5 de outubro de 2013

Running on Karma (O Ciclo do Carma/2003)

runningonkarma Biggie (Andy Lau) e Yee (Cecilia Cheung) unidos pelo carma.

A primeira vista Running on Karma é mais uma comédia romântica de Johnnie To feita para as massas. Nas próprias palavras do diretor, filmes comerciais como Loving on Diet e Needing You são necessários para financiar projetos pessoais como The Mission e Sparrow. O par principal é estrelado pelos astros Andy Lau e Cecília Cheung. Porém a adição de Wai Ka-Fai como codiretor torna o filme uma grata surpresa que subverte completamente as expectativas.

Andy Lau é Biggie, um go go boy que faz a alegria da mulherada com seu corpo de fisiculturista. Em uma batida policial, ele acaba conhecendo a policial novata Yee interpretada pela Cecilia Cheung. Biggie sabe que uma morte terrível aguarda Yee, pois ele tem o dom de ver o carma de qualquer ser vivo. A história fica ainda mais estranha quando sabemos que antes Biggie era um monge budista, mas que abandona o seu mosteiro depois de um trágico incidente.

Os dois acabam se aproximando, e Biggie passa a questionar se é justo uma pessoa tão bondosa e inocente quanto Yee merecer um destino tão terrível por conta das atrocidades cometidas pela sua vida egressa. Contra os princípios budistas ele tenta ajudá-la a pegar um impiedoso assassino na esperança de que seja possível reverter o carma.

A trama se desenvolve entrelaçada a uma enorme mistura de gêneros. Do suspense sobre o passado de Biggie e o futuro de Yee aos elementos de ação e comédia, Running on Karma é soberbo em todos os gêneros que transita. As cenas de ação remetem aos filmes de kung fu de época fantásticos, onde Biggie escala paredes e dá saltos sobrehumanos em uma cidade moderna ao invés de uma vila medieval. O resultado é extremamente cartunesco, mas que graças a excelente coreografia fica longe de ser ridículo.

Até o final do segundo ato, temos um filme extremamente divertido e inteligente que mescla perfeitamente cenas humoradas e de ação com uma trama sobre redenção. Porém o grande trunfo do filme é que uma vez engajados emocionalmente com os dois personagens principais, no terceiro ato o filme se torna sombrio e se revela, na verdade, como um profundo drama moralista sobre autoconhecimento. Porém a falta de conhecimento prévio sobre a filosofia budista pode acabar gerando confusão nesse ponto. O carma é um dos conceitos budistas mais complicados de compreender com diversas definições e interpretações. Mas o roteiro de Wai Ka-Fai oferece uma excelente explicação que se infunde perfeitamente a narrativa.

Running on Karma é uma peculiar mistura de gêneros que desobedece quase todas as regras relacionadas a como fazer um filme pipoca, e ainda sim sucede de forma espetacular. As atuações de Andy Lau e Cecilia Cheung são excelentes. O primeiro consegue retratar muito bem o cara que tenta fazer a coisa certa mas incapaz de compreender o que é o certo. Já Cecilia Leung transmite uma doçura e inocência que nenhuma outra atriz de Hong Kong é capaz. A narrativa fluída de Johnnie To e o rico roteiro de Wai Ka-Fai, fazem do filme o melhor da parceria desses dois gênios do cinema de Hong Kong.

Hong Kong feelings: 5/5

Título original: 大隻佬 (Daai zek lou)

Diretores: Johnnie To Kei-Fung e Wai Ka-Fai

Elenco: Andy Lau Tak-Wah, Cecilia Cheung Pak-Chi, Eddie Cheung Siu-Fai, Karen Tong Bo-Yu, Chun Wong, Yuen Bun.

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