

Elenco: Leslie Cheung Kowk-Wing, Joey Wong Cho-Yin, Wu Ma, Lau Siu-Ming, Lin Wei, David Wu Dai-Wai.

24 de junho de 2012

Way of the Dragon (O voô do Dragão/1972)

voododragao O resultado dessa luta é bem óbvio.

Bruce Lee versus Chuck Norris. Como seria essa batalha de dois titãs das artes marciais? Certamente seria uma batalha de proporções épicas. E se o palco fosse o Coliseu? A luta do século no palco perfeito. O melhor disso tudo? Essa luta aconteceu em Way of the Dragon.

O filme também representa vários marcos na carreira do lendário ator. A primeira é a estreia dele como diretor. A segunda é o papel diferente do que ele vinha interpretando nos filmes anteriores. Em Way of the Dragon, Bruce Lee continua chutando bundas, mas entre umas porradas e outras ele faz piadas e gracejos. Apesar dos elementos cômicos funcionarem muito bem, o filme essencialmente é de artes marciais. As cenas de lutas são de um apuro técnico incrível, bem coreografadas e que mostram todo o talento de Lee.

Mas como a ação pode ocorrer em Roma, uma cidade distante de Hong Kong? Pois Bruce Lee estrela Tang Lung, um caipira que por capricho do destino foi parar em Roma para ajudar seus primos nos negócios do restaurante. Porém chegando lá ele se depara com um grupo de bandidos que constantemente assaltam o restaurante. Tang, obviamente, acaba despertando a ira da máfia. O chefão do sindicato decide contratar os melhores lutadores de artes marciais do Japão e da Europa para destruir Tang. Ao final resolvem apelar para Colt, o heptacampeão americano de karatê. Para quem não associou o estilo de luta e a nacionalidade, Colt é interpretado por Chuck Norris!

As lutas são fantástica, com o embate entre Bruce Lee e Chuck Norris sendo a cereja do bolo. E a luta final ainda tem espaço para uma de suas famosas citações: “Absorva o que é útil. Rejeite o que é inútil. Acrescente o que é especificamente seu”. Só um grande mestre como ele seria capaz de misturar filosofia com humor escatológico.

Hong Kong Feelings: 4/5

Título original: 猛龍過江 (Meng long guo jiang)

Diretor: Bruce Lee Siu-Lung

Elenco: Bruce Lee Siu-Lung, Nora Miao, Chuck Norris, Bob Wall, Whang Ing-Sik, John Benn, Unicorn Chan, Wei Ping-Ao.

12 de junho de 2012

Needing You… (Precisando de você…/2000)

needing you Andy Lau segurando cartaz que dá o nome ao filme: “Eu preciso de você”

Dia dos namorados, nada melhor que um filme de comédia romântica para alegrar os casais e deprimir os solteiros. No entanto ficar deprimido é muito difícil com este filme, pois Needing You antes de tudo é um ótimo filme com ótimos personagens e um inteligente roteiro.

Os fãs de Johnnie To o conhecem mais pelos seus filmes de tríade como The Mission e Exiled. Em Needing You, ele retoma ao gênero do filme de sua estreia na direção. O filme também marca uma mudança na carreira do diretor. O gênero foi escolhido justamente pelo apelo comercial. Mas antes de torcemos os narizes, o filme merece uma chance pois não é de um diretor qualquer.

A começar pelo tema do filme que envolve o cotidiano de qualquer um: romance no trabalho e as fofocas. O diretor escalou a estrela pop Sammi Cheng para interpretar Kinki, uma mulher que acabou de descobrir a traição do namorado. Ela também enfrenta dificuldades na sua vida profissional, pois recentemente se transferiu de setor na empresa de eletrônicos onde trabalha. Seu novo chefe é Wah-Siu que a acha uma péssima empregada mas acaba se comovendo ao descobrir sua situação pessoal e tenta ajudá-la a resolver a situação com Dan, o namorado. Porém Wah-Siu, interpretado por Andy Lau, é um mulherengo e logo as fofocas começam a se reproduzirem. Uma ex-affair de Wah-Siu ao ficar sabendo das fofocas tenta cortar a relação dos dois, porém o tiro acaba saindo pela culatra.

Um das grandes habilidades de Johnnie To é filmar gestões e ações que valem mais que mil diálogos. Se em seus filmes de ação as emoções fluem com uma incrível naturalidade, isso também se faz presente nas cenas de romance e de humor de Needing You. A fofoca se espalhando pelos dutos do ar-condicionado é uma das sacadas mais geniais do filme. É incomum um filme desse gênero ter um humor inteligente, apesar de que na parte final o filme começa a ficar bobo quando se vê obrigado a ceder aos clichês.

Ao trazer elementos novos para o gênero de comédia romântica, o filme se destaca em todos os aspectos. Mas de modo algum Johnnie To tenta revolucionar o gênero cujos temas foram explorados e reciclados a exaustão pelo cinema mundial. É impossível não cair no clichê, mas o filme possui cativantes personagens e uma história interessante capazes de agradar solteiros e casais.

Hong Kong feelings: 4,5/5 

Título original: 孤男寡女 (Goo nam gwa neui)

Diretor: Johnnie To Kei-Fung, Wai Ka-Fai

Elenco: Andy Lau Tak-Wah, Sammi Cheng Sau-Man, Fiona Leung Ngai-Ling, Raymond Wong Ho-Yin, Hui Siu-Hung, Lam Suet, Gabriel Morrison, Florence Kwok Siu-Man.

20 de maio de 2012

The Killer (The Killer–O Matador/1989)

killer Esta icônica cena entre Chow Yun-Fat e Danny Lee se tornou referência no gênero.

John Woo possui, basicamente, três tipos de fãs. Os que acham que A Better Tomorrow (1 ou 2) é o melhor filme já dirigido pelo diretor. Outros acham que é Hard Boiled. Por último, existem os fãs que acreditam que The Killer seja sua maior obra-prima. Independentemente se é fã ou não, é impossível não admirar este filme.

O gênero Heroic Bloodshed, que o próprio John Woo moldou, nasceu como uma forma de recontar histórias e valores dos filmes de artes marciais chineses da década de 70 em um ambiente urbano. Em ambos os gêneros, os personagens principais são movidos por um estrito código de honra. Nesse contexto urbano, porém, esses personagens ganham uma dimensão extra, pois são espécies em extinção dentro de uma sociedade corrompida pelo dinheiro.

Mas é esse mesmo dinheiro que Jeff busca quase que desesperadamente. Apesar de traído pelo seu agenciador, a vingança não é sua principal motivação. Há elementos batidos como “um último trabalho”, mas que tem um peso dramático essencial para que o enredo funcione.

A história do filme é uma das melhores já contadas pelo diretor, com inesperadas reviravoltas na trama. Atualmente, apesar de todos os elementos do filme terem se tornados clichês do gênero, The Killer não envelheceu nem um pouco. Por mais que a tecnologia atual ofereça cenas de ações incríveis, o filme possui uma intensidade que poucos filmes conseguem alcançar.

Os créditos também devem ser divididos com Chow Yun-Fat. O ator interpreta Jeff com maestria. Seu assassino profissional sempre aparenta frieza, mas as expressões faciais traem o personagem mostrando os conflitos internos que o angustiam. Sua atuação é rivalizada por Danny Lee com seu Inspetor Li cujo código de conduta o conduz a tênue linha entre dever e honra. O policial é tão carismático quanto Jeff. Apesar de estarem em lados opostos da lei, os dois têm pontos bastante em comuns.  

The Killer possui grandiosas cenas de ação que não deve a nenhum arrasa quarteirão hollywoodiano. Apesar do ritmo intenso de um filme de ação, John Woo consegue sempre manter o suspense em alto nível. Lealdade e amizade são forjadas e destruídas com bala. Com estilo e substância, o filme termina com um épico derramamento de sangue.

Hong Kong feelings: 5/5

Título original: 喋血雙雄 (Dip huet seung hung)

Diretor; John Woo

Elenco: Chow Yun-Fat, Danny Lee Sau-Yin, Sally Yeh, Kenneth Tsang Kong, Shing Fui-On, Paul Chu Kong, Dion Lam Dik-On.

15 de abril de 2012

Protègè (O Protegido/2007)

protege Da direita para esquerda: Louis Koo, Anita Yeun, Andy Lau, Daniel Wu e Zhang Jingchu

O policial Nick está há mais de 7 anos infiltrado nas operações de um mega-traficante de heroína. Nesse meio tempo ele se torna o braço direito de Quin. Acompanhamos o seu dia a dia, quando Nick, ironicamente, conhece Jane, uma usuária de heroína. Ao mesmo tempo que tenta lidar com a problemática vizinha, ele tem que gerenciar os choques de interesse entre seus dois “patrões”.

Além da temática sobre drogas, outras questões são exploradas pelo filme. A principal delas é a relação ambígua de Nick com a polícia e o crime organizado. Ao longo do filme essas intricadas relações que cerceiam ele vão ficando cada vez mais complexa. Ao mesmo tempo que este é o elemento que torna o filme interessantíssimo é também o mais frágil.

O diretor Derek Yee conduz bem a trama, com o filme ganhando ritmo e tensão no seu desenrolar. O diretor lança questões interessantes como a falta de interesse de Quin em entender os seus “consumidores” ao mesmo tempo que se sente frustrado diante de sua filha adolescente fumante e problemática. Outra cena provocante é quando traficante e produtor de ópio fazem uma avaliação econômica do mercado com dados da ONU. Porém o potencial total do enredo não é atingido seja pela falta de profundidade dos temas abordados, seja pelo desenvolvimento incompleto dos personagens.

Assim como o roteiro, as atuações são boas porém nada que seja brilhante. Daniel Wu como Nick lhe falta intensidade para um personagem que deveria estar a beira do abismo. Já Andy Lau consegue interpretar muito bem a fragilidade de Quin, causado por problemas renais, ao mesmo tempo que seu personagem amoral se sente incerto sobre seu futuro por conta da doença. Ora o simpatizamos, ora repudiamos. Zhang Jingchu mostra competência ao interpretar Jane. O destaque negativo é Louis Koo. Apesar do pouco tempo de tela e um personagem secundário destoante, o ator consegue entregar uma péssima atuação. A relação conturbada entre Jane, seu marido, a filha e as drogas acaba sendo mal discutida.

Derek Yee não entrega o que prometeu na cena de prólogo, mas ainda sim é um filme sólido com poucas falhas. Nick se defronta com vários dilemas, mas o personagem parece conseguir lidar com certa tranquilidade a maioria delas. Este detalhe é o que faz o filme ser bom, quando poderia ser excelente. A grande cena fica sendo sua mensagem anti-drogas que desfecha o filme.

Hong Kong feelings: 3,5/5

Título original: 門徒 (Moon to)

Diretor: Derek Yee Tung-Sing

Elenco: Daniel Wu, Andy Lau Tak-Wah, Louis Koo Tin-Lok, Anita Yuen Wing-Wee, Zhang Jingchu, Derek Yee Tung-Sing, Liu Kai-Chi

8 de abril de 2012

A Chinese Odyssey Part 2: Cinderella (Odisseia Chinesa Parte 2: Cinderela/1995)

acoc Hail to the king, baby!

A segunda da parte da odisseia chinesa traz o fim da jornada do Macaco-Rei em busca de redenção. Pode-se dizer que nessa parte é onde a jornada realmente começa. O filme se esforça em consertar os erros do anterior e reforçar os pontos positivos. A comédia não mais dita o ritmo do filme, abrindo espaço para uma história centrada nos elementos budistas da obra.

O filme começa do ponto onde o anterior terminou. Continuando a aventura, Joker usa a Caixa de Pandora e volta 500 atrás onde tudo começou. Ele encontra com o seu destino. O começo é um tanto arrastado, mas bem menos enrolado que o antecessor, com o roteiro sendo desenvolvido de forma lenta. O filme ganha momento quando Joker encontra o seu mestre, o Monge da Longevidade. Law Kar-Ying consegue ser irritantemente hilário, transmitindo bem a capacidade do seu personagem de levar os outros à loucura. A partir desse ponto até a parte final do filme, a escalada é épica.

O roteiro tem alguns problemas, pois algumas informações sobre os personagens ficam faltando. As motivações de Zixia em abandonar o seu posto de Imortal, dentro do universo do filme um ser que atingiu o Nirvana, para buscar um amor carnal não são explicadas em momento nenhum. Zixia deveria servir de contraponto ao Macaco-Rei, pois enquanto um tenta voltar ao Reino Celestial o outro decide abandonar. Outros personagens também sofrem com uma vaga introdução de quem são, sendo necessário conhecê-los previamente de outras adaptações ou do livro original.

No primeiro filme, a rusga entre o Macaco-Rei e Ping Ping foi construída de maneira implícita uma vez que os acontecimentos eram de 500 anos atrás. No segundo filme, fica claro que o personagem de Chow era um mulherengo. Tal elemento é mal explorado, pois o foco é no triângulo amoroso envolvendo Ping Ping, Zixia e Joker. Mas a recusa do diretor em prover motivações, quando revela é de forma indireta, aliena o expectador sobre o porque das escolhas e preferências de Joker. Inclusive, Karen Mok que foi o grande destaque do primeiro filme, só faz uma breve aparição neste apesar de ser o grande motivo por detrás das ações de Joker.

Ainda sim o talento de Anthena Chu e Stephen Chow sustentam o filme, com o romance de Zixia e Joker rivalizando com o de Ping Ping e Joker no primeiro filme. Apesar de sua delicada fisionomia causar indiferença em um primeiro momento, a atriz consegue cativar o expectador com uma excelente atuação. Mas ela não chega a eclipsar o personagem principal, como aconteceu no filme anterior. Pelo contrário, Stephen Chow é o centro das atenções sem sombra de dúvidas. Seu Joker é um personagem mais completo com seus inúmeros dilemas. Mas o ápice da atuação é quando ele se transforma no Macaco-Rei. Chow encarna a figura folclórica com grande paixão. O ator literalmente desaparece na pesada maquiagem dando vida ao personagem mais fascinante do filme. O trejeito, tom de voz, maneirismo, ele construiu uma versão definitiva do Macaco-Rei.

O personagem extrai ainda mais do talento de Chow quando este tem que lidar de forma definitiva os dilemas que o atormentam. Méritos também para o diretor Jeff Lau. Nessa segunda parte fica claro que a decisão dos produtores em dividir em dois filmes por questões mercadológicas prejudicou o trabalho de edição do diretor. Os pontos baixos do filme certamente não são ruins. Os aspectos técnicos são ótimos dentro das limitações orçamentárias e tecnológicas.

Apesar de ter cenas engraçadíssimas, o filme se destaca pelos momentos de romance e drama. As cenas de luta também agradarão os fãs de artes marciais. Stephen Chow oferece uma das melhores atuações de sua carreira, se não a melhor. É triste que Macaco-Rei tenha aparecido em sua forma plena somente nos momentos finais do filme, poucos minutos para um personagem tão memorável. A imersão de Chow dentro do personagem é comparável ao trabalho de Heath Legder com o seu psicótico Coringa em Cavaleiro das Trevas. A Odisseia Chinesa é um clássico do cinema de Hong Kong.

Hong Kong feelings: 4,5/5

Título original: 西遊記 II 仙履奇緣

Diretor: Jeff Lau

Elenco: Stephen Chow Sing-Chi, Ng Man-Tat, Athena Chu Yun, Ada Choi Siu-Fun, Yammie Nam Kit-Ying, Karen Mok Man-Wai, Kong Yeuk, Luk Su-Ming, Ng Yuk-Kan, Jeff Lau Chun-Wai, Law Kar-Ying.

31 de março de 2012

A Chinese Odyssey Part 1: Pandora Box (Odisséia Chinesa Parte 1: A Caixa de Pandora/1995)

copbOs súditos saúdam a volta do Rei!

‘Jornada ao Oeste’ é um dos grandes clássicos da literatura chinesa. No livro o monge budista Xuanzang junto com seus discípulos (o Macaco-Rei, o Porco, o Monge Shaolin e o Príncipe Dragão) partem para o oeste em busca dos sutras, escrituras sagradas budistas. Durante a jornada monstros, fantasmas e demônios tentam devorar Xuanzang, pois sua carne pode garantir a imortalidade para quem a consumir. A obra influenciou profundamente o folclore chinês. Dentre as inúmeras adaptações nas mais variadas mídias, a mais famosa adaptação é a animação japonesa Dragon Ball. Este filme, dirigido por Jeff Lau, tal qual a animação japonesa é levemente baseada na obra original.

Na história do filme o Macaco-Rei é sucumbido pelo mal e tenta devorar o seu próprio mestre com o objetivo de se tornar imortal. A Deusa da Misericórdia tenta matar o Macaco-Rei, porém o compassivo monge intervém e troca a sua vida pelo do seu discípulo. O Macaco-Rei é então banido do reino celestial para reencarnar na forma humana. O prólogo tem um clima épico, tanto que a história foi dividida em duas partes. Nesta primeira parte, duas irmãs demoníacas procuram pelo Monge da Longevidade no local onde o Macaco-Rei reencarnou 500 anos depois do prólogo. Lá encontram  Joker, líder de um bando de bandidos e um zero a esquerda nas horas vagas.

Stephen Chow interpreta Joker mostrando ser, desde o início de sua carreira, um ator com bastante potencial para papéis mais “sérios”. O diretor Jeff Lau consegue extrair o melhor de Chow como ator e também como comediante. É até redundante, mas a química entre Ng Man Tat e Stephen Chow é estupenda. Até em momentos cuja atuação é mais sóbria, quando os dois estão dividindo a mesma cena eles são capazes de arrancar gargalhadas genuínas.

No entanto, quem oferece a melhor atuação é a Karen Mok. Com uma incrível naturalidade, ela dá conta do turbilhão de emoções que assola a sua personagem Jing Jing, conhecida pela alcunha demônio do Osso Branco. Do sadismo inerente a natureza da sua personagem até a desilusão amorosa que comove o espectador, ela ainda consegue ajudar a elevar o nível de interpretação dos seus companheiros de cena. Uma das mais beneficiadas do talento da Karen Mok, é a Yammie Nam Kit-Ying, que interpreta a irmã, também demoníaca, da Osso Branco.

Apesar das cenas de comédia, ação e drama funcionarem bem, o filme tem um ritmo inconsistente. Por mais que as cenas de comédia sejam muito engraçadas, dignas da filmografia de Chow, o filme acaba sendo repetitivo e até cansativo. Problema causado pelo enredo, que só toma uma direção ao final do filme quando prepara a história para a segunda parte.

Essa primeira parte funciona como uma longa introdução antes do início da jornada de redenção do Macaco-Rei. A sequência final é uma das mais inventivas viagens ao tempo. O filme é divertido, apesar de se seus altos e baixos. A sua grande falha é a incapacidade de criar expectativa para a segunda parte.

Hong Kong Feelings: 3,5/5

Título original: 西遊記 I 月光寶盒

Diretor: Jeff Lau

Elenco: Stephen Chow Sing-Chi, Ng Man-Tat,Yammie Nam Kit-Ying, Karen Mok Man-Wai, Kong Yeuk, Luk Su-Ming, Ng Yuk-Kan, Jeff Lau Chun-Wai, Law Kar-Ying.

11 de março de 2012

Infernal Affairs III (Conflitos Internos 3/2003)

infernalaffairs3É complicado a vida de espião: Ming (Andy Lau) à direita e Yan (Tony Leun) à esquerda.

Infernal Afffairs III encerra a trilogia iniciada pelo arrasa-quarteirão Infernal Affairs, seguido da sensacional prequela Infernal Affairs II. Com o destino de Yan, Inspetor Wong e o chefe da tríade selados, neste terceiro ato conheceremos o destino de Ming, o tríade infiltrado na polícia. Os diretores Andrew Lau e Alan Mak retornam para dirigir um intrincada trama que traz todo o elenco do filme original.

A citação budista que dá nome ao título original ganha mais relevância na história do terceiro filme. Aliás, o filme todo se desenvolve em torno do conceito do inferno contínuo, o mais baixo nível do inferno budista. Os flashbacks teoricamente reforçam este movimento cíclico e inexorável, mas na prática são confusos e excessivos, soando mais como desculpa para trazer os atores que morreram no primeiro filme.

Andy Lau volta a interpretar o policial Ming. Apesar de ter se safado dos eventos do primeiro filme, o personagem passa ser atormentado pelo seu passado. O descenso ao inferno é óbvio, tendo que lidar com o fim de um casamento assim como a carreira em declínio. Os personagens femininos do primeiro filme ganham mais destaque na história. E elas estão presentes nas melhores cenas do filme. Tony Leung, Anthony Wong e Eric Tsang retornam com sólidas atuações, mas nada que supere os filmes anteriores. O roteiro também prejudica inclusive a atuação do ator principal. Andy Lau consegue interpretar razoavelmente a paranoia que cerceia Ming, principalmente após a aparição de um novo personagem.

Ming suspeita que o inspetor Yeung está por trás da queima de arquivo contra os infiltrados de Sam para se proteger. O jogo de gato e rato se torna desinteressante, principalmente por conta do ator escalado para interpretar Yeung. A variedade de expressões faciais de Leon Lai é tão impressionante quanto ao de Keanu Reeves. E isso prejudica muito a dinâmica entre Ming e Yeung. Outro problema do filme é a subtrama envolvendo Yan e outro personagem novo. Shen é um chefe do crime da China continental que fez negócios com Sam (Eric Tsang). Poucas informações sobre o personagem interpretado por Chen Dao-Ming são disponibilizadas, o que torna a sua relação com Yan bem confusa. No final das contas, é quase incompreensível como que as subtramas se cruzam para determinar o destino de Ming.

O filme possui ideias boas, mas que foram mal executadas. Para os fãs ardorosos, certamente assistirão para saber o fim que Ming terá. Claramente, os diretores não quiseram escolher o caminho mais fácil para contar essa história, tal esforço foi capaz de gerar boas cenas como a que junta Ming e Yan no consultório da psiquiatra Dra. Lee. Os elementos de drama e suspenses estão presentes nesse filme, mas não foi possível repetir a mesma qualidade do filme original. Infelizmente, Infernal Affairs sofreu do mesmo mal que as trilogias de Hollywood com uma última parte fraquíssima.

Hong Kong feelings: 2,5/5

Título original: 無間道 III (Mou Gaan dou III)

Diretor: Andrew Lau Wai-Keung, Alan Mak Siu-Fai

Elenco: Tony Leung Chiu-Wai, Andy Lau Tak-Wah, Leon Lai Ming, Chen Dao-Ming, Anthony Wong Chau-Sang, Eric Tsang Chi-Wai, Sammi Cheng Sau-Man, Kelly Chen, Elva Hsiao, Chapman To Man-Chat,Gordon Lam Ka-Tung, Edison Chen, Shawn Yue, Ng Ting-Yip, Carina Lau Ka-Ling, Waise Lee Chi-Hung

4 de março de 2012

Lifeline (Urgência Máxima/1997)

lifeline Se correr o bicho pega se ficar o bicho come.

Bombeiros protagonizando filmes são raros. Tal temática é pouco utilizado pelos cineastas por diversos motivos. É complicado não conceber personagens unidimensionais, uma vez que a sociedade tratam esses profissionais como heróis. Assim como pouco tem a oferecer em cenas de ações sem cair na repetição. A grande sacada de Johnnie To é retratá-los como humanos, explorando os conflitos pessoais e profissionais.

Lifeline pode ser divido em duas partes. A primeira parte é centrada no desenvolvimento dos personagens. Johnnie To explora bem a personalidade de cada um, assim como suas vidas particulares. Porém nesse ponto, o mérito mesmo cabe aos atores. As atuações são sólidas, mesmo em momentos menos inspirados do roteiro. O grande destaque fica pelo seus dois protagonistas. Lau Ching-Wai e Alex Fong. Cada um tem suas questões pessoais a serem resolvidas, mas há também a rivalidade profissional entre ambos.

O conflito não se limita somente aos dois, devido a divergências no estilo de liderança, mas também ao restante do esquadrão. Por azar, eles são conhecidos como um esquadrão amaldiçoado. Isso traz incerteza e falta de autoconfiança para qualquer um.

A parte final é grandiosa, com uma boa dose de ação e tensão. Com os personagens devidamente estabelecidos, é fácil se importar pela vida de cada um. É aí que Johnnie To se destaca. A sequência do incêndio é uma das mais espetaculares já filmado. Apesar do baixo orçamento, esta é bastante realista nos detalhes.

O filme diverte com suas várias sub-tramas sem apelar para a melodrama. E ainda tem espaço para alguns temas comuns na filmografia de Johnnie To como companheirismo. É cativante assistir como que aquele grupo de bombeiros, através da perseverança e trabalho em equipe, conseguem superar o estigma e aprendem valorizar o companheirismo.

Hong Kong feelings: 4/5

Título original: 十萬火急 (Sap Maan Fok Gap)

Diretor: Johnnie To

Elenco: Lau Ching-Wan, Alex Fong Chung-Sun, Carman Lee Yeuk-Tung, Ruby Wong Cheuk-Ling, Damian Lau Chung-Yun, Raymond Wong Ho-Yin

26 de fevereiro de 2012

Accident (Acidente/2009)

accident Brain (Louis Koo) tenta desvendar a conspiração contra ele.

É possível assassinar uma pessoa de forma que a cena do crime pareça com um acidente? Pode parecer uma teoria conspiratória, mas Brain e seus comparsas tiram seu sustento com este tipo de serviço.

O filme mostra minunciosamente como que Brain constrói e seus comparsas executam os “acidentes”. Sempre buscando não deixar pontas soltas, o personagem principal é meticuloso e as vezes até paranoico. O diretor Soi Cheung consegue fazer essas cenas muito bem, sempre mantendo o expectador na expectativa de como o acidente ocorrerá.

Aparentemente Brain detém o monopólio desse negócio. Porém um incidente o leva a conclusão que existe um possível ríval e concorrente na sua área de atuação. O filme fica cada vez mais interessante a medida que Brain fica mais paranoico. A atuação de Louis Koo é surpreendentemente excelente sendo bastante convincente no papel principal. O elenco de suporte possui nomes como Lam Suet e Michelle Ye.

Estreando na cadeira de diretor de uma produção da Milkyway, Soi Cheang faz o básico e muito bem. Não se arrisca em experimentar efeitos com a câmera que mais distraem do que conferem um estilo. As relações entre os personagens são construídas de forma sutil o que reforça o tom misterioso. A tensão e o suspense não são tão densos, mas o diretor consegue produzir o suficiente para que o filme funcione.

Infelizmente a cena final é desnecessária, criada somente para atender interesses comerciais (leia-se evitar a censura chinesa). Mas ainda sim o filme diverte bastante com a temática conspiratória, boas atuações e bom roteiro. Alistado pela produtora do renomado Johnnie To, Soi Cheang cumpre as expectativas em sua estreia como diretor da Milkyway dirigindo um ótimo suspense.

Hong Kong feelings: 3,5/5

Título original: 意外 (Yi Ngoi)

Diretor: Soi Cheang Pou-Soi

Elenco: Louis Koo Tin-Lok, Richie Ren, Michelle Ye, Stanley Fung Shui-Fan, Lam Suet, Monica Mok