21 de fevereiro de 2013

Days of Being Wild (Dias Selvagens/1990)

daysofbeingwild York (Leslie Cheung) seduzindo Su Li-Zhen (Maggie Cheung)

Em seu segundo filme, Wong Kar-Wai apresenta o tema que viria a ser universal em sua filmografia. Apesar de não ser tão elegante quanto In the Mood for Love ou tão envolvente quanto Chungking Express, Days of Being Wild é um filme para ser visto por qualquer fã do diretor. Porém a obra é também uma das mais inacessíveis.

A primeira parte do filme acompanhamos o triângulo amoroso. Leslie Cheung interpreta York, aparentemente um bon vivant que vive em uma Hong Kong da década de 60. Com sua beleza, ele arrebata os corações de Su Li-Zhen (Maggie Cheung) e de Leung Fung-Ying (Carina Lau). Relógios são filmados insistentemente para nos lembrar do quanto aqueles personagens sofrem com a solidão enquanto esperam pelo amor. Porém York é alguém incapaz de amar. Seu sofrimento também é causado pelo amor, no caso pela falta, mas que somente é revelado muito depois.

Certamente, o personagem York definiu a carreira de Leslie Cheung. Seu fascinante retrato da alma tortuosa e perdida de York provavelmente é sua melhor interpretação da carreira.Temos fortes atuações das personagens femininas. Maggie Cheung interpreta a tímida Su Li-Zhen enquanto Carina Lau interpreta a burlesca Leung Fung-Ying. Rebecca Pan interpreta a mãe de York, que depois descobrimos se tratar da madrasta. Andy Lau está soberbo como o policial Tide. Sem seus habituais e irritantes maneirismos, seu policial consegue ser tão fascinante quanto o personagem principal. Fazendo parte dessa salada de personagens ainda temos Jacky Cheung interpretando Zeb, melhor amigo de York.

Uma característica que falta a obra, mas presente em filmes seguintes, é a completa dissecação que Wong Kar-Wai realiza nos personagens. O diretor abusa das sequências contemplativas, mas é econômico no uso de narrações em off cujo o objetivo é de revelar não somente o que se passa na mente de cada personagem mas o estado de espírito deles. Tal distanciamento dos personagens é agravado pela total ausência de uma trama que conduza as cenas, o que é uma marca registrada do diretor, e provoca uma certa alienação exigindo um esforço maior para poder compreender as ações de cada um e suas consequências.

Days of Being Wild carece de vários elementos que fazem Wong Kar-Wai se distinguir de outros diretores artísticos. Porém há diversas sementes do que se transformaria em um estilo de direção sem igual. O filme também representa o início da parceria que duraria décadas com o diretor de fotografia Christopher Doyle. A atmosfera da obra é predominantemente depressiva. A tonalidade sombria das cenas se encaixam perfeitamente com a solidão dos personagens. Essa composição de emoções é banhada por uma trilha sonora impecável.

A cena final contendo uma aparição relâmpago de Tony Leung servia de gancho para uma sequência. Porém esta nunca aconteceu devido ao fracasso de bilheteria.

Hong Kong feelings: 3,5/5

Título original: 阿飛正傳 (Ah Fei Jing Yuhn)

Diretor: Wong Kar-Wai

Elenco: Leslie Cheung Kwok-Wing, Andy Lau Tak-Wah,Maggie Cheung Man-Yuk, Carina Lau Ka-Ling,Jacky Cheung Hok-Yau, Rebecca Pan, Tony Leung Chiu-Wai.

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