16 de dezembro de 2011

Infernal Affairs II (Conflitos Internos II/2003)

IA2  Shawn Yue (esquerda) e Anthony Wong (direita). Nesse cemitério faltam três lápides.

Infernal Affairs II é uma prequela do aclamado Infernal Affairs. A história começa dez anos antes dos eventos do primeiro filme. Vemos os primeiros anos de Ming como cadete e Yan como espião infiltrado na tríade. O passado dos dois são explorados com mais profundidade.

Descobre-se que inicialmente Yan não foi enviado para espionar Sam mas sim seu meio-irmão Hau, patriarca da poderosa família Ngai. Aliás Sam é somente um sub-chefe da tríade comandada por Hau. Este último assume a cabeça da organização após o seu antecessor, pai dele  e de Yan, ser assassinado por Ming a mando de Mary, esposa de Sam.

Dessa trama emerge uma envolvente história de lealdade e ambição. Porém o foco do filme não é nos dois protagonistas do filme anterior, mas sim em Sam e superintendente Wong. Eric Tsang e Anthony Wong retornam para interpretar seus personagens. Os dois entregam atuações ainda melhores graças a trama que adiciona elementos que tornam os dois personagens ainda mais interessantes. Eles têm o suporte de novos personagens. Francis Ng interpreta Hau com grande intensidade, apesar do personagem demonstrar serenidade na maior parte do tempo. Somado a sua astúcia, se revela uma mistura perigosa. Mary, interpretada por Carina Lau, usa todo o seu charme para manipular as pessoas ao seu redor. Inteligente, ela tenta colocar Sam no topo da organização. Ainda há Hun Jun que interpreta o antecessor e amigo do superintendente Wong. Carismático, o ator imbuí Luk de uma moralidade e retidão capaz de inspirar a todos, principalmente a Wong e Yan.

Shawn Yue e Edison Chen voltam a interpretar, respectivamente, as versões jovens de Yan e Ming. Dessa vez não se restringem a aparições em flashbacks. Shawn Yue se destaca inclusive ao incorporar alguns maneirismos do personagem interpretado por Tony Leung. Já Edison Chen entrega uma atuação apática, porém não compromete o filme nem o personagem estabelecido por Andy Lau.

O filme é dividido em três arcos, cada arco se passando em um ano. A disputa pelo poder no submundo vai se acirrando com intervenções diretas e indiretas da polícia de Hong Kong. Inclusive, o filme possui várias referências e elementos semelhantes à trilogia ‘O Poderoso Chefão’. Porém isso não distorce o filme ou o deixe menos interessante, pelo contrário.

Uma sequência que iguala e em alguns momentos supera seu antecessor, este é Infernal Affairs 2. Diversas pontas que ficaram soltas no filme original são amarradas. Assim como no primeiro, o sucesso deste apoia-se no drama e desenvolvimento dos personagens. Do universo estabelecido no primeiro filme da série, sua sequência consegue construir uma história nova e que enriquece o original.

Hong Kong Feelings: 5/5

Título original:無間道 II (Moou Gan Dou II)

Diretor: Andrew Lau, Alan Mark

Elenco: Anthony Wong Cha-Sang, Eric Tsang Chi-Wai, Francis Ng Chun-Yu, Carina Lau Ka-Ling, Shawn Yue, Edison Chen, Hu Jun, Champ To Man-Chat, Roy Cheung Yiu-Yueng, Liu Kai-Chi

14 de dezembro de 2011

Exiled (Exilados/2006)

exiled     Vai encarar? Esquerda para direita: Lam Suet, Francis Ng, Roy Cheung e Anthony Wong

O diretor Johnnie To é o maior expoente do cinema de Hong Kong, graças ao fato de não ter sucumbido o lado negro da força de Hollywood. Ao contrário de vários outros renomados diretores que decidiram cruzar o oceano Pacífico, Johnnie To preferiu continuar em Hong Kong.

Exiled é um faroeste situado em Macau de 1999. A história se passa dias antes da devolução da ex-colônia portuguesa a China. Por conta disso contas pendentes são acertadas.

Boss Fay (Simon Yam) aproveita para ganhar poder e territórios nessa cidade sem lei. De quebra ele descobre que um assassino que tentou matá-lo refugiou ali. Ele manda Blaze (Anthony Wong) e Fat (Lam Suet) para matar Wo (Nick Cheung). Porém Tai (Francis Ng) e Cat (Roy Cheung) aparecem para protegê-lo. Depois de um impressionante duelo de dois contra um, descobre-se que na verdade os cinco são companheiros de longínqua data.

Temas como amizade, companheirismo e lealdade são abordados ao longo do filme. E os laços que unem o quinteto serão testados. Durante essa jornada muita bala será atirada e sangue será derramado. As cenas de tiroteio são simplesmente espetaculares. Com coreografias perfeitas e complexas, elas transmitem uma grande sensação de caos e tensão. Mas graças ao estilo meticuloso e o esmero visual do diretor, em nenhum momento as cenas são confusas ou irritantemente frenéticas.

O estilo de direção também se faz presente nos diálogos. Mínimos, eles reforçam a características dos personagens.que preferem deixar suas ações falarem por si mesmo. As atuações são sólidas, apesar de que na maior parte das cenas os atores se limitam a poses marrentas. Mas ainda sim podemos ver o talento de cada ator, principalmente na última cena que é absolutamente fantástica. O personagem mais complexo acaba sendo a mulher de Wo. Apesar de Jin (Josie Ho) ser retratada como alguém que não compreende aquele universo masculino, é ela quem traz uma inesperada reviravolta na trama.

Exiled é um presente do diretor para os seu fãs e um bom filme para os principiantes se familiarizarem com os seus temas e estilo de direção. E um filme que reúne Anthony Wong e Francis Ng é garantia de qualidade.

Hong Kong Feelings: 5/5

Título original: 放逐 (Fong Juk)

Diretor: Johnnie To

Elenco: Anthony Wong Chau-Sing, Francis Ng Chun-Yu, Nick Cheung Ka-Fai, Josie Ho Chiu-Yi, Lam Suet, Roy Cheung Yiu-Yeung, Simon Yam Tat-Wah, Richie Jen, Gordon Lam Ka-Tung, Hui Siu-Hung

14 de novembro de 2011

The God of Cookery (O Deus da Cozinha/1996)

god of cookery Stephen Chow é deus da cozinha e da comédia.

Antes do reconhecimento internacional com Kung Fu Hustle e Shaolin Soccer, The God of Cookery foi o filme que definiu a carreira de Stephen Chow. Todos os elementos do filme já estavam presentes em obras anteriores, mas é a partir deste que a narrativa passa a priorizar a qualidade ao invés da quantidade das cenas de comédia. O desenvolvimento dos personagens também ganha ênfase.

Stephen Chow interpreta com muita naturalidade o seu personagem, um arrogante cozinheiro que apesar de ser chamado de Deus da Cozinha é na verdade uma farsa, produto de puro marketing. Ng Man-Tat, parceiro de Chow em quase todos os filmes, interpreta o empresário que prepara uma armadilha para derrubar Chow de seu pedestal.

Humilhado e sem grana alguma, Chow parte para a sua jornada em busca da redenção. Em seu caminho, ele conhecerá aliados que lhe ajudarão a recuperar o que ele perdeu. E, claro, haverá vários percalços.

O enredo é bem batido, mas o filme consegue potencializar todo o talento de Stephen Chow como ator e comediante. A linguagem corporal, suas caretas e até a entonação de suas falas, Chow arranca gargalhadas atrás de gargalhadas. Os elementos do humor cantonês, mais contidos neste filme, não deixa o público estrangeiro alienado como em outros filmes anteriores.

Ng Man-Tat interpreta seu primeiro vilão da parceria sua com Chow e convence. Karen Mok, a irmã Turkey, e Chow demonstram uma boa química nas cenas de humor.

The God of Cookery é um grande filme, onde drama, comédia, romance se misturam perfeitamente, e ainda temperado com pitadas de fantasia.

Hong Kong feelings: 5/5

Título original: 食神 (Sik San)

Diretor: Stephen Chow Sing-Chi, Lee Lik-Chi

Elenco: Stephen Chow Sing-Chi, Karen Mok Man-Wai, Ng Man-Tat, Vicent Kok Tak-Chiu, Lee Siu-Kei.

12 de novembro de 2011

Hard Boiled (Fervura Máxima/1992)

hardboiled Yepee-kay-yay motherfucker! Ops, filme errado.

Hard Boiled foi o último filme de John Woo antes de tentar a sorte na terra do Tio Sam (o diretor voltou em 2008 para dirigir o épico chinês Red Cliff). E neste filme de despedida entrega um dos maiores filmes de ação de todos os tempos.

Dividido em três arcos, o filme é minimalista no desenvolvimento dos personagens e em seu enredo, tudo isso para maximizar o tempo destinado para o que realmente interessa, os tiroteios desenfreados. As cenas de ação são bem longas, mas de forma alguma são chatas ou ficam cansativas. Os dois primeiros tiroteios, na casa de chá e no galpão, são épicos, mas são somente aperitivos para a parte final onde os mocinhos e bandidos se digladiam em um hospital por exatos 46 minutos de ação ininterrupta da mais pura epicidade. As coreografias, elaboradas ou improvisadas, garantem cenas de grande impacto visual, realçados pelos efeitos de câmera lenta (invenção de John Woo!).

Apesar do pouco tempo destinado para os personagens, os atores entregam boas atuações. Chow Yun Fat, maior astro de Hong Kong na época, interpreta o marrento policial Tequila que quebra todas as leis e está nem aí. Tony Leung é um assassino da tríade, cujos conflitos morais tornam o personagem bastante denso mas sem se destoar no filme. Antagonista de Tequila, Tony Leung entrega uma atuação tão carismática quanto de Chow Yun Fat. Anthony Wong interpreta Johnny, chefe de uma tríade e o cara mal do filme. Wong é o que tem o menor tempo de cena, mas também faz um bom trabalho. O papel feminino neste tipo de filme coube a Teresa Mo, que interpreta a superiora de Tequila e serve somente como interesse amoroso.

O enredo é direto e simplório, mas é perfeito para o filme. O parceiro de Tequila morre no primeiro tiroteio numa operação policial malfada, e o policial fará de tudo para saciar sua sede de vingança.

Hard Boiled é uma verdadeira aula de como fazer filme de ação. Ainda está para ser feito uma cena de ação que seja capaz de superar o icônico tiroteio no hospital. Neste filme, quantidade é sinônimo de qualidade.

Hong Kong feelings: 5/5

Título original: 辣手神探 (Lat sau san taam)

Diretor: John Woo

Elenco: Chow Yun-Fat, Tony Leung Chiu-Wai, Anthony Wong Chau-Sang, Teresa Mo Sun-Kwan, Philip Chan Yan-Kin.

22 de setembro de 2011

Chungking Express (Amores Expressos/1994)

chungking Faye Wong observa Tony Leung tomando café.

Wong Kar Wai é um diretor diferente. Com um estilo de filmagem único ele conta histórias de forma única. Dentre a sua pequena mas notória filmografia, Chungking Express talvez seja sua obra-prima. Em questão de técnica de filmagem há experimentalismos que serão refinados até o seu ápice em obras posteriores. Em outras o tema será explorado de forma mais profunda. Mas esta é sua obra mais vibrante.

O filme conta duas histórias que se assemelham na temática e se contrastam no desenvolvimento. Ambos tem como personagens masculinos policiais, que são identificados pelos seus números. Na primeira história, Takeshi Kaneshiro é o policial 223 enquanto que Tony Leung é o policial 663. Em ambas as histórias, os policiais tentam lidar com a perda amorosa, cada de um jeito, que apesar de estranho pode parecer familiar. Também em ambas, uma mulher de personalidade peculiar cruza o caminho de cada policial.

Brigitte Lin interpreta uma mulher que usa uma peruca loira e sempre anda com óculos escuros na primeira história. Sua personagem é uma traficante de drogas que foi trapaceada numa negociação. Misteriosa e sexy, a sua personagem é durona por conta do ambiente de trabalho, mas que com tanta insistência do personagem de Takeshi Kaneshiro por um breve momento mostra que é capaz de amar também. Já Faye Wong simplesmente rouba a cena com sua espontânea e deliciosa interpretação na segunda história. Em sua estreia como atriz, Faye Wong interpreta uma garçonete que se apaixona pelo personagem de Tony Leung e que fará o imaginável e inimaginável para chamar a atenção do policial.

As cenas vão se desenrolando através das próprias situações contidas nelas, não há um fio de enredo que as conecte. Mas o resultado é longe de ser um filme sem sentido. Os personagens vão se levando pela emoção, mas que num primeiro recusam aceitar essas emoções. O ambiente urbano insípido parece ter uma forte influência nos personagens, mas ao mesmo tempo Wong Kar-Wai consegue captar uma Hong Kong noturna frenética e caótica.

O filme transcende a linguagem cinemática comum através de efeitos da câmera e outras técnicas de filmagem; as músicas e cores também tem participação ativa na narração criando cenas com um clima único. Mas o que realmente torna Chungking Express tão genuíno é a conexão que este estabelece com o espectador. Quem nunca teve que lidar com a perda de um amor? No final das contas, a experiência é bem intimista e dependerá de cada um amar ou odiar o filme.

Chungking Express foi filmado durante o intervalo das gravações de seu épico de artes marciais Ashes of Time, foram em torno de 20 dias de filmagem para relaxar.

“O importante não é o destino, mas o percurso.”

Hong Kong feelings: 5/5

Título original: 重慶森林 (Chung Hing Sam Lam)

Diretor: Wong Kar-Wai

Elenco: Brigitte Lin Ching-Hsia, Tony Leung Chiu-Wai, Faye Wong, Takeshi Kaneshiro, Valerie Chow Kar-Ling

19 de setembro de 2011

Infernal Affairs (Conflitos Internos/2002)

Infernalaffairs   Ming (Andy Lau) e Yang (Tony Leung) conversam no topo de um arranha-céu.

Sem dúvida alguma Infernal Affairs foi o filme de maior sucesso de público e crítica em Hong Kong na década passada. Inclusive Hollywood fez um remake, ‘Os Infiltrados’, dirigido por um tal de Martin Scorsese. O filme gerou duas sequências lançadas em 2003.

A história é sobre dois espiões, um infiltrado na polícia de Hong Kong e outro na tríade, equivalente à máfia italiana. A partir de uma frustrada operação, tanto a tríade quanto a polícia descobrem que existem espiões em suas fileiras. Porém, num gênero tão extensivamente explorado, Infernal Affairs consegue se destacar pois o seu enredo investe no drama de seus dois personagens principais.

Já no primeiro ato, sabemos quem são os infiltrados de cada lado. Mas isso não diminui nem um pouco a tensão, muito menos o enredo fica óbvio. O enredo coloca os dois personagens diametralmente opostos, explorando perfeitamente o inferno da vida de dupla de cada um.

Yang é um cadete que foi expulso da academia pois sua família têm conexões com a tríade. Apesar disso, ele é candidato perfeito para ser o espião da polícia. Tony Leung interpreta Yang com grande intensidade. O ator é um dos mais talentosos do cinema de Hong Kong, ele possui um dom incrível de expressar diferentes emoções somente com o olhar. É visível a angústia cada vez maior no personagem, com a linha que separa entre o bandido e policial cada vez mais tênue. Tony Leung consegue transmitir toda a instabilidade emocional que Yang carrega.

Já Ming aparentemente tem uma vida muito mais tranquila em relação a Yang. Desde a academia, mostra-se ser um policial talentoso. Ainda sim, o personagem tem muito a perder. A rápida ascensão profissional, o noivado com uma escritora, tudo isso levanta questionamentos onde reside sua lealdade. Andy Lau oferece uma carismática e interessante interpretação de Ming, constantemente nos fazendo questionar quais interesses ele está buscando atender, seja da polícia, da tríade ou de seus próprios.

No elenco de suporte, Eric Tsang, como o paranoico chefe da tríade, e Anthony Wong, o inspetor da polícia que é o único a saber da verdadeira identidade de Yan, igualam no nível de interpretação dos atores principais. A rivalidade que existem entre os dois somente alimenta ainda mais a pressão sobre os espiões.

Infernal Affairs é basicamente um filme no estilo gato e rato, mas que consegue construir muito bem a tensão, enquanto trabalha os personagens, até o seu clímax. Um excelente filme, mesmo com algumas inconsistências no roteiro. A cena final é simplesmente foda.

O título original ‘Mou gaan dou’ é uma referencia ao nível mais baixo dos infernos budistas, o inferno contínuo.

Hong Kong feelings: 4,5/5

Título original: 無間道 (Mou Gaan dou)

Diretor: Andrew Lau Wai-Keung, Alan Mak Siu-Fai

Elenco: Tony Leung Chiu-Wai, Andy Lau Tak-Wah, Anthony Wong Chau-Sang, Eric Tsang Chi-Wai, Sammi Cheng Sau-Man, Kelly Chen, Elva Hsiao, Chapman To Man-Chat,Gordon Lam Ka-Tung, Edison Chen, Shawn Yue

4 de agosto de 2011

Bem-vindo ao blog Hong Kong Feelings

A vontade de compartilhar a riquíssima cultura cinematográfica de Hong Kong sempre foi grande. Ex-colônia britânica, Hong Kong  tem um cinema com peculiaridades e características únicas as quais fazem emergir uma sensação única. Ao assistir um filme feito em Hong Kong, aquele mais desavisado pode sentir estranheza com o passeio entre diversos generos ou temáticas pouco conhecidas como o submundo das tríades (organizações criminosas que se equivalem às mafias italianas), porém são esses elementos que compõe o Hong Kong feeling. Quando esses elementos se combinam perfeitamente temos um filme com uma aura própria onde é impossível comparar com outros cinemas de outros países. John Woo, Jet Li, Jack Chan, Johnnie To, Bruce Lee, Chow Yun Fat e muitos outros contribuíram ou continuam contribuindo para um dos mais facinantes cinemas do mundo.